segunda-feira, junho 30, 2003

Nós é que somos a contracultura!
Segundo James Delingpole num artigo excelente no Times do passado Sábado: “If you really wanted to be countercultural now, what you’d need to do is wear tweed suits at weekends and subscribe to The Spectator and always turn down the joint when it’s passed to you at dinner parties”.
A culpa desta invulgar situação em que “the counterculture is now the culture it set out to counter”, segundo ele, é da terceira-via de Blair (ou de Guterres que neste caso dá o mesmo) que nos garante que “you can wear cheap Nike trainers while yet railing against the exploitation of Third World workers; you can sell records in shops all over the world while yet preaching against globalisation; you can protect consumers with evermore-burdensome regulations while yet maintaining a competitive economy; excellence can be for everybody”.
Depois de uma comparação curiosa com o mundo da Matrix (acordar de repente e descobrirmos que “we’ve been bamboozled into joining a corrupt, cumbersome incompetent superstate where taxes are higher and we no longer have any control of our destiny”) remata em grande estilo: “it’s time we realised once again that the System is our enemy. And I don’t mean the System that our forebears fought against in the Sixties and Seventies. I mean the smug, deluded, sanctimonious, and infinitely more dangerous Left-Liberal one they created in its stead.”
É bem, grande Jimmy!
FA
VITAMINA C: Já ouvi o álbum de estreia dos Toranja e posso dizer que são os Jorge Palma portugueses. Espera aí...
FMS
ERA UMA VEZ UNS RAPAZES: Quem ler os inúmeros destaques dados pela imprensa tradicional à emergente comunidade dos blogs, pode traçar um encorajador retrato do típico blogger português: um homem entre os 25 e os 35, eremita militante, narcisista incorrigível, hedonista diletante, que manifesta uma relutância aguda em largar o seu brinquedo novo (o blog) e crescer. Um destes dias, Nick Hornby escreverá um livro sobre nós, o qual - aplicadas as regras das probablidades à obra do senhor - dará um filme. Eu cá, vou deixando o aviso: quero o Hugh Grant no meu papel.
FMS
HISTORY REPEATING: Agrada-me a ideia de Carlos Queirós, Nelo Vingada e Luís Figo juntos, de novo, numa mesma equipa. Faz-me sentir dez anos mais novo.
FMS
DESPORTIVISMO BLOGO-ESFÉRICO:

Leio isto na Caderneta da Bola e amuo:

«Devemos confessar que ficámos algo sentidos com o epíteto de " o mais conservador dos blogs portugueses" no Quinto dos Impérios (http://noquintodosimperios.blogspot.pt).
Podemos mesmo considerar tais declarações como um tackle por trás, à margem da lei, passível de ser admoestado com a exibição directa do cartão vermelho.
Neste nosso primeiro e último post de teor político (a malta curte é bola!) afirmamo-nos, sem qualquer tipo de reservas, como adventistas do futebolismo dialético.
Esses comentários são, no fundo, a antítese que, opondo-se à nossa seminal tese, ajuda a germinar a nova aurora futebolística, a síntese revolucionária que pintará de liberdade os anais da história da bola, quais Pedros Miguéis a emergir do proletariado barreirense para o patamar das classes esclarecidas. Isso sim, nós conservamos.»


Aqui deixo as minhas desculpas, mesmo sabendo que os nossos futebolistas (não "jogadores de futebol", mas sim estudiosos do fenómeno e seguidores da corrente de pensamento conhecida por "futebolismo") entenderam a minha ode ao seu blog, não como um tackle por trás, mas antes como uma amistosa carícia cotovelar à la Paulinho Santos.

Para além do mais, não posso senão reforçar o epíteto depois de ler a homenagem sentida, em jeito de retrospectiva, ao balcânico Karoglan, na qual deparo com estas sábias palavras:

«Porquê falar de Karoglan, afinal? Razões de várias ordens, entre as quais o esquecimento a que figuras como estas (que conseguem aguentar tantos anos seguidos em Braga e ainda por cima a marcar golos) têm sido votadas, o exemplo pedagógico que este jogador pode constituir para todo o menino cujo sonho é ser o próximo Eusébio (Akwá, Edgar, Pepa: ponham os olhos no mestre!) e, por fim e porque nunca é demais lembrar, o delicioso aroma do futebol de leste e a tradição que tem vindo a cunhar, desde o início dos anos 90, nos relvados viriatos. Disso são exemplos Djukic, Zoran Ban (um jogador bigger than life que a Juventus emprestou ao Belenenses nos idos anos de 94). Milovac (o arranha-céus de Paranhos) e metade do plantel do União da Madeira, onde pontificaram a dada altura, Lepi, Jovo, Simic e o já aqui referido Jokanovic.
Venha a nós o vosso Leste...»


O respeito pela Tradição e pela Memória. A opção pelo lado que falta tomar e a defesa das posições que não ocorrem mais naturalmente (master dixit no Prefácio a'"Os Meus Problemas"). Ó meus amigos, se V. Exas. não são conservadores, não sei o que serão.

FMS

EM MEU NOME NÃO: Sou totalmente contra a referência religiosa no preâmbulo da Constituição Europeia. A União é mais uma das utopias sonhadas por minorias assombradas por um voluntarismo voraz e de todo desenraizado da realidade, uma aventura que, mais cedo ou mais tarde, acabará no caixote do lixo da História. Ou pela perversidade, ou pela nulidade dos seus efeitos. Por isso, não contem com o meu apoio para invocar o nome de Deus em vão.
FMS
PRIMEIRA AJUDA:

Há quase um ano (19 de Julho de 2002), VPV apresentava a sua explicação para a tardia pulsão taurófila que assaltava alguma esquerda:


Animais

"Nunca dei muita importância ao novo movimento de protecção aos animais. Afinal, a nossa espécie é omnívora e nós comemos enormes quantidades de carne. A não ser que nos quisesse converter todos ao vegetarianismo, a coisa não fazia sentido. Era mais uma aberração dos tempos. Mas, fosse como fosse, provocava paixões violentas. Por aqui, algumas dezenas de fanáticos ulularam na televisão e até o sr. Sócrates criticou o Presidente da República. Em Inglaterra, já se chegou ao puro terrorismo, com bombas e com mortos. Para não falar das comparações (de gente que não passa por estúpida) entre os touros de morte de Barrancos e a excisão do clítoris. Este género de loucura não podia, evidentemente, ter nada a ver com animais. E, de facto, não tem. Não me lembro de protestos em frente de aviários ou de matadouros ou de meia linha nos jornais contra a tradição da matança do porco. Essas "barbaridades" não ofendem. Ofende a tourada e, em Inglaterra, a caça à raposa. Porquê? Porque são festas de ricos: rituais que exibem a força e a riqueza dos donos da terra. Mesmo em Barrancos (sem cavalos de milhares de contos e sem grupos de forcados de "boas famílias"), os touros e os toureiros custam caro (antigamente, os latifundiários do sítio costumavam pagar a conta). No fundo, os defensores dos animais não se interessam nada pelos animais. O que eles não toleram é o símbolo de uma sociedade dividida entre grandes proprietários ociosos e trabalhadores misérrimos e, principalmente, a comunhão efémera que na tourada se estabelecia entre os dois lados. Claro que essa sociedade já morreu (e no Norte e no Algarve, nunca existiu como no Sul). Mas ficou o ódio igualitário aos "senhores". Agora, que eles vivem dos subsídios da "Europa", é uma boa altura para os humilhar."


É o tal problema de irem escasseando modalidades verdadeiramente empolgantes de coleccionar passados de luta anti-fascista... Sobram as propinas, os homossexuais, os toiros e, claro, a luta por uma "outra globalização" que, de seguro, se sabe, apenas, que será diferente desta.

Já vi esse filme:
"Man: Aha! Now we see the violence inherent in the system!
Arthur: SHUT UP!
Man: (yelling to all the other workers) Come and see the violence inherent in the system!
HELP, HELP, I'M BEING REPRESSED!
Arthur: (letting go and walking away) Bloody PEASANT!
Man: Oh, what a giveaway! Did'j'hear that, did'j'hear that, eh? That's
what I'm all about! Did you see 'im repressing me? You saw it,
didn't you?!
"

Estou farto de urbano-depressivos.

JV
DO MEU BURLADERO

Tropecei nisto: "Só não pode é esfaquear barbaramente, até à morte, touros indefesos para gáudio alarve da malta nas tardes de domingo em que não há bola." da autoria de MC, um Relativo que, segundo FN, assegura a manutenção do blog quando este não é falado nos jornais.

Como as opiniões ou experiências de um facho-bloguista devem interessar pouco ao autor de tão elegante frase, aqui fica uma pequena lista de uns quanto imbecis que se regozijam (ou regozijavam) alarvemente com o esfaquear dos indefesos animais:

Álvaro Guerra, Alves Redol, Amália Rodrigues, André Malraux, Arpad Szenes, Ava Gardner, Botero, Buñuel, Eça de Queirós (pela boca de Afonso da Maia), Eisenstein, Ernest Hemingway, Federico Garcia Lorca, Fialho de Almeida, Frédéric Mistral, Gabriel Garcia Marquéz, Goya, James Dean, James Joyce, Jean Cau, Jean Cocteau, João Soares, Jorge Sampaio, Julio Pomar, Maluda, Manuel Alegre, Miguel de Unamuno, Miró, Octávio Paz, Orson Welles, Pablo Picasso, Pablo Neruda, Rafael Alberty, Ramalho Ortigão, Urbano Tavares Rodrigues, Vera Jardim, Vitorino Nemésio, Yves Montand...


Sou levado a concordar com o sentido da prosa de MC.
Trata-se, realmente, de uma questão de cultura e de sensibilidade.

JV

domingo, junho 29, 2003

ACERCA DA SAUDADE

Aqueles claros olhos que chorando
Ficavam, quando deles me partia,
Agora que farão? Quem mo diria?
Se porventura estão em mim cuidando?

Se terão na memória, como ou quando
Deles me vim tão longe de alegria?
Ou se estarão aquele alegre dia
Que torne a vê-los, na alma figurando?

Se contarão as horas e os momentos?
Se acharão num momento muitos anos?
Se falarão c´oas aves e c´os ventos?

Oh, bem-aventurados fingimentos,
Que nesta ausência tão doces enganos
Sabeis fazer aos tristes pensamentos!

Luís de Camões


JV
QUELLE CHANCE: Sexta-feira. Uma fila monumental a caminho da Gare du Midi. Ia apanhar o Thalys para Paris. Fiz mal as contas. Cheguei 10 minutos depois da hora. Milagrosamente, o bem-fadado veículo estava à minha espera. Pensei para comigo: "sorte do caraças!". À minha volta, duas ou três pessoas olhavam estupefactas "quelle chance!", "quelle chance!"...
Foi aí que percebi. A "sorte do caraças" - fundada naquele eterno hábito luso de achar que, tal como nós, ninguém respeita horários - não é a mesma coisa que a "chance" destes gajos.
Foi mesmo uma sorte do caraças ter apanhado o comboio... Para a próxima saio mais cedo.
Ou talvez não.
JV
NÃO INVOCARÁS O SANTO NOME DE DEUS EM VÃO

Como católico que procura a salvação é, para mim, relativamente irrelevante a referência do Cristianismo no preâmbulo da Constituição. Como europeu, pelo contrário, sei que é o preâmbulo que vão dar a aprender aos meninos na escola. É a "peça" histórica, é o soundbite da constituição.

Isso é que me incomoda e ofende. Não vale a pena, já outros o fizeram melhor do que eu poderia, referir aqui o contributo do legado judaico-cristão. Os "convencionais" entenderam doutro modo. Ficamos assim todos filhos das Luzes, ao lado de outros filhos menos apresentáveis, dos pseudo-idealistas optimistas (de Rosseau a Lénine) aos pseudo-realistas pessimistas (de Maquiavel a Hitler). Ficamos todos, os europeus, filhos desta mãe.

Seria demasiado óbvio referir aqui a importância do direito natural para os direitos humanos, de Grócio a Francisco Suarez e de Vitória, das liberdades parlamentares inglesas, enquanto alguns philosophes começavam a justificar o Terror, do omni potestas Deo per populum, etc...

Mas é bom de lembrar que esta Constituição não vai ter uma edição de bolso. Não cabe. É grande de mais e vaga o suficiente, para a alegria de qualquer eurocrata. Vai caber apenas, nos manuais escolares e nos folhetos de propaganda, um preâmbulo. Demasiado curto, de vistas. Demasiado jacobino, em vez de laico.
DBH

sábado, junho 28, 2003

BLOG COIMBRÃO: Um jovem jornalista fundou um blog de homenagem a Coimbra, onde fala com orgulho incontido da Briosa, da Capital Nacional da Cultura, da Universidade, da Associação Académica, da Queima e demais instituições e idiossincracias da cidade que - lá diz o graffiti nas Letras - já não é aquilo que nunca foi. Enfim, há gostos para tudo.
FMS
QUEM ÉS TU, PIPI? Para todos os que não dispõem de uma máquina empilhadora que lhes permita comprar o Expresso e transportá-lo do quiosque para casa, aqui fica a entrevista do Paulo Querido ao Pipi, cuja entidade contunua a ser o mistério mais bem guardado da blogosfera pátria.
FMS
JMA RULES!!!

Vale a pena ler o artigo do João Marques de Almeida no Indy desta semana, onde este relaciona o "novo atlanticismo" com o surgimento de uma "nova Direita, impecavelmente democrática e liberal".

O cronista e especialista em relações internacionais participou, como convidado, nas jornadas parlamentares que o CDS-PP levou a cabo em São Miguel, tendo tido a oportunidade de comprovar in loco a emergência "de uma nova direita descomplexada, que assume com satisfação a sua posição política e se sente orgulhosa de viver num Portugal democrático e pluralista". Uma direita - diz-nos ainda o João - "que é muito mais intelectual e gosta verdadeiramente dos combates ideológicos. Isto é visível na coligação governamental e em pequenos grupos intelectuais de direita, desde colunistas de jornais a produtores de 'blogs'".

Hey, are ya talkin' to me?

FMS
SWORD OF HONOUR: A fraterna, leal e elevada troca de galhardetes entre o Pedro Mexia e o Miguel Esteves Cardoso vem provar que a direita portuguesa não fica atrás da britânica no que à gentlemanship diz respeito. Continuem, rapazes. É um orgulho ler-vos.
FMS
CARTA AOS PUROS

Ó vós, homens sem sol, que vos dizeis os Puros
Em cujos olhos queima um lento fogo frio
Vós de nervos de nylon e de músculos duros
Capazes de não rir durante anos a fio.

Ó vós, homens sem sal, em cujos corpos tensos
Corre um sangue incolor, da cor alvar dos lírios
Vós que almejais na carne o estigma dos martírios
E desejais ser fuzilados sem o lenço.

Ó vós, homens iluminados a neon
Seres extraordinariamente rarefeitos
Vós que vos bem-amais e vos julgais perfeitos
E vos ciliciais à idéia do que é bom.

Ó vós, a quem os bons amam chamar de os Puros
E vos jugais os portadores da verdade
Quando nada mais sois, à luz da realidade
Que os súcubos dos sentimentos mais escuros.

Ó vós que só viveis nos vórtices da morte
E vos enclausurais no instinto que vos ceva
Vós que vêdes na luz o antônimo da treva
E acreditais que o amor é o túmulo do forte.

Ó vós que pedis pouco à vida que dá muito
E erigis a esperança em bandeira aguerrida
Sem saber que esperança é um simples dom da vida
E tanto mais porque é um dom público e gratuito.

Ó vós que vos negais à escravidão dos bares
Onde o homem que ama ocukta o seu segredo
Vós que viveis a mastigar os maxilares
E temeis a mulher e a noite, e dormis cedo.

Ó vós, os curiais; ó vós, os ressentidos
Que tudo equacionais em termos de conflito
E não sabeis pedir sem ter recso ao grito
E não sabeis vencer se não houver vencidos.

Ó vós que vos comprais com a esmola feita aos pobres
Que vos dão Deus de graça em troca de alguns restos
E maiusculizais os sentimentos nobres
E gostais de dizer que sois homens honestos.

Ó vós, falsos Catões, chichisbéus de mulheres
Que só articulais para emitir conceitos
E pensaid que o credor tem todos os direitos
E o pobre devedor tem todos os deveres.

Ó vós que desprezais a mulher e o poeta
Em nome de vossa vã sabedoria
Vós que tudo comeis mas viveis de dieta
E achais que o bem do alheio é a melhor iguaria.

Ó vós, homens da sigla; ó vós, homens da cifra
Falsoschimangos, calabares, sinecuros
Tende cuidado porque a Esfinge vos decifra...
E eis que é chegada a vez dos verdadeiros puros.


- Vinicius de Moraes -
DBH

sexta-feira, junho 27, 2003

"Gin and cigarettes".

O FA colocou ontem uma entrada sobre a morte de Denis Thatcher. Seria fácil lembrar só que jogava golfe e que apreciava a bebida preferida da Raínha-Mãe. Mas, podemos também referir que se alistou em 1938, depois de ter assistido à chegada ao poder de Hitler. O obituário do Times, aqui tem um pequeno poema da sua autoria sobre a televisão:

The powers of Government are shrinking

As television does our thinking

And courts of law are superseded.

A TV probe is all that's needed

A trend's set is beyond revision,

The country's ruled by television

DBH
À PROCURA DOS LIVROS PERDIDOS

Sempre houve livros proibidos. Os mais difíceis de encontrar nem sempre são os que foram apreendidos pelas autoridades (o que eu lutei para comprar o "Banditismo Político"...). Os mais complicados são os que sáo retirados pelos próprios autores.

Será que alguém tem o livro "Bardos e Cavaleiros" de Luís Veiga? O autor foi pai do ex-vice-presidente da Cruz Vermelha, Dr. Miguel Veiga.
DBH
UNDER THE LISBON SKIES

Tão bom como o novo blog, foi ouvir a entrevista a Pat Metheny. Obrigado.
DBH
Sir Denis Thatcher - 1915 / 2003. RIP.
FA
OBRIGADO POR TER NOTADO
Um ouvinte, Nuno Antunes, diz agora no Fórum TSF (sobre as praxes):
"Temos de ter cuidado... há por aí um perigo, há pessoas conservadoras na nossa sociedade, todos nós, todas as pessoas informadas e mesmo as pessoas menos informadas também, temos de ter cuidado"

E depois falam em tortura... pobre Manuel Acácio.
DBH
A FAVOR DA CORRENTE: Não sei se já vos disse isto, mas adoooooooooooro o Contra-a-Corrente. E, já agora, vão aos arquivos ver de quem foi o primeiro email da história do magnífico estabelecimento do McGuffin.
FMS
E, NO ENTANTO, ELES MOVEM-SE:

Eu, que já tinha perdido qualquer expectativa em relação à possibilidade de o Partido Conservador Britânico repetir, num futuro próximo, os feitos da baronesa, vislumbro agora uma hipótese de sucesso. Deixai-me explicar: foi revelado, no início da semana, que Dougie Smith (figura proeminente na actualidade política do Reino desde que fundou o think tank "Cchange" e, a partir deste, começou a alertar para a necessidade de modernização dos Tories) é responsável por uma tal de Fever Parties, organização dedicada a preparar festins orgiásticos com muito sexo casual e troca de casais à mistura ("festins orgiásticos com muito sexo casual e troca de casais à mistura" a negrito: belo expediente para atraír leitores - Francisco, controla-me essa tua veia sensacionalista, rapaz!). O partido do homem ficou, como é óbvio, desorientado. O que fazer? Condescender com a tara e arriscar a erosão da já de si frágil base social de apoio, ou condenar vivamente o comportamento desviante e perder de vez o contacto com a realidade?

Na Spectator, Rod Liddle, que é homem para se enganar ainda mais raramente do que o Prof. Cavaco, ensaia resposta. Depois de discorrer sobre a omnipresença - qual Deus - do sexo na vida das sociedades consumistas e hedonistas contemporâneas, e de resumir o modo de funcionamento da prestação de serviços (chamemos-lhe assim) de Smith, ataca o moralismo de alguns sectores, argumentando, desassombradamente, que:

«When, exactly, did the Conservative party become the party of sexual repression? It certainly never used to be thus. In the 17th and 18th centuries it was the Whigs who, in public at least, were censorious about the sexual behaviour of individuals, in court and Parliament, as this obscene, anonymous poem from 1682 makes perfectly clear:

The King, Duke and State
Are so libelled of late
That the authors for Whigs are suspected
For women in scandal
By scribblers are damned all
To court and to cunt disaffected.


The Tories, back then, were too close to the debauched aristocracy to be anything other than relaxed about sexual shenanigans. Nor did the rise of the nuclear family and the ‘companionate’ marriage destroy the important bond between conservatism and sexual licentiousness. It is only in the last 40 or so years, it seems, that the Right has retreated into its strange sexual laager, being beastly to homosexuals and adulterers and those who, generally, have predilections which do not conform to the sorts of standards laid down by, say, that entertaining, sexually dysfunctional wacko Thomas Carlyle. (...)

(...) The irony is that censoriousness was forced upon the Conservative party by the Left when it swung behind the various liberationist struggles of the 1960s. But the Left embraced gay rights and women’s rights not out of an ideological commitment to the freedom of the individual — quite the reverse — but because they thought they were undermining the patriarchal society. In other words, they weren’t enjoying the sex; they just thought it was politically useful. Indeed, the Left has its heart in a dismal, totalitarian and very Victorian ideology which emphasises the need to restrain, confine and overcome human nature; if you doubt that, read the Communist Manifesto, and tremble. »

Eu apoio. Como qualquer conservador deveria, penso eu, apoiar.

Em primeiro lugar, é à esquerda - e às suas propostas voluntaristas de mundos perfeitos - que cabe a regulação da vida privada do indivíduo, a repressão dos seus impulsos naturais e da sua liberdade. Ao contrário do conservador - por natureza céptico em relação a leis gerais e abstractas - para a esquerda, tudo é político. Tudo - até o mais resguardado canto da privacidade - é susceptível de ser orientado por um comando externo.

Depois, e isto tem que ser dito, existe num tipo ou numa tipa de direita o reconhecimento da importância da hierarquia, mesmo quando a sua necessidade se revela circunstancial. O sexo é como o tango: alguém tem de conduzir. Com a excepção de que no primeiro pode ser a mulher a tomar a liderança das festividades. O sexo é incompatível com a democracia, e na esquerda há demasiado respeito para com o/a companheiro/a, demasiado salamaleque, demasiado rodeio, demasiado receio de ferir susceptibilidades.

Finalmente, a disposição conservadora é mais dada a estes terrenos prazeres do que se possa pensar. Ser conservador é saber que outro mundo é impossível. É saber aproveitar (e agradecer) o que está disponível, nomeadamente os pequenos-grandes prazeres da vida. É, como diz Oakeshott, preferir "present laughter to utopian bliss" .

Assim, enquanto outros se preocupam em montar piquetes de greve, em organizar comités de empresa e em partir montras, nós, pobres inúteis resignados, limitamo-nos a dar corda à líbido.

FMS (numa noite em que se sentiu um pouco mais libertário)
AGORA ESCOLHA:

«Choose Life. Choose a job. Choose a career. Choose a family. Choose a fucking big television, choose washing machines, cars, compact disc players and electrical tin openers. Choose good health, low cholesterol, and dental insurance. Choose fixed interest mortgage repayments. Choose a starter home. Choose your friends. Choose leisurewear and matching luggage. Choose a three piece suite on hire purchase in a range of fucking fabrics. Choose DIY and wondering who the fuckyou are on a Sunday morning. Choose sitting on that couch watching mind-numbing, spirit-crushing game shows, stuffing fucking junk food in your mouth. Choose rotting away at the end of it all, pishing your last in a miserablehome, nothing more than an embarassment to the selfish, fucked up brats you spawned to replace yourself»

Assim começa Trainspotting, que a RTP1 transmitiu esta noite. Já soube o monólogo de cor, tantas foram as vezes que o ouvi da boca de Ewan McGregor. Hoje em dia, dificilmente chego a meio sem um ou outro tropeção, mas, em contrapartida, percebo melhor o filme do que quando tinha dezasseis anos.

A juventude não é mais do que a vida desabitada pela tragédia.

FMS

quinta-feira, junho 26, 2003

GOSTO MUITO DE VOCÊ, LEOZINHO: Ora aqui está um bom artigo para principiantes em Leo Strauss (como o dono das iniciais aqui em baixo), um dos filósofos fétiche de Wolfowitz e malta afim. O Dr. Louçã já escreveu sobre ele. Agora, talvez pudesse dar-se ao incómodo de o ler. Para afastar os fantasmas.
FMS
QUALQUER DIA JÁ NÃO CABEMOS NUMA CABINE TELEFÓNICA: Carlos Vaz Marques, o autor e a voz do "Pessoal e Transmissível", programa da TSF que nos alivia o stress em regeressos crepusculares a casa, resolveu, também ele, subir a camisa e contemplar o próprio umbigo. Bem vindo.
FMS

quarta-feira, junho 25, 2003

100: A 25 de Junho de 1903, nascia Eric Arthur Blair. Cinquenta anos depois, morria George Orwell, um socialista da melhor casta (a dos arrependidos), um céptico em tempo de voluntarismos utopistas e um dos primeiros a dizer que os comunistas eram maus como as cobras. JMF dá-lhe os parabéns.
FMS
APERTAR O CINTO: Esta noite, a Sic Notícias repetiu o Oriente com João Botelho, onde o convidado-surpresa, Bagão Félix ( citando o seu próprio livro), sentencia que "a Felicidade não está em ter mais, mas em querer menos". Apesar da admiração e do respeito com que me habituei a ver o Dr. Bagão, devo dizer que não tenciono levar o ensinamento à prática. Embora me pareça um bom mote para futuras dietas.
FMS
P.S.: E a cama ainda por encontrar...
PERDIDO NA NOITE: Chegado ao magnífico Balticblog, dou de caras com o imperdível Oxblog ( ox de Oxford, não de boi ). Estes rapazes remetem-me para o excelente Boomshock, cujo autor, Robert Tagorda, conta aqui uma esclarecedora história pessoal como ilustração da sua oposição à Affirmative Action, sobre a qual o Supreme Court se pronunciou recentemente. Agora, se me permitem, vou ver se encontro o caminho para a cama. Até amanhã.
FMS
SAUDADES DO CHUCKY EGGS
Estive a ler o blog do amigo do FJV, o Marmelo. Não concordo com quase nada mas gostei muito do blog - Aquele grafismo fez me umas saudades do ZX Spectrum...
DBH
MAS ELE NÃO É DOS NOSSOS?
O Desejo Casar enganou-se, e reconheceu, ao escrever que o CS Lewis é (era) católico. É normal, os católicos gostam tanto de CS Lewis como os protestantes gostam de Chesterton.
DBH

terça-feira, junho 24, 2003

ROADMAP PARA ONDE?

Ontem, pedi a uma colega minha para me arranjar o número de telefone da sinagoga de Lisboa.
Com o ecumenismo de quem considera todas as confissões iguais, apareceu-me com o número da Comunidade Islâmica de Lisboa:
- "É este?"- perguntou - "Não, são os outros, no melhor caso seria Comunidade Israelita de Lisboa"- respondi eu, pensando como estamos longe da Faixa de Gaza...
5 minutos depois aparece com o número certo.. -"Perguntei aos senhores do número que eu tinha arranjado, se eles sabiam o número de telefone dos outros e eles deram-me"- disse, com simplicidade.

Pois, com estes brandos costumes é uma pena o representante da UE não ser mesmo um português.
DBH
RULE BRITANNIA (LABOUR WANTS TO):

Na Spectator desta semana, Boris Johnson fala com Matt Kelly, o chairman do Bar Council (a congénere britânica da nossa Ordem dos Advogados, pelo menos penso eu de que - help me, FA!), sobre o novo pacote legislativo com que o governo de Tony Blair pretende ingerir (perdão: intervir) no sistema judicial de Sua Majestade.

Entre outras coisas, «Kelly speaks warmly of the fusty old system by which names were put up in secret to the lord chancellor’s office. Now there is to be some new appointments commission, which will itself be appointed, no doubt, by Tony Blair. "It is of the greatest importance that those who sit on the commission must not be party political appointees, because if they are, there’s a danger that the commission will lose credibility. It would be a tragedy for Britain if we went the way of the American supreme court, where the appointing of judges is highly politicised. You should be appointed a judge purely on the grounds of merit and not on the basis of your political opinions. Our judiciary are highly respected, and I am anxious to preserve that reputation because I think it is at the heart of trust in the legal system."»

Ou seja, não há instituição secular da Velha Albion que a seita trabalhista não queira fazer sua. Primeiro, foi a colocação estratégica do sinistro Alastair Campbell (o primus inter pares dos boys) à frente do Civil Service. Agora, é a vez do exemplar sistema judicial britânico, nos seus patamares mais elevados, ficar à mercê de uma gula legiferante que lhe diz o que fazer e que desrespeita a tradição da concreta realização da justiça, em que o prudente arbítrio do julgador in casu cria direito. E tudo muito bem gizado pelo lamentável Ministro do Interior, David Blunkett.

Curiosa, porém, é a constatação de que os ataques à independência dos juízes não são um exclusivo dos socialistas portugueses. A Esquerda, quer-me parecer, é internacionalista até nos vícios.

FMS

segunda-feira, junho 23, 2003

LEI DE IMPRENSA
Só para esclarecer que o MBF que assina neste blogue, e regressou de uma "roadtrip from hell", chama-se Martim Borges de Freitas.
Um abraço Martim.
DBH
PÉROLAS BÁLTICAS


Mais duas citações do dito Blog:

"Thank goodness for Finland. It was Estonia's window on the West during Soviet times through the television signals from Helsinki (One of my students told me she learned English by watching old MacGyver episodes; she gushed, "That MacGyver -- he could make anything!" I've often wondered how people can do that -- no matter how much Russian television I watch, it still sounds like Klingon to me)."


E para provar que os países aderentes não são xenófobos:

"File under "Hmmm": A drunken Finn was run over by his own car last week.
But we wouldn't use this in any way to perpetuate Finnish stereotypes.
No, no, no, no, NO"

DBH

REFERENDO RELOADED
Este blog faz uma pergunta interessante:

TALLINN -- So what happens if Estonian voters say "no" in the September 14th European Union referendum?
That's right! According to Prime Minister Juhan Parts, Estonians will vote until they give the "right" answer.
Estonia IS no longer part of the Soviet Union, right?


WRONG! Já fazem é parte da UE, onde (como na Dinamarca e na Irlanda) alguns referendos são assim.
DBH
O CRIME DO SÉCULO

O Blogue Valete Frates (a quem dirigimos todos os leitores que aqui cheguem por causa da reportagem do Público) coloca hoje uma interessante estatística sobre os "democídios" do séc.XX.

Apesar de revelador (e a referência ao Conselho da Revolução é brilhante) é pena a escolha de datas. A Turquia, por exemplo, podia começar a contabilizar uns aninhos antes, para incluir o genocídio da Arménia (pode ver-se mais aqui). Quanto a Portugal confesso que é pura ignorância (antes que algum canhoto me acuse de revisionismo!), mas 741.000 pessoas é impressionante. Nem sei que número me pareceria correcto, mas alguém sabe como se chega a esta soma?
Respostas para oquintodosimperios@hotmail.com

DBH
NA PRATELEIRA

Vistei hoje a FNAC do CCColombo. É pior que a do Chiado, senão vejamos:

Estantes de História .. 2

Estantes de Psicologia ..2+1 (Pedagogia)+1(Ciências da Educação)

Estante de Clássicos 1 (das pequenas), em que na parte inferior se encontrava a secção Armas e Barcos. Na parte superior encontramos clássicos como Popper (vá lá, passa), um estudo sobre W. Benjamim (ainda se fosse um livro do próprio..) e um livro de Maria João Ceitil. Ora, eu não conheço Maria João Ceitil e, pelo que vi, parece-me uma obra boa de divulgação... mas nos Clássicos???

Estante de Política (1), com 10 livros 10 do alegado ensaísta Chomsky, acompanhado por 1 estudo sobre a alegada obra de Chomsky. 4 livros de Giddens e de resto os Autores são de obra única (excepção a Kissinger, 2 obras).

Estantes de Filosofia 1 (grande) + 1 (parte de uma pequena), onde se encontra, por exemplo, o livro "Vencidos do Catolicismo" de Benárd da Costa.

Será que as editoras, quando compram lugar de exposição não exigem que seja no local correcto?
DBH
VOCÊ DISSE “UMA VIAGEM COMO QUALQUER OUTRA”?


Era uma vez uma família constituída por um casal com dois filhos: uma menina de cinco anos e um menino de nove. A família vivia em Bruxelas e estávamos no ano de 2003.

O padrinho da menina, que vivia igualmente em Bruxelas, ia-se casar. Mas, ia casar-se em Barcelona, porque a sua futura esposa era de origem espanhola. Foi aquela família convidada para o casamento. Este já tinha dia e hora marcada: 31 de Maio, 18H30.

Em Bruxelas, o dia 29 de Maio, quinta-feira, era feriado. Para sexta-feira estava prometida a ponte. O fim-de-semana seria assim grande. Havia que traçar planos para ir a Barcelona.

Depois de várias conversas, propostas e desejos, ficou decidido que a família iria de carro. Foi então que o pai sugeriu aproveitar-se a ida para dar a conhecer aos mais pequenos novos locais. Ficou traçado o trajecto. Todos concordaram.

No dia 29 de Maio, às seis da manhã, estavam já dentro do carro. Direcção: Estrasburgo, passando pelo Luxemburgo. Chegados a Estrasburgo, foram visitar as instalações do Parlamento Europeu, do Tribunal Europeu dos Direitos do Homem, do Conselho da Europa. Como não podia deixar de ser, viram também a belíssima Catedral que se situa no centro da cidade e os vários canais que conferem a Estrasburgo uma beleza fora do normal. Os meninos estavam radiantes.

Partiram, depois, rumo à Suíça, via Alemanha. O tráfego na autoestrada alemã que liga Khel a Basileia era intenso. Os alemães conduziam rapidamente (na maior parte desta autoestrada não há limites de velocidade) e mudavam de faixa de rodagem sem pré-aviso. Tudo corria, no entanto, bem. Chegados à Suíça, o objectivo era fazer a marginal entre Lausanne e Genebra, que circunda o lago Leman. Foi o que fizeram, parando aqui e ali para tirar fotografias, ir à casa de banho, enfim, o normal. Antes de entrar em Genebra, o mais pequeno ficou todo contente porque viu com os seus próprios olhos a Sede da UEFA. Era ali que se decidiam muitas das coisas do futebol europeu. Os pais, esses, davam conta aos meninos de que Genebra era igualmente palco de muitas outras organizações internacionais. Finalmente, constataram que a Suíça continua igual a si própria: limpinha, organizada, civilizada.

Vinha aí o Monte Branco. Nova excitação. De novo em França, começaram então a subir o dito, passando por algumas das estâncias de Inverno mais conhecidas, como, por exemplo, Chamonix. O tempo estava bom e a neve no cume era ainda visível. À entrada do Túnel (sim, desse, onde houve aquele grande acidente), uma paragem estratégica: era preciso registar-se o momento. De máquina fotográfica na mão e … já está! Uma vez dentro do carro entraram túnel dentro: pouco mais de 12 quilómetros e já estavam no vale Aosta, em Itália. O objectivo era seguir rumo ao Mediterrâneo, passando por fora de Turim: o pai tinha lá estado há menos de um mês e achou que não valeria a pena perder-se tempo aqui. Passada Génova, seguiram na direcção do Mónaco por aquela autoestrada que tem dezenas e dezenas de túneis. A ideia era ir dormir a Nice, onde tinham reservado um quarto num hotel de uma conhecida cadeia francesa, para, no dia seguinte, irem visitar o Mónaco. A chegada a Nice deu-se por volta das 21H30. A cidade estava cheia de gente. A Promenade des Anglais, à beira-mar, apetecível. O hotel ficava nesta rua. Decidiram então ir ao hotel para fazer o check-in, antes mesmo de jantar. Terá sido a pior de todas as decisões até então tomadas. A viagem ficaria marcada por ela.

Na Promenade des Anglais, foi a família percorrendo a dita, procurando o número que correspondia ao hotel. Encontrado, encontrado o hotel, havia que estacionar o carro. Um lugar à frente da porta principal. Óptimo. Aí fora estacionada a viatura. O pai acabara de desligá-la. Portas trancadas, como sempre acontece quando os meninos acompanham os pais, preparava-se a mãe para sair do carro. Abre a porta e imediatamente a seguir começa a gritar. O pai não se apercebe imediatamente da situação. Os meninos ficam assustados. O pai, ante os gritos da mãe, vê o que se passa. Abre a porta e sai a correr, já a mãe havia saído do carro. Também ela corria. Como nunca! O objectivo era alcançar uma scooter que transportava dois larápios. Acabavam de roubar a carteira da mãe. Lá dentro, todos os documentos da mãe e dos meninos: bilhete de identidade, passaportes, cartões multibanco e visa, de eleitor, carta de condução, cartão da segurança social e até os cartões de vacinas dos meninos. Felizmente o pai tinha a carteira consigo. Como iam a um casamento, a mãe levava consigo as jóias que considerara apropriadas para o evento. E o telemóvel. E um Santo António que sempre a acompanhava. Enfim, tudo coisas substituíveis, excepto o Santo António, oferecido carinhosamente por uma tia do marido que, Deus a tenha, já não se encontra entre nós. O problema não estava, pois, nas perdas materiais. O sentimento, esse, é que era de revolta. Como é isto possível? Como é possível que dentro da União Europeia, à frente da porta principal de um hotel, que não é bera, se possa ser assaltado com este requinte, o requinte de esperarem, dois larápios, que a Senhora abrisse a porta do carro, porque as viram trancadas, para, depois, lhe roubarem aquilo que de mais pessoal ela teria? Mas, mais revoltante, foi a família verificar que estes dois ladrões, um que esperava na scooter, outro, o que agiu, depois de se meterem em cima da mota e de seguirem em sentido contrário - como parece ser norma – fugirem sem que vivalma mexesse um dedo!!! Com vários hotéis à volta deste para onde esta família se dirigia, com várias pessoas na rua a assistirem a dois adultos a correr e a gritar para que os detivessem, ninguém, mesmo ninguém, se dignou mexer um dedo para os interpelar, parar, fazer fosse o que fosse. É esta a sociedade em que vivemos. Queiramos ou não. Ficou, portanto, a família sozinha, sem a carteira da mãe e sem os bens que no seu interior se encontravam. Recorda-se que estavam em Nice, terra onde eram apenas turistas. Nada mais.

Regressam ao carro autenticamente desolados, com a consciência de que pouco mais havia a fazer. A carteira estava perdida. O seu conteúdo, “idem, idem, aspas, aspas”. O pai, numa última tentativa, pega no carro e dá a volta ao quarteirão, seguindo rumo ao comissariado da polícia. Ou pelo estado em que se encontrava a família ou por qualquer outra razão, estava difícil de encontrar este comissariado. Voltam para o hotel. Param o carro. Os meninos já estavam menos assustados. Todos ao mesmo tempo – “… trancas à porta” -, entram no átrio do hotel. O pai dirige-se à recepção e comunica: “ acabámos de ser assaltados. Queira fazer o favor de chamar a polícia”. Responde o recepcionista: “não vale a pena chamá-los porque eles não vêm cá. Têm que ser os senhores a deslocar-se ao comissariado”. O pai indignado respondeu-lhe à letra e disse-lhe: “ligue se faz favor para o comissariado que eu próprio falarei com a polícia”. O recepcionista lá ligou. O pai, constatou, então, que o recepcionista não estava completamente enganado: a polícia mostrava-se renitente. O pai insistiu usando argumentos que jamais suspeitaria ter de usar. Quinze minutos depois, dois polícias apareciam no hotel. Identificados – não fora tratar-se de dois polícias falsos -, o pai ficou com os meninos no hotel enquanto a mãe se dirigira ao comissariado da polícia de Nice para apresentar queixa. Disse a mãe que as instalações eram aceitáveis, o atendimento excepcional e o corrupio de queixosos enorme. Contou até que um alemão que apenas sabia algumas palavras em inglês ali se encontrava para se queixar de que o seu carro havia sido objecto de roubo, isto é, os vidros partidos e o que havia no interior, roubado. O senhor estava desesperado. Queria apenas um papel que provasse que havia sido roubado em Nice, porque a sua companhia de seguros, previamente contactada, trataria de tudo o resto. Mas, o alemão, sentenciara: “não pensem que virei de novo a França de férias”. Estava tudo dito. Aquelas palavras eram, no fundo, a principal preocupação da polícia local. Cada vez que um estrangeiro dizia “aquelas palavras” era o mesmo que desferir um golpe profundo no orgulho francês. Via-se bem que havia instruções das entidades superiores para que os estrangeiros roubados fossem bem tratados. O alemão tinha contudo um ar confiante, sereno: as autoridades alemãs “sur place”, depois de por ele contactadas haviam-lhe conferido algum conforto…

A mãe havia ajudado o alemão a fazer-se entender junto dos polícias franceses. O alemão agradeceu e partiu. A mãe tentava ainda obter os contactos do consulado português, enquanto respondia às perguntas que lhe iam sendo feitas. Obtidos os contactos, constata que o consulado mais próximo é em Marselha. Tenta o contacto telefónico. Em vão. Preenche o resto “da queixa”. Reclama um documento de prova de que tinha ali estado. A polícia dá-lho. Vêm-na trazer ao Hotel. Entretanto, o pai telefona-lhe. Não estava a perceber a razão de tanta demora para apresentar queixa. A mãe atende e diz-lhe que fora o alemão que provocara o atraso. O pai fica a aguardar no hotel, depois de já ter procedido ao bloqueamento do cartão do telemóvel da mãe e dos respectivos cartões multibanco e visa. O menino já dava ares de quem se alheara já do acontecimento. Reagira. A menina dizia que não conseguiria dormir nessa noite. Encontrava-se ainda assustada. Tinha cinco anos.

Chegada ao Hotel, a mãe vê que os meninos já tinham o seu banho tomado, já tinham comido “qualquer coisa para desenrascar”, estavam prontos para dormir. A mãe vai tratar de si, consciente de que mais nada havia a fazer por hoje. Foram dormir.

Dia 30 de Maio de 2003. A família, uns a seguir aos outros, acorda. Arranjaram-se e foram tomar o pequeno-almoço. Regressam ao quarto e a mãe telefona para o Consulado português mais próximo: o de Marselha. Conta o sucedido e para onde vão. De lá, respondem-lhe, pasme-se: “a senhora encontra-se em Nice, a duzentos quilómetros de Marselha e são dez e meia da manhã. Como nós fechamos ao meio-dia e meio, não poderemos fazer nada”. Indignada a mãe retorque, dizendo que é inaceitável que o consulado de Portugal não ajude uma família portuguesa que ficou sem documentos, sendo que, ainda por cima, se encontra noutro país que não o de residência. “Lamentamos muito. Mas, olhe, quando estiverem a passar a fronteira entre França e Espanha, peça ao seu marido para conduzir o carro nessa altura” – eis a resposta do consulado português de Marselha. Elucidativa!

Resta dizer que a família é a minha, a mãe é a minha mulher, os meninos, os meus filhos.

MBF
O LINDO AZULEJO...
Antes que me telefonem da Viúva Lamego, a agradecer a encomenda, e os meus co-imperialista me linchem... quero só esclarecer que aquilo do "lindo azulejo" (que sai hoje no "Público" e foi escrito num dos primeiros posts) era ironia.

Um beijinho para a MJO, desta sua casa bem portuguesa.

DBH

NEM DE PROPÓSITO!

Critiquei, neste mesmo espaço, há uns dias atrás, o facto de ao longo dos últimos anos ter faltado a Portugal – no seu conjunto - o sentido do mar. Lembrando-me do caso “Prestige” ressalvei, no entanto, não ser esta uma pecha que pudesse ser atribuível ao actual governo. Nem de propósito! É que, dois ou três dias depois, todos tivemos oportunidade de ver e ouvir o Ministro de Estado e da Defesa Nacional, a pretexto do naufrágio do “Nautile” ao largo de Cascais, produzir uma declaração segundo a qual, com este governo, se voltaria a dar a Portugal o sentido do mar. Enaltecendo-o, protegendo-o, valorizando-o. Muito bem. Que as suas palavras ressoem por Portugal fora.

MBF
ESTE TAMBÉM JÁ NÃO DEMORA MUITO: O artigo em que Pedro Rolo Duarte bate como gente grande na blogosfera mostra uma alma ressabiada, presunçosa, vaidosa e com uma apetência particular para a polémica. Ou seja, o Pedro, sem querer e sem saber, tem sangue de blogger. Vá lá Pedro, não se intimide com as hordas de anónimos sem espaço na imprensa onde destilar a sua raiva que já têm blogs. Pergunte ao Miguel como se faz. Cá o esperamos.
FMS
E A CABALA, CONSEGUIRÁ ACABÁ-LA? No último “Conversa Afiada”, Maria João Avillez revelou o especial talento do seu convidado, António Costa, para acabar puzzles de milhares de peças em tempo recorde. E se o rapaz colocasse esse ternurento resquício de infância ao serviço da sua carreira política? Não lhe seria mais fácil desvendar a cabala?
FMS

GOD SAVE THE KINKS: No dia em que o Verão começou e o futuro Rei de Inglaterra ( ou do Quénia, já nem sei ) completou vinte e uma Primaveras, foi também o 59º aniversário de Ray Davies - fundador dos Kinks, escritor das melhores canções dos sixties, inigualável trovador da quinta essência da britishness, rapaz de bons modos e responsável por inúmeras noites em claro deste que assina.

Nunca me constou que o tio Raymond tivesse lido Oakeshott, nem sequer lhe conheço qualquer exposição pública relativa aos seus credos políticos. Ainda assim, como já escrevi um dia (num e-mail enviado à Coluna Infame que o Pedro Mexia se deu ao incómodo de publicar e comentar), os Kinks são a única banda conservadora que me chegou aos ouvidos.

À época, todo o indigente abraçado a uma guitarra - viesse ele da América, de Inglaterra, da Malásia ou da Islândia - cantava a auto-estrada 66, as praias da Califórnia e a fraternidade hippie de São Francisco. Ray, pelo contrário, embalava-nos ao som do sentimento de perda e dos pequenos prazeres da vida. São de uma beleza clássica as suas deambulações sobre o quotidiano, os waterloo sunsets, as sunny afternoons, e de uma melancolia extrema as odes ao passado que já não volta mais, à infância perdida e a uma Inglaterra idílica onde todos usam bowler hats, calçam botas de rugby e vestem fatos de tweed. Um mundo de soldadinhos de chumbo de taco de cricket debaixo do braço.

Na década em que o optimismo universal foi levado à náusea, Ray Davies dedicou-se a ser um reaça à moda antiga, desdenhando as orgásmicas utopias alardeadas pelos seus contemporâneos enquanto saboreava uma half pint of bitter na companhia do pai. Afinal, como o próprio canta e “This Is Where I Belong”, “I can’t think of a place I’d rather be, the whole world doesn’t mean that much to me”.

Cheers, mate!

FMS
"E A MAIS IMPORTANTE DE TODAS É A CARIDADE..."

Segundo o alegado Alexandre Borges:
"O autor é C.S.Lewis e a obra The Four Loves - imperdível. O norte-americano escreve este livro no ano passado, à luz, já, do 11 de Setembro, e está em melhor forma que nunca. Passada a introdução, desfilam quatro ensaios a que correspondem quatro tipos e estádios diferentes do amor: o afecto, a amizade, Eros e a caridade"

Que o Clive Staples tenha escrito no ano passado, "que las hay, las hay", que tenha sido à luz, já é desagradável no estado do senhor, mas chamar assim, uma pessoa, de norte-americano??? Haja caridade.

DBH


sábado, junho 21, 2003

JÁ SÓ FALTA O JPC: A região lombar da defunta Coluna Infame está de volta ao mundo dos blogs. Chama-se Flor de Obsessão ( ou Florrr dji Obsêssão, se quisermos reforçar a inspiração rodriguesiana ) e cheira que é uma maravilha. Bem vindo Pedro.
FMS
IMPRECISÕES

JF entendeu fazer de um soundbyte menos conseguido uma polémica. Seja.

Segundo JF, eu e o Miguel ter-lhe-íamos criticado a "falta de precisão burocrática por dizer que a Nova Democracia é o primeiro partido político que não é filho do Pacto MFA-Partidos, foral socialista e revolucionário que concedeu quatro alvarás partidários nos idos de 1975.".

Salvo o devido respeito, tal afirmação encerra, ela sim, umas quantas imprecisões.

Não era exigível a JF aptidão burocrática, nem sequer precisão, apenas alguma plausibilidade nas afirmações.

Falando do seu PND e do Pacto MFA-Partidos, JF foi impreciso do ponto de vista histórico e cronológico, não do ponto de vista burocrático.

Presumo que pode ter pretendido dizer que os outros partidos pós-pacto são pormenores de génese burocrática que deslustram a sua tese do ponto de vista formal mas cujas existências seriam tão despiciendas que, de facto, estaria certo nesta sua imprecisão de quase trinta anos e que, por tudo isso, apenas agora se faria sentir, com a salvífica emergência do PND, o efeito redentor e libertador do jugo vil do dito Pacto.

Mas não foi o que disse.

Ao usar a palavra "burocrática" - termo que em nada concorre para a sua maior ou menor precisão, porque a burocracia não depende de JF, nem decorre de qualquer acção ou omissão suas - incorreu numa outra imprecisão, desta feita semântica e conceptual.

Por último, diga-se que tratar os forais e o Pacto MFA-Partidos como sinónimos não prima pela precisão jurídica. Compreensível, claro está, pela cor medieva que, em compensação, empresta ao texto. Faroladas com foralados (e quejandos). A bem da estética.

Quanto à "mera tentativa de subverter o foral a partir de despojos de percurso dos mais importantes foralados", aplicada ao PRD (e porquê apenas ao PRD?), diria que faz falta a ideia de Portugal que aos forais estava associada.

Como o JF verá à sua volta, não sou o único a pensar assim. Nem o mais original. Nem sequer o mais preciso.

De despojos está Portugal cheio. O que lhe falta são despojados verdadeiros que, felizmente, ainda não são monopólio de nenhum partido.

De percursos, cada um sabe de si. Deus sabe de todos. E de meras tentativas, também.

Para não maçar quem faz o favor de nos ler com não-assuntos deste jaez prometo que, depois desta tréplica, nada mais direi sobre tão exaltante tópico, diga JF o que disser.

JV

sexta-feira, junho 20, 2003

Uma ova. O TC declarou a inconstitucionalidade do voto por braço do ar no PCP. No entanto os estatutos do PCP ou os regulamentos internos ou lá como se chamam os documentos em causa, vá se lá saber porquê, são omissos quanto a este ponto concreto do método de voto.
Eu, que não gosto de votos por braço no ar, nem de aclamações, nem de votos de louvor ou de pesar, nem de unanimidades forjadas a contragosto, dei por mim a discordar (mais uma vez) do TC. Neste caso concreto o TC até está de mão atadas porque a CRP, na sua ânsia regulamentadora, eleva (mais uma vez) coisas absurdas ao nível constitucional e impõe a organização, funcionamento e "transparência democrática" dos partidos políticos.
Ora para mim tanto me dá se no PCP se vota de braço no ar, se no BE não se vota, se no MRPP se faz o que o Garcia diz ou se no MAN não se faz nada. O que me interessa é que na sua actuação política, que não na sua organização interna, os partidos políticos respeitem as regras do jogo e não recorram à violência, intimidação ou manipulação – a Democracia exige, porque essa é a sua essência, que um partido político não-democrático possa existir e competir com os outros em total liberdade. Democracia e liberdade sem a responsabilização plena dos cidadãos-eleitores não é possível, ainda que tal represente uma ameaça à sua subsistência. Menos que isso é menoridade política e paternalismo constitucional.
Estou curioso para ver como é que se vai impôr na prática esta decisão do TC. Cada decisão do PCP (ou doutro partido político) por braço no ar ou que não respeite o entendimento do TC daquilo que seja a “transparência democrática” é imediatamente recorrível até ao TC!!! Cheira-me que da decisão à execução (mais uma vez) vai uma grande distância.
FA
Chapéus há muitos Fui a Royal Ascot e gostei. Vi a Rainha, vi cavalos, vi chapéus... um dia bem passado. Recomendo vivamente. É a Inglaterra no seu melhor no que diz respeito à estratificação social claramente assumida e (bem ou mal) aceite por todos. Sente-se a cada passo o confronto entre old-money e new-money (no meu caso é mais no-money-at-all...). Em cada gesto a diferença entre os top-hats, os bowler hats e o simples cloth cap. Até os vestidos das senhoras e os chapéus mais exóticos revelam tendências, opiniões ou intenções mais ou menos declaradas. Só visto. In loco de preferência.
Os cavalos? Sim, também houve cavalos.
FA
A EXCLUSÃO

Pedro Bacelar de Vasconcelas comenta na TSF, neste momento, a exclusão do Cristianismo da proposta de Constituição Europeia.
Afirma este senhor que a inclusão do mesmo seria excluir outras religiões, o que não se pretende num documento como este.

Pois, mas ao incluir apenas algumas partes da história não é excluir as outras? O que será que se pretende?

Volto a esta questão logo à noite.

DBH
"SOBRETUDO, NÃO NOS EXALTEMOS..."

No seu blog, JF, comenta o meu comentário sobre o poema de Torga e a questão levantada por JV no post AD LUCEM.
JV comentará, tenho a certeza, a "falta de precisão burocrática" de JF ao nomear o PND como o 1º partido da geração pós pacto MFA-Partidos.

Quanto à poesia, escreve:
" tenho a certeza de que no fundo estará contente por Miguel Torga ter mais admiradores do que eventualmente pensava."
Tem toda a razão.

Mais ainda, o novo democrata, em resposta ao Prof. Paulo Ferreira da Cunha, comenta a "EXALTAÇÃO" deste último sobre "o facto de haver políticos que gostam de poesia."". E responde "É verdade. Há."

Há e não são poucos (Há. Também. Mais seguidores do estilo telégrafo.) Só é pena não se lembrar que sempre houve políticos que gostam ou mesmo escrevem poesia. Como Manuel Alegre (deputado e poeta), Sophia (deputada e poetisa), Vasco Graça Moura (eurodeputado e poeta e ensaísta e, e..) e Natália Correia (deputada e poetisa) entre muitos outros. Seria caso para citar os Resistência e cantar bem alto "não, não sou o único.."

Não nos auto-exaltemos por tão pouco.

DBH

PS. A memória não pode ser selectiva, na poesia como na política, assim também me lembro (e este é um caso de actualidade da história e justiça) da posição de JF na questão do perdão de penas (procurar aqui, a data e o número do diário são estes: Legislatura VII; Sessão Leg.01; Número 094; Data da Sessão 1996-07-10; Página do Diário 3232.)


SERVIÇO PÚBLICO?
O Fórum TSF de hoje é sobre as vitórias dos atletas deficientes no Europeu de Altetismo. O locutor aproveita para dizer que "é também para discutir as faltas de apoios e as desigualdades para com os portadores de deficientes".

Se ninguém tivesse ganho medalhas haveria fórum?
DBH
CÓDIGO POSTAL

Para os novos leitores, este blog é tido e mantido por Martim Borges de Freitas e João Vacas (MBF e JV, correspondentes no Reino dos Belgas), Fernando Albino (FA, no Reino Unido), Francisco Mendes da Silva (FMS no Portugal profundo) e Diogo Belford Henriques (DBH em Lisboa). Imperialismos, Impropérios e Imperiais para noquintodosimperios@hotmail.com

DBH

quinta-feira, junho 19, 2003

A QUARTA VIA: Se os desencontros de vontades e os conflitos estratégicos entre os dirigentes do PS têm motivado a chacota generalizada nesta e noutras paragens, o que dizer da heterogeneidade intelectual da agremiação? No Domingo passado, Francisco Assis, o mártir de Felgueiras, confessou no programa de Maria João Avillez as suas principais referências filosóficas. Tocqueville, Popper e Aron, diz o ex-autarca de Amarante, moldaram-no politicamente. O que, permitam-me a partilha da perplexidade, abate sobre mim a seguinte dúvida existencial: sou eu que sou socialista ou Assis enganou-se na porta?
FMS
UM BLOG DOS DIABOS

Bem vindo de volta Pedro Mexia.

"Para nos assegurarmos de que a crença no demónio é um facto histórico, basta lançarmos um olhar, mesmo rápido, sobre as civilizações"
J. Collin de Plancy, Dicionário Infernal

DBH

quarta-feira, junho 18, 2003

AD LUCEM

Oficialmente constituído o PND, JF, aoTomarPartido, lança o soundbyte de ser este o "1º partido da geração pós Pacto MFA-Partidos" que viu "a luz do dia"...

Sem querer polemizar - que o caso não é para tanto - diria apenas que, das duas uma, ou o Bloco de Esquerda, o PRD, o PRN, o PSN, o Partido Humanista, o MPT e o Partido Liberal vieram ao mundo sob o indelével signo das trevas ou a tal luz, quando os partidos nascem, é para todos.

JV
ESCONDAM AS VOSSAS FILHAS: A SIC acaba de encerrar o Jornal da Noite com uma peça assaz hilariante sobre Marylin Manson e o perigo que o rapaz representa para os valores da família tradicional. A música é particularmente repugnante e a figura grotesca. Mas o perigo, a existir, afecta somente os incautos que acreditam que ali há algo mais do que um circo de androginia e terror pensado ao pormenor para vender e épater la bourgeoisie. Chamar Manson mórbido só porque este faz morbidez profissão é o mesmo que dizer que Sheakespeare era louco só porque escreveu o King Lear. E, depois, culpar as palhaçadas do homem pela decadência civilizacional é como culpar o Oscar Wilde pela I Guerra Mundial e os Duran Duran pela Recessão.
Vamos lá ter juízo, mas é.
FMS
CRÓNICA DE UM REGRESSO ANUNCIADO: Informa-nos o Aviz que Pedro Mexia e Pedro Lomba estarão presentes no programa radiofónico do autor da mais recente coqueluche da comunidade blogger pátria, onde, segundo insistentes rumores, revelarão de que forma se consumará o regresso dos dois ex-infames à bloguice activa. É à meia-noite de hoje, na Antena 1.
FMS
A CASA DE AVIZ: Francisco José Viegas, jornalista, escritor e portista (leia-se purtista e não pórtista) compremetido, avançou, também ele, para o mundo da blogosfera, em mais um exemplo de como a qualidade dos serviços deriva, muitas vezes, do aumento da concorrência. Para os que nunca visitaram Aviz, aqui está uma belíssima oportunidade.
FMS
LÊ-LO, LELLO, É UM REGALO

Confirmando os piores receios de que a autofagia socialista tinha sido guindada a níveis nunca antes suspeitados, eis que surge Lello.
Não gosto particularmente do cavalheiro em questão, mas não deixo de assinalar a coragem que teve ao dizer alto o que muitos dos seus camaradas repetem em surdina (não vá o Panteão do Politicamente Correcto manifestar neles a sua ira).
A rendição do maior partido da (dita) esquerda à agenda de folclóricos grupúsculos ultraminoritários é tão evidente que preocupa mesmo aqueles que estão, e estarão sempre, do outro lado da barricada.
Entre Fátima (que não Felgueiras) e o FSP não tenho dúvidas. Admito que Lello as tenha. Mas, ao que parece, com dúvidas ou sem elas, percebeu onde estava realmente o tal povo com que os canhotos tanto gostam de encher a boca.

Aguardo desenvolvimentos da saga.

JV

terça-feira, junho 17, 2003

SANTA TERESINHA DO MENINO GISCARD

Regista-se mais uma apologética encíclica da esperançosa Senhora.

Continuo a não subscrever a liturgia e a não dar para o peditório.

JV

ORA ESSA, NÃO TEM DE QUÊ

Como a necessidade de marcar terreno - e de se demarcar - parece ter conquistado adeptos em locais outrora insuspeitos, informo que a expressão "temos pena" no meu post "Muito obrigado e até sempre" não vincula mais ninguém nesta humilde casa senão a mim, respeitando, como é evidente, apenas a todos aqueles que lamentam sinceramente o fim do blog em questão.

Peço desculpa por esta interrupção. A programação seguirá dentro de momentos.

JV
GABRIEL ALVES, REDUZ-TE À TUA INSIGNIFICÂNCIA: Isto de ser conservador, às vezes também chateia. Por muitas taças que ganhe - e este ano foram muitas, a bem dizer...TODAS - sou sempre invadido por este incómodo sentimento de perda, esta saudade das figuras de outros tempos, ainda que menos gloriosos. Por isso gosto da Caderneta da Bola, o mais conservador dos blogs portugueses. Segundo o Miguel Esteves Cardoso, "o único devaneio eterno é a efemeridade (...) a visão conservadora do mundo obriga-nos a tomar o lado que falta tomar". Em que outro lado podemos lembrar o golo do egípcio Abdelghani ("o Mujahedin da Ria", "o Ayatollah do Mário Duarte") no Italia'90 contra a Holanda de Gullit e companhia? E que dizer da ode ao avançado guineense Serifo, esse símbolo de amor à camisola do Leça FC: 12 épocas, 4 divisões diferentes, 105 jogos, 29 cartões amarelos, 5 encarnados e só 21 golos?
Isto do futebol português é uma fonte inesgotável de galhofa. Estes rapazes têm olho para o negócio.
FMS
ADOLFO, O BOM SELVAGEM: Prestes a chegar aos cinemas britânicos, Max está já a criar celeuma na velha Albion. Realizado por Menno Meyjes, holandês estreante nisto da direcção de actores, o filme conta a história de Max Rothman, judeu alemão regressado da I Grande Guerra, onde deixou um braço e, consequentemente, qualquer esperança de sucesso quanto a uma outrora promissora carreira enquanto pintor.

Fiel à paixão, abre uma galeria, onde afluem os novos talentos da Munique humilhada de 1918. Como um tal de Adolph Hitler, também ele um veterano da Guerra e pintor wannabe, impelido por Max a orientar as suas frustrações e misérias para a arte e não para os outros.

A tese central da obra atrai com facilidade: e se Hitler tivesse realmente suavizado as suas tendências monstruosas por influência de uma amizade com um artista sensível, abastado e judeu? Teria o Holocausto sido evitado? Nenhum conservador poderá, à primeira vista, discordar da essência da questão. O Homem é, acima de tudo, um “turista acidental” sujeito aos imponderáveis da vida. Daí a recusa veemente de modelos políticos racionalmente fechados.

Recentes entrevistas ao realizador têm mostrado, porém, uma abordagem diferente. Nas referidas, Meyjes partilha com o telespectador a revelação que foi descobrir os rascunhos de Hitler. “Ele é um de nós! É um artista!” – maravilha-se o autor, em todo o seu esplendor rousseauneano, perfeitamente convencido de que as circunstâncias exteriores – e só elas - fizeram do jovem Adolfo o malandro que se conhece.

Para Meyjes, inconsciente da dimensão estética que habita todos os totalitarismos (a procura do belo, da perfeição) e da incontornável responsabilidade pessoal que se deve exigir à acção do indivíduo, a Alemanha Nazi revelou Hitler, apesar do artista, e não Hitler, o artista.

No fundo, Adolf Hitler foi aquilo que nunca quis ser, um torcionário ressabiado pela derrota da Alemanha em 1914-18 e inevitavelmente levado a extremismos pelas miseráveis condições em que vivia.

Coitadinho.

FMS

segunda-feira, junho 16, 2003

O SERMÃO DA MONTANHA 2:

A propósito do repto lançado pela Montanha Mágica ao Abrupto e ao Linha dos Nodos e interceptado ali em baixo pelo DBH, confesso que se, por alguma razão, tivesse de salvar dez livros apenas, jamais escolheria obras pelas quais já tenha passado os olhos. Mas, pronto, that’s just me!

Por outro lado, por mais corda que dê à caixa encefálica, sou inapelavelmente incapaz de elencar rigidamente os dez mais da minha preferência.

Ainda assim, aqui ficam os livros ou os autores que, tal como o Dartacão e o Prof. Sousa Veloso, fizeram de mim o rapaz que sou:

Crime e Castigo, pois claro. (jogando com as palavras do DBH, a angústia da descoberta da angústia; a exploração das profundezas do irracional; a profundidade psicológica nunca antes alcançada; o “afinal, eu também sou capaz de matar!”; enfim, o mais político dos livros não políticos do Séc. XIX.).

Toda e qualquer linha do Wilde (a arte pela arte; o belo é fundamental; a incoerência como a mais humana das características; a observação acutilante das peças; o cinismo dos ensaios – “The Soul of Man Under Socialism”, “The Decay of Lying”, é só escolher; e, depois, “O Retrato de Dorian Gray”, lido aos 19 anos e responsável por inimagináveis dores de crescimento).

Evelyn Waugh (insuperável na Grã-Bretanha do seu século; a trilogia autobiográfica de “Sword of Honour”; o olhar sem misericórdia dos relatos das viagens à Abissínia, ao Brasil, ao Congo; a farsa de “Decline and Fall” – assustadoramente parecida com a actual circunstância aqui do yours truly; e, como é óbvio, as aventuras de Charles e Sebastian em “Brideshead Revisited”).

Da Democracia na América (o negligenciado Tocqueville naquele que é, como já alguém disse, o melhor livro jamais escrito sobre a democracia e sobre a América; impressionante a actualidade das linhas escritas por Alexis há 250 anos).

On Being Conservative (Oakeshott na melhor definição do que é ser conservador; a análise por referência ao homem e não ao político).

Reflexions on the Revolution in France (Burke a dar o pontapé de saída).

Dangling Man ( o brilhante primeiro romance de Saul Bellow, um estudo sobre um homem suspenso entre dois mundos – o civil e o militar – e sobre como, pela primeira vez na sua vida, é verdadeiramente livre).

Philip Roth (uma paixão recente, após muito e bom aconselhamento. “The Dying Animal" já foi devorado; “I Married a Communist” e “American Pastoral” estão ali a olhar para mim).

Concordo com o DBH: apesar de estar longe de conhecer os complete works do bom velho Willy Shake, a sua intemporalidade merece a posteridade.

FMS
O DIA DE LEOPOLD

A Montanha refere, gentilmente, a minha lista de dez livros a salvar; concordo absolutamente com a resposta, relativamente ao que escrevi sobre o Ulysses...

No entanto, hoje é o Bloomsday! Aquele dia que demorou sete anos a escrevinhar, 3 cidades onde escrever e 26 séculos a preparar.

Por isso: Slainte!!!
DBH
OBRIGADINHO

O Prof. Adelino Maltez comunicou o fim da Santa Liberdade.
Tenho pena. Nunca gostei do "ring and run", do provocar e desaparecer.
Gostei do estilo, "Eia eia, Sus Sus!", mas foi com pena que li o medievo cavaleiro atacar os Senhores do Prazo vizinho, em vez de um outro inimigo. Como que a marcar terreno, em vez de o conquistar.
Gostei do desprezo pela Corte, fiquei surpreendido com as intrigas por missiva.

Escreve: "Desligarei o "blog" dentro de três dias."
Pertende ressuscitar? Num novo blog, desconhecido até dos seus fieis?
DBH

MUITO OBRIGADO E ATÉ SEMPRE

O Prof. José Adelino Maltez comunicou à blogosfera o fim da Santa Liberdade!...
Temos pena.
Mais do que pena, vamos sentir-lhe a falta.
Um pedido: que reconsidere.
Um desejo: que volte depressa.
Um abraço,

JV

sábado, junho 14, 2003

SURPRESA

No dia 10 de Junho coloquei, aqui, um poema do Miguel Torga, com que o autor começa o livro Portugal.

Na altura dediquei esse post a "uma patriota de orgulho empobrecido". Pelos vistos, Jorge Ferreira, no seu novo blog coloca o mesmo poema, dois dias depois...

Bom, quero só avisar que a dedicatória era para outra pessoa.

De qualquer forma, bem vindo, Jorge Ferreira, à blogosfera portuguesa.
DBH
DELEGADOS DE PROPAGANDA MÉDICA

O Francisco, que ficou calmo perante a fúria dos amigos da Fátima, e o Mário, que deve ter o filho a ir para o congresso da Unita, são, obviamente, exemplos de calma anormal nesta família.
DBH
SAI UM PROZAC FACHAVOR!

O Eduardo descontrola-se por causa do Paulo. O Jorge irrita-se (perdão, fica veemente) por causa do Armando...
A tensão alta é, definitivamente, um problema genético na família socialista...

DBH

"A LIBERDADE E O REI"

O Prof. Henrique Barrilaro Ruas escreve num novo blog. Talvez não seja bem um blog, não é diário nem imediatista. Mas não vamos perder uma linha que seja.

O Prof. Barrilaro Ruas faz uma ligação directa da blogosfera ao pensamento tradicionalista português. Seja bem bem vindo a esta casa, se ela existe é porque alguém construiu as fundações primeiro.
DBH
O SERMÃO DA MONTANHA:

A Montanha Mágica lança o seguinte repto ao Abrupto e ao Linha dos Nodos:

"trata-se de escolher, por exemplo 10 livros (imagine-se que por um motivo qualquer, só poderíamos salvar este número). Quais os livros que não dispensaríamos?"


Apesar de não sermos os destinatários do desafio, talvez os meus co-imperialistas queiram partilhar comigo que livros escolheriam...

Eu começo com uma tentativa (1.0). O critério, para mim, é simples, são livros que aguentam e provocam leituras sucessivas. Que podem ter sempre algo mais a dar a conhecer.

1- Bíblia (O Livro!)
2- O Livro de San Michele (13 leituras and counting)
3- A montanha mágica (porque obriga a ler)
4- O Leopardo (8 and counting)
5- Confissões (de Agostinho, não JJR)
6- Crime e Castigo (não pelo thriller - afinal só demora 9 dias - mas pela angústia e descoberta)
7- D. Quixote (versão "abridge", a completa nunca consegui ler)
8- Histórias (Herédoto)
9- Shakespeare, complete works (será que vale?)
10- ... vou pensar nisto, podia escolher o Ulysses, só porque obriga a ler outros 50 livros antes de entender alguma coisa.
DBH

sexta-feira, junho 13, 2003

É SÓ PARA AVISAR: «Na verdade, a blogosfera é a mais vibrante das expressões modernas da Ágora ateniense, esse espaço público onde os cidadãos se encontravam para discutir os assuntos que a todos diziam respeito. A blogosfera é mais democrática, mais aberta, mais plural, mais interessante e mais rica do que os espaços de debate da maioria dos meios de comunicação tradicionais, mesmo os famosos fóruns de discussão radiofónicos (para não falar dos talk-shows televisivos). Na blogosfera reage-se à actualidade em cima da actualidade, e o comentário (ou "post") colocado num blog gera quase de imediato uma cascata de reacções. No tempo da blogosfera é, por exemplo, possível denunciar uma mistificação feita em torno de declarações de Wolfowitz de forma tão rápida que a notícia errada não dura senão umas horas no site do jornal inglês "The Guardian".»
FMS

BANCO DE APOSTAS: Aceitam-se apostas quanto às próximas figuras públicas a criarem os seus próprios blogs e quanto aos respectivos nomes.

Cá para mim, estes três não tardarão:

- Luís Delgado e o seu “Cut’n’Paste”
- Clara Pinto Correia, com o “Copy Paste”
- José António Saraiva e o seu estilo inconfundìvel no “Telegrama”

Todas as sugestões serão bem-vindas em oquintodosimperios@hotmail.com

FMS
A RAINHA D. AMÉLIA: Um dia destes, a D. Amélia teve oportunidade de maravilhar, com os seus insuperáveis dotes culinários, o mais-que-tudo da sua filha. Ou seja, este vosso amigo. Ia o repasto a meio, quando os presentes puderam escutar, directamente da boca da anfitriã, a mais deliciosa das teorias. Segundo a provável futura sogra aqui do escriba, uma enfermeira competente e dedicada, a reforma antecipada e a assunção a tempo inteiro das lides do lar não é uma hipótese que veria com maus olhos, compensando a perda da remuneração mensal com a desnecessidade de gastar dinheiro em empregadas domésticas e com o maior esmero com que as tarefas da casa e a educação da prole seriam levadas a cabo.

A D. Amélia é o pesadelo de toda a feminazi e o sonho de qualquer genro.

Roei-vos de inveja, ó reaças do meu país!

FMS

quinta-feira, junho 12, 2003

Club Taurino of London – Vou agora à minha primeira reunião do CTL. Paguei £30 de inscrição (mais ou menos 9 contos) e tive logo direito a um pin (bem jeitoso por sinal), uma cópia da revista publicada de dois em dois meses pelo Club (artigos bem interessantes) e um exemplar em Inglês do Regulamento Taurino (o Espanhol já se vê). Mais ficam V.Exas. informados que o CTL movimenta somas na ordem dos £12,000 por ano (cerca de 3 mil e 600 contos) e as actividades incluem viagens a Espanha, almoços e jantaradas, visionamento de corridas na televisão e palestras com matadores e ganaderos.
Peguem V.Exas. neste exemplo de uma actividade que é absoluta e totalmente marginal na sociedade Inglesa e imaginem o dinheiro e os interesses que movem por exemplo a caça à raposa ou outras actividades tradicionais em Inglaterra. É tão fácil ter influência quando há estruturas e instituições a funcionar.
Eh pá, organizem-se!
FA
A OUTRA FACE

Acabo de reler o post "Boaventura Social Club". . Ao reler, dei conta que posso ter feito um grave erro de leitura:
Ao escrever "os voyeurs do DIAP", os autores podem não se estar a referir aos investigadores do DIAP (como pensei), mas sim aos transeuntes curiosos, aos força-hermano-que-a-malta-gosta-muito-de-ti, aos jornalistas-aonde-é-que-está-a-bateria-do-gravador?-estagiários da nossa praça, aos agora-é-que-são-elas-ó-opressores-dos-famélicos-da-terra de passagem.

Se era essa a intenção do texto, como deve ser, fica aqui o pedido de desculpa aos autores. O texto anterior ("Quarto com vista para a cidade") também fica, aprendemos que peça tocada é peça jogada, mas fica com este ao pé.

Não foi cabala, foi falta de atenção! Abraços,
DBH
FALTA A PORTUGAL O SENTIDO DE MAR

É extraordinária a celeuma que está a ser criada em torno da pescas…Irrita-me isto. E porque me irrita, apetece-me perguntar:

Porque haveremos de ser contra o partilhar das águas portuguesas com “nuestros hermanos”? Porque não haveremos de abrir as nossas águas aos espanhóis se eles vão abrir as suas aos portugueses? Porque não devem os irlandeses permitir a entrada na sua “irish box” aos espanhóis e aos portugueses? Porque é que, afinal, não se comunitarizam de vez as águas “europeias”? Não foram já abertos os mercados? Não pode um português, se assim o entender, criar uma empresa em Espanha, França ou Reino Unido? Não pode um inglês, um francês ou um espanhol fundar já uma empresa em Portugal? Porque é que nas pescas não há-de ser assim? Isto é, porque é que a Comissão Europeia pode mandar numas coisas e noutras não? Porque é que o governo europeu não pode, afinal, ser coerente com o “espírito europeu”? Ou, dito de outra forma, porque é que pode haver federalismo para uma coisas e não para todas?

Não, não virei federalista. Descansem os meus amigos. Mas este é um exemplo concreto - este, sim, o das pescas -, onde se pode verificar as diferenças, grandes, entre o que se diz, o que se diz que se vai fazer e o que se diz que se faz e o que realmente se faz. A todos os níveis, a começar pelo dos eleitores.

Todos os cidadãos do nosso país sabem que a União Europeia tem vindo a caminhar para o federalismo com o beneplácito dos dois maiores partidos portugueses. Quando em eleições europeias se discute este assunto (agora, o do federalismo), os dois maiores partidos portugueses, invariavelmente, optam por dizer que não é bem assim, que essa coisa do federalismo tem muitas vertentes, muitas nuances…enfim, a hermenêutica linguagem do costume! Mas, quando toca a casos concretos, “aqui d’el rei”, porque isso é que não!

Pois é! Mas a maioria dos eleitores continua ou não a votar nos dois maiores partidos? Perguntem aos pescadores e aos armadores em que partido votaram eles nas últimas eleições europeias? Será preciso um estudo científico para se poder afirmar que na sua maioria votaram PS ou PSD? E se a questão se ficasse pelos eleitores…

No governo. No governo, vem o Ministro da pasta dizer que se demite se não conseguir os seus intentos. Percebe-se: se ganhar, poder vir cantar vitória e, se perder, já lá não estará para assumir as responsabilidades. Menos sério seria se já tivesse indicações credíveis sobre o eventual resultado final da proposta da Comissão, coisa em que me recuso a acreditar. O ponto é que dá de si mesmo uma imagem, no mínimo, discutível. Bem sei que o Ministro não ameaçou demitir-se por “dá cá aquela palha”. Mas, como em muitas outras coisas da vida, as demissões não se anunciam. De resto, já o estou a ver a anunciar a sua demissão pelo menos mais três ou quatro vezes durante o seu mandato, tantos serão os assuntos de igual dimensão a serem doravante discutidos. Imagine-se se a moda pegasse no governo: daqui até às eleições europeias do próximo ano, não faltariam anúncios de demissões. O risco seria, pois, o de transformar em palha aquilo que não o é de facto. Exige-se, por isso, serenidade, cabeça fria e a consciência de que Portugal possui ainda mecanismos para poder salvaguardar os seus interesses nacionais. Apesar de tudo, esta é a verdade. É por isso que não compreendo a atitude do Ministro. E foi por isso que apreciei a atitude do Primeiro-Ministro, cujo registo foi muito mais realista.

Rejubilarão os federalistas com a proposta da Comissão Europeia? Deviam. Mas, não. Concedo que tenham bom senso e, para além disso, consciência do que está em causa, que é só e apenas isto: se Portugal tivesse apostado neste sector das pescas, como desde sempre o deveria ter feito, dadas as nossas excepcionais características marítimas (não, não quero agora remontar ao período dos Descobrimentos, basta-me a constatação da área da nossa zona económica exclusiva), estaríamos hoje, muito provavelmente, na posição inversa. Ou seja, não nos importaríamos nada com a proposta da Comissão Europeia. Pelo contrário, defendê-la-íamos. Nós não: os federalistas. Porque teríamos uma das maiores frotas europeias. E já imaginaram o que seria entrar pelas águas espanholas adentro? Ó dádiva dos céus, virtuosa maravilha!

Mas, a realidade é infelizmente outra. Tendo embarcado sempre rumo a terra e esquecendo-nos - provavelmente a troco de alguns trocos - dos nossos interesses estratégicos essenciais, agora é vê-los a criticarem a União Europeia. Não fora a gravidade do assunto e …

Paremos para pensar. Sem dar por perdida esta causa das pescas, porque não está, pensemos por uma vez em valorizar o que temos de bom em Portugal. Por exemplo, o mar. É que ou me engano muito (o que é sempre possível) ou continua a faltar a Portugal o sentido do mar. E isto não é culpa do governo. Pelo menos, deste.

MBF
DOLCE FORUM NIENTE

Recomendo vivamente a leitura do post O futuro do fórum social da autoria de MC. Há muito tempo que não lia tão desassombrado guterrês por estas blóguicas bandas.

Não posso deixar de louvar a coragem do autor, visto que o tempo não está de modas para os cultores do estilo, e de apelar à difusão do referido texto em todos os fora, sociais ou não, portugueses ou nem por isso, que venham a realizar-se brevemente. Decerto que todos os participantes concordarão com o seu basto conteúdo.

Deixo aos nossos leitores mais impacientes este trecho de antologia:

Uma coisa é certa: para os partidos que não têm o desejo (que quando existe nem sempre é convenientemente reprimido) de instrumentalizar os movimentos sociais, nem de, pelo contrário, os menorizar; e para os movimentos e organizações que vêem nos partidos interlocutores e plataformas com capacidade de difusão de agendas políticas (e não são todos que têm essa visão estratégica), a experiência do fórum não é para esquecer. Antes pelo contrário. Independentemente do que vier a acontecer, de quem participar no próximo fsp e de quando este se realizar.

Poetry in motion...

JV

Disclaimer: Como a atmosfera blogal anda de cortar à moto-serra, desde já informo:
a) que não tenho o prazer de conhecer o autor das linhas que cito e para que remeto;
b) que nada me move contra a sua pessoa, opiniões, credo, orientação sexual, grupo étnico, paixão clubística, cor preferida, dieta, gosto musical, etc e tal;
c) que, na obediência ao credo democrático que anima este espaço, estarei na pronta disposição de - genuinamente e sem qualquer tipo de reserva mental, afianço desde já - me retratar imediata e amigavelmente de alguma afirmação considerada injusta ou injuriosa pelo visado, dispondo-me a fazê-lo em antecipação a qualquer notificação judicial para o efeito.
Disse.
QUARTO COM VISTA SOBRE A CIDADE:

Um quarto dos comentadores do País Relativo, ou seja os que estão relativamente exilados do país, comenta no post brilhantemente titulado de "Boaventura Social Club" o FSP e os movimentos sociais, assim:

"(...)essas entidades mitificadas que são em Portugal os movimentos sociais. Nós andamos pela rua e chocamos logo com um ou dois em cada esquina. São as mílicias de Francelos, os selvagens de Felgueiras, os voyeurs do DIAP."

Sendo irrelevante comentar a presença do PS e da JS nessas reuniões, fica em relevo o tom esbatido com que os relativos, de muito longe, comparam e igualam as milícias (ilegais), os selvagens (quase todos militantes do PS) e os investigadores do DIAP (da Polícia!).

Eu sei que os primeiros quiseram bater no governador civil do PS, os segundos bateram mesmo no líder distrital do PS e os últimos parece que "ouviram" o PS a bater no fundo. Mas pôr todos no mesmo saco? Bem sei que o respeito pela polícia não é grande por esse lado (remember "esta não é a minha polícia"), mas daí a chamar-lhe de voyeurs?

Durante 30 anos, crianças, à guarda do Estado, foram abusadas sexualmente e agora quem investiga os factos é que são os voyeurs?

Não sei porque ruas andam e que esquinas dobram, para chocarem logo com um ou dois, mas daqui tiro duas conclusões:
-Andamos por caminhos diferentes;
-Chocamos e ficamos chocados, também, com coisas diferentes.
DBH
São pequenas palavras destas que dizem muito.
INTERNACIONAL SOCIALISTA:

Para exorcizar os entusiasmos do Dia de Portugal, nada melhor do que meditar na afirmação bem canhota de que o mundo estaria entregue às multinacionais.

Globalizado, massificado, descaracterizado.

Tomemos o exemplo da IS, uma multinacional das pesadas.

Há que recohecer que, pelo menos, os socialistas deles não são piores que os nossos. O que é dizer pouco, é certo.

Ainda assim, por aqui se pode ver o que vem sendo o genuíno esforço dos socialistas ibéricos na adopção das "melhores práticas", tão defendidas pela UE.

Ferristas, sampaístas, soaristas e guterristas primam pelas mesmas eficácia e concórdia que vêm caracterizando gonzalistas, guerristas e zapateristas.
Deus os conserve a todos.

JV
ENQUANTO O VARA VAI E VEM, FOLGA O SAMPAIO: Vara zurze Comandante Supremo.

Presume-se já aprazada a resposta pronta (e minimamente inteligível) do nosso flagelado Supremo Magistrado para o seu próximo discurso oficial. O País sufoca de expectativa.

Já nem precisam de nós para se desentenderem. É bom ver que o PS continua o mesmo ajuntamento balcanizado de prima-donas de sempre.

Fidelidade às raízes é isso mesmo. Mudar para quê? Deixem-se estar.

Em alturas como estas, é particularmente compensador ser defensor das tradições.

JV
MMMMMM...EDITA-ME AÍ, QUE EU GOSTO! Os nossos amigos do Blog de Esquerda foi quem mais apanhou com as bombas de fragmentação que o adeus da Coluna Infame espalhou pela blogosfera. Incomodados com os comentários com que a malta do lado de cá do Muro os brindou a propósito da tempestade que eles próprios criaram, ameaçam agora, de lápis azul em riste, apagar todos os Trotskys da fotografias que lhes enviarmos.
Ó João, pensando bem, aquilo da extrema direita até é bem capaz de ter sido um elogio.
FMS
NÃO HÁ POR AÍ UM MÍSSIL PERDIDO? O Dr. Carvalhas foi a Cuba rever códigos de comportamento e refrescar a memória quanto aos procedimentos a adoptar. E o que nos conta sobre a viagem do eminente SG de São Pedro do Sul a comunicação social pátria? Que relevância encontrou quem suporta o dever de informar a paróquia e sobre ela debitar opinião nesta fugaz e envergonhada visita do líder comunista à ilha de Fidel? Ao que parece, nenhuma. Nos poucos órgãos que lhe fizeram referência, a ocasião mereceu uma meras notas telegráficas e desabitadas de juízos de valor, numa opção mascarada de isenção, mas que não consegue esconder o incómodo e a incoerência de quem ladra constantemente contra Berlusconi e Bush – esses fascistas – e, no mínimo, condescende com ditaduras assassinas como a cubana. Na verdade, a falta de vergonha do PCP só é superada pela cegueira ideológica dos jornalistas que nos servem, um rebanho profundamente ignorante e desdenhoso das noções de democracia e liberdade, para quem o depoimento, enquanto testemunha, do Dr. Portas, merece mais destaque e mais comentário do que a deslocação de um líder de um partido representado no Parlamento a Cuba, a convite do ditador sanguinário que, há décadas, oprime e obriga à pobreza, indigência e prostituição, o seu próprio povo. Uma figura que, convém lembrar, esteve não há muito em Portugal, onde foi recebido com honras de Estado, partilhando o palco do Pavilhão Carlos Lopes com saramagos, guterres e narcisos, perante o delírio colectivo de uma servil multidão de seitas várias. Talvez não seja de estranhar se Fidel for o cabeça de cartaz do próximo Fórum Social Português. Aí, também eu lá estarei. Pendurado à janela. Mascarado de Lee Harvey Oswald.
FMS
TODOS ACABAMOS POR MATAR AQUILO QUE AMAMOS:

Neste mundo de liberdade que é a blogosfera, são frequentes as vezes em que o afagar do pêlo ( o próprio e o alheio), a auto-contemplação e a masturbação intelectual tomam o lugar da discussão e da polémica em torno das ideias.

Ainda assim, o fim d’ A Coluna Infame tem sido, justamente, o tema mais debatido nos últimos dias pela comunidade blogger, orfã da sua alma mater nesta nobre actividade. Porque, na verdade, da esquerda à direita, uma fatia substancial dos blogs que a seguir à Coluna Infame surgiram, aí encontraram inspiração e um exemplo a seguir. Fomos – e ainda somos – uma espécie de colónias infames.

Existia nela uma conjugação de forças que, receio, se revelará irrepetível: a escrita irascível e o enciclopedismo estonteante do João Pereira Coutinho; a erudição, o humor sofisticado e a ambição ecuménica do Pedro Mexia; e a brilhante e surpreendente revelação do Pedro Lomba. O verdadeiro significado da curta existência da Coluna não será facilmente apreendido nos próximos tempos. Mas não andarei longe da verdade ao dizer que, tendo em conta o rasto que deixou ( do qual o No Quinto dos Impérios é só um mero estilhaço), o tempo far-lhe-á a homenagem de reconhecer que, em 2003, aquelas inúmeras linhas que acabei de arquivar n’ Os Meus Documentos desempenharam a função de O Independente de 1988. Assim como ao MEC e ao PP, à Coluna Infame devemos agradecer por ter mostrado às hordas de ignorantes que povoam a política e o jornalismo cá do burgo que existe uma direita sem preconceitos; que não discute a democracia enquanto o melhor dos sistemas dados a conhecer ao Homem; que defende as liberdades e as assume com responsabilidade; que gosta de Portugal, não por ser melhor, mais antigo ou mais bonito, mas por ser nosso; que se orgulha do passado, mas não é saudosista. E que – ó Deus! – lê livros e vai ao teatro.

Por tudo o que um dia irá significar, o fim da Coluna é ainda um labirinto incompreensível. Ainda para mais quando os três tinham razão. Aliás, o facto de toda a cadeia de acontecimentos ter sido espoletada por um post de duas linhas num outro blog, faz qualquer um espantar-se com os imponderáveis da vida e tornar-se um céptico em relação a modelos fechados e a sistemas racionais. Paradoxalmente, com o fim d’ A Coluna Infame, seremos, com mais razão, de direita.

Ao João e aos Pedros só nos resta pedir que acelerem o regresso à blogosfera, tome ele a forma que tomar. E, claro, abrir as portas da nossa casa: oquintodosimperios@hotmail.com
FMS



quarta-feira, junho 11, 2003

IDEM ASPAS: Faço minhas as palavras do DBH. Um beijinho, Papoila.
JV
O VERMELHO LÁPIS AZUL!!!
No post "O CAMINHO DA SALVAÇÃO" escrevi que não conseguia aceder aos comentários do BdE. Afinal não foi incompetência minha. Os blogueesquerdistas não gostaram dos comentários.

Por isso, porque gostam da interactividade com os leitores (mas só com respeitinho) decidiram deixar este lindo aviso à navegação:

" Mas deixamos o aviso: se o desvario persistir, tomaremos as medidas que acharmos mais adequadas (nomeadamente a edição dos comentários que ultrapassem certos limites)."

Atenção! Não é censura! É só para impedir os desvarios. Para que não se ultrapasse os limites deles!

Pois. Depois outros é que são de extrema direita não é?
DBH
PARA TI TAMBÉM!
Recebemos um beijinho da Papoila!

Porque somos democrata-cristãos, tínhamos de o partilhar. Como conservadores que somos, ficámos corados de alegria (mas como tradicionalistas não sabemos mudar o template para o mostrar). Como liberais que nos assumimos... retribuímos:
Um grande beijinho de volta!
DBH
O GENUÍNO SENHOR COMENDADOR
Ainda no BdE, o profeta Daniel queixa-se das condecorações da República, escrevendo:

UMA MEDALINHA PARA O COMENDADOR. Na hierarquia plebeia, a comenda é o grau máximo da escadaria social. Todos os 10 de Junho, alguns, hoje menos, afortunados, lá sobem ao palco, anafados e rosadinhos, e dão o peito ou o pescoço ao Presidente. E as suas vidas mudam. A partir desse dia deixam cair o “doutor”, o “engenheiro” ou até o “arquitecto”, se os tiverem, ou o humilhante “senhor”, e ganham uma nova personalidade. A telefonista esforça-se ao telefone: “o senhor comendador não pode atender”. “Comendador, carago? Mas eu queria falar com o Tó Zé!”. É um novo mundo que se alcança.
Quem julgue que lá chega facilmente, desengane-se. Há que apoiar partidos, contribuir para os vencedores e ser generoso, não pedindo mais do que uma atençãozinha: “dá uma medalhinha para o comendador”. (Daniel Oliveira)

Ó Daniel, que não gosta de hierarquias sociais, já sabíamos, que pense que ser "Senhor" é humilhante, já adivinhávamos, mas escrever isso este ano?

Recebeu a Ordem do Infante o Senhor Genuíno Madruga. Pescador do Canal, navegador solitário do mundo todo.

Só pelo nome merecia a grã-cruz. Quer coisa mais portuguesa? Num país cuja televisão nacional é raptada por um homem chamado Subtil, numa terra que fica às escuras por causa de uma cegonha... termos um pescador-marinheiro assim é poesia viva.

Este ano foi a Ordem do Infante agraciada com um genuíno Português.
DBH
O CAMINHO DA SALVAÇÃO

Escreveu o Blogue de Esquerda:
"VERSOS QUE NOS SALVAM - ESPECIAL CAMÕES. Para o BdE, hoje não é dia de Portugal. É dia de Luís Vaz de Camões."
Compreendo, há vezes que também me apetece dizer: Para o Diogo, hoje não é segunda-feira. É dia de ficar em casa. Mas não é.

Nos comentários que se seguiram, o José Mário Silva diz ainda (cito de memória porque não consigo aceder aos comentários)
que é por causa dos "fantasmas" do dia da raça. É curioso, a celebração de Camões começou por ser uma manifestação da esquerda republicana, altamente patriota, não pela genialidade da lírica mas pelo cunho nacionalista dos Lusíadas.

Para o BdE, porque não gostam de como o dia foi celebrado durante umas décadas, o 10 de Junho não é para eles!
É pena. É como se o 25 de Abril não fosse o dia da Liberdade para mim porque, durantes uns anos, prenderam pessoas sem mandato e houve "heróis" que viam o Campo Pequeno como um meio para um fim.

É uma pena por que, para mim, o dia de Portugal é o dia do que fomos e queremos vir a ser. É de todos, dos do BdE também.
Ser português é um acaso. Ser patriota é uma escolha, é o sentimento de pertença e comunidade. É um acto de amor, que se pode exprimir no acto silencioso de um voto, quando se participa na escolha do futuro. Se antes foi o dia da raça, então, mais uma razão para celebrar já não o ser.

E o orgulho? Outra palavra que a extrema esquerda visualiza só em gargantas de cabeças rapadas. O orgulho é bonito, é a alegria pelos sucessos de quem gostamos, dos pais ou dos filhos.

É engraçado ZMS esquecer que ontem também foi dia das Comunidades Portuguesas. Foi o dia de festa para quem teve que ser português no estrangeiro (às vezes é mais fácil, pode ser). Que neste dia festeja a nossa casa e a nossa língua.

Caro ZMS, essa doentia demonização do passado só permite que nacionalismos menos saudáveis apareçam como oposição. O caminho ou a salvação (que queira Deus que a encontre) não é por aí.
DBH