AMORE, AMORE...
O actual meta-debate sobre se existe, ou não, amor na blogosfera (Aviz et al) não me parece fazer muito sentido.
As referências amorosas costumam ser discretamente íntimas ou expostas, ridiculamente, em alarde. Se das segundas não temos visto muitas, encontramos, em muitos blogues, posts (inocentes, surreais para quem não entende) que só podem ser mensagens, cartas, de amor. Há quem coloque imagens para alguém, quem escreva poemas para destinatários queridos... e nós, do alto da nossa meta-bloguice, nem percebemos.
DBH
«... depois dos três impérios dos Assírios, Persas e Gregos, que já passaram, e depois do quarto, que ainda hoje dura, que é o romano, há-de haver um novo e melhor império que há-de ser o quinto e último» Padre António Vieira oquintodosimperios@gmail.com
quarta-feira, julho 30, 2003
AL FRESCO
Um dos locais mais disputados para almoçar, aqui no Chiado, é a esplanada "das freiras", com a sua vista sobre o Tejo, que fica cheio depois das 12h30.
Ao sair para a rua, com boas intenções de almoçar al fresco, deparei-me com a parede de ar quente de 39º.
Voltei rapidamente para a minha secretária, ao lado do ar condicionado, e encomendei o almoço. Hoje só almoço, como dizem os americanos, al desko.
DBH
Um dos locais mais disputados para almoçar, aqui no Chiado, é a esplanada "das freiras", com a sua vista sobre o Tejo, que fica cheio depois das 12h30.
Ao sair para a rua, com boas intenções de almoçar al fresco, deparei-me com a parede de ar quente de 39º.
Voltei rapidamente para a minha secretária, ao lado do ar condicionado, e encomendei o almoço. Hoje só almoço, como dizem os americanos, al desko.
DBH
terça-feira, julho 29, 2003
segunda-feira, julho 28, 2003
COMMUNICATION BREAKDOWN: A propósito do meu post imediatamente abaixo, o anarca constipado espirrou o seguinte:
Prof Martelo: O quinto império assinala que nenhum blog comentou os comentários do Martelo, essa verdadeira picareta falante que detesta telejornais que dão meias-hora e meias-de-leite a comentadores politicos sem cartão sindical. Eu confesso que estava dsitraído a ler as previsões do Rolando Napolitano sobre o tempo para as próximas semanas e não vi as profecias do prof.
O nosso amigo anarca percebeu que aqui o yours truly tinha ficado de alguma forma aborrecido com o facto de nenhum blogger ter comentado as brilhantes considerações do professor. Ora, o que eu quiz dizer é uma coisa completamente diferente. Que "durante" a referida performance, nenhum dos blogs que visitei teve actividade. Sinal de que os respectivos curadores estavam de olhos colados à televisão. A inferência é forçada, mas serve para ironizar o facto de todos gostarmos de gozar com o estilo categórico e patriarcal de Marcelo e com o temor reverencial com que o povão o escuta nas noites de Domingo, e, depois, todos assistirmos habitualmente às suas prelecções. Não poderá o anarca estar mais longe da verdade, se achar que idolatro a personagem em questão. Está, aliás, mais enganado do que é comum o Prof. Marcelo estar. E o certo é que o está grande parte das vezes que debita uma profecia.
Parece que tenho de arranjar um director de comunicações para me fazer entender. Talvez o Alastair Campbell já esteja disponível.
FMS
Prof Martelo: O quinto império assinala que nenhum blog comentou os comentários do Martelo, essa verdadeira picareta falante que detesta telejornais que dão meias-hora e meias-de-leite a comentadores politicos sem cartão sindical. Eu confesso que estava dsitraído a ler as previsões do Rolando Napolitano sobre o tempo para as próximas semanas e não vi as profecias do prof.
O nosso amigo anarca percebeu que aqui o yours truly tinha ficado de alguma forma aborrecido com o facto de nenhum blogger ter comentado as brilhantes considerações do professor. Ora, o que eu quiz dizer é uma coisa completamente diferente. Que "durante" a referida performance, nenhum dos blogs que visitei teve actividade. Sinal de que os respectivos curadores estavam de olhos colados à televisão. A inferência é forçada, mas serve para ironizar o facto de todos gostarmos de gozar com o estilo categórico e patriarcal de Marcelo e com o temor reverencial com que o povão o escuta nas noites de Domingo, e, depois, todos assistirmos habitualmente às suas prelecções. Não poderá o anarca estar mais longe da verdade, se achar que idolatro a personagem em questão. Está, aliás, mais enganado do que é comum o Prof. Marcelo estar. E o certo é que o está grande parte das vezes que debita uma profecia.
Parece que tenho de arranjar um director de comunicações para me fazer entender. Talvez o Alastair Campbell já esteja disponível.
FMS
domingo, julho 27, 2003
UM AMERICANO EM PARIS: Esta tarde, um americano do Texas conquistou Paris e marchou, triunfal, pelos Campos Elísios. A França corou de vergonha.
FMS
FMS
DUBLIN, CALIFORNIA: Não sei, sinceramente, como pode alguém passar o Verão sem os Thrills: o pôr-do-sol das praias da Califórnia e os amores fugazes da adolescência perdida cantados por cinco imberbes irlandeses com um especial talento para colocar os Beach Boys, os Byrds, Gram Parsons, Neil Young e Burt Bacharach todos no mesmo saco. Nunca as dores de crescimento foram tão fortes.
FMS
FMS
AUREA MEDIOCRITAS: De quando em vez, família, amigos e colegas deixam caír um ou outro comentário paternalista acerca da minha carreira universitária. Tanta inteligência, capacidade de trabalho e criatividade entregues à mediania. Agradeço os elogios e a condescendência, mas não alinho na tese da oportunidade perdida. O meu percurso académico é o reflexo da disposição conservadora com que me fiz ao mundo. Não anseio, senão pelo que me está disponível, pelo que me é alcansável, pelo que me é necessário. Não me sinto comfortável, senão rodeado pelo suficiente, pelo conveniente e pelo que conheço com segurança. Oakeshott conhecia-me bem: "to acquire and to enlarge will be less important than to keep, to cultivate and to enjoy", dizia, com razão, o professor inglês. Entendam: com a parcimónia e frugalidade do estudo, não pretendo ser o Alberto Caeiro da Academia. Ela é apenas o resultado de uma cuidada ponderação dos riscos envolvidos. É a minha táctica para não acabar como o Prof. Vital Moreira.
FMS
FMS
A SILLY SEASON DA BBC: Qualquer conservador entristece quando assiste à decadência das instituições cuja inquestionabilidade lhe comforta a existência. Perante as exasperantes e reiteradas tentativas da BBC em imitar a Al-Jazeera, Mark Steyn, escrevendo no Telegraph, prefere a ironia. Mais um artigo de antologia do menos ortodoxo dos canadianos.
FMS
FMS
sexta-feira, julho 25, 2003
UMA VITÓRIA ANUNCIADA: A Spectator e o Channel 4 levaram a cabo o primeiro estudo de opinião relativo ao estado de espírito do povo iraquiano, três meses após o derrube do regime torcionário de Saddam. Em face da insegurança que alastra e da resistência de alguns fanáticos esperançados num regresso ao passado, os apoiantes da intervenção de Março/Abril em geral, e os editorialistas da Speccie em especial, tremeram com o que poderiam vir a ser os resultados. Não percebo a razão de tanto receio. Afinal, os iraquianos foram convidados a dizer o que pensam, livremente, numa sondagem. Lá de onde eu venho, chama-se a isto uma vitória.
FMS
FMS
A REFERÊNCIA INCONTORNÁVEL: Nesta história da morte do Dr. Kelly, há o lado da BBC e o de Tony Blair. Eu escolho o do Valete Fratres!
FMS
FMS
quinta-feira, julho 24, 2003
SILLY SEASON: Nunca percebi muito bem de que falavam os outros quando falavam da silly season. Até ao momento em que entrei para a Universidade e, devido a inevitáveis épocas de exames em Setembro, tive de abandonar as brisas ternurentas e o sol envergonhado dos fins de tarde de letargia à beira-mar para afocinhar em pesadas e poeirentas inutilidades académicas.
FMS
FMS
O GENTLEMAN DA ACADEMIA
Estas férias estou seriamente empenhado em evitar a rotina estupidificante da silly season. Abasteci-me de quantidades massivas de Isaiah Berlin, autor que não conheço o suficiente, e lá vou, com o resto do rebanho, para Sul.
Antes de chegar, foram já devorados alguns ensaios e vários textos sobre a vida e obra do filósofo inglês. E, posso dizer, é adição de que não me livrarei tão cedo. Sir Isaiah é a personificação da noção que John Henry Newman deu da Universidade: "um lugar onde o inquérito é promovido, e descobertas verificadas e aperfeiçoadas, e a rudeza tornada inócua, e o erro exposto, pela colisão de mente com mente e conhecimento com conhecimento". Berlin não indica um caminho, não propõe uma ética, não se diz dono da verdade. (aliás, "a" verdade é coisa que diz não existir). Mas a sua curiosidade escrutinadora, a sofreguidão com que anseia pelo conhecimento e a simplicidade com que reduz a escrito a complexidade das suas considerações acerca do Homem e da sua condição reservam-lhe um lugar no panteão dos maiores.
Em Berlin, as ideias ganham vida. Alguma delas aproximam-se mesmo da luz como nunca antes, perdidas que estavam para lá da correcção académica, do aceitável pelo mainstream da intelligentsia ocidental. Porventura fruto de um percurso biográfico inicial deveras atribulado (nascimento na Letónia, infância na Rússia revolucionária) e da gentelmanship que em Oxford lhe foi injectada no sangue, o professor não embarca em dogmas e trata com a mesma abertura de espírito todas as correntes e todos os autores, quer os que lhe são próximos, quer os de que discorda. Sim, porque Berlin - e isto raramente se pode dizer de um académico - não concorda totalmente nem discorda ardentemente de todas as ideias que analisa.
Berlin não é, ainda assim, um relativista. Sabe bem qual o seu caminho. Se fosse homem para o impôr à força ao seu semelhante, teria mais legitimidade para o fazer do que aqueles que o fizeram com os trágicos resultados que conhecemos. Porque a sua escolha não foi cega. Porque poucos sujeitaram a tão rigoroso escrutínio as próprias convicções. Antes de mais, Sir Isaiah é um ilumunista. Acredita, muito mais do que Oakeshott, que a Razão tem poderes para produzir a solução de inúmeros problemas sociais. Mas não leva o ideal platónico às últimas consequências, examinando-o implacavelmente, primeiro perante a experiência, a concreta aplicação que dele se fez historicamente, e depois em face das ideias que com o mesmo entram em confronto. As falhas e os perigos do pensamento de Marx, Hegel ou Condorcet são identificados ao pormenor, nomeadamente a ilusão de que "a" solução definitiva é alcançável e que, por tornar a Humanidade perfeita, justa, criativa e harmoniosa para todo o sempre, nenhum preço é demasiado alto para a pagar. Para isso, Berlin recorre ao estudo aprofundado e livre de preconceito de um leque impressionante de autores, alguns bem mais recomendáveis do que outros, desde os radicais russos como Herzen ou Bakunin aos reaccionários da estirpe de Joseph de Maistre e Hamman, passando obrigatoriamente pelos anti-racionalistas moderados como Vico ou Herder.
Quando nos achamos no meio de todo este enciclopedismo, é difícil destrinçar que tipo de ética nos é proposto por Isaiah Berlin, para além de uma disposição avessa a extremos e a construções abstractamente fechadas. Como professor de Teoria Política, não era tanto isso que pretendia, mas sim oferecer a alunos, investigadores e curiosos a matéria necessária a uma escolha em liberdade (o valor que tanto amava).
Escrevendo e investigando sobre a história das ideias políticas, esperava que o leitor ficasse sensibilizado para algumas delas. E que cada um escolhesse livremente o seu lado. Com o que não contava era com o facto de, feitas as contas, a maioria dos que ainda hoje o lêem o escolhessem a si.
FMS
Estas férias estou seriamente empenhado em evitar a rotina estupidificante da silly season. Abasteci-me de quantidades massivas de Isaiah Berlin, autor que não conheço o suficiente, e lá vou, com o resto do rebanho, para Sul.
Antes de chegar, foram já devorados alguns ensaios e vários textos sobre a vida e obra do filósofo inglês. E, posso dizer, é adição de que não me livrarei tão cedo. Sir Isaiah é a personificação da noção que John Henry Newman deu da Universidade: "um lugar onde o inquérito é promovido, e descobertas verificadas e aperfeiçoadas, e a rudeza tornada inócua, e o erro exposto, pela colisão de mente com mente e conhecimento com conhecimento". Berlin não indica um caminho, não propõe uma ética, não se diz dono da verdade. (aliás, "a" verdade é coisa que diz não existir). Mas a sua curiosidade escrutinadora, a sofreguidão com que anseia pelo conhecimento e a simplicidade com que reduz a escrito a complexidade das suas considerações acerca do Homem e da sua condição reservam-lhe um lugar no panteão dos maiores.
Em Berlin, as ideias ganham vida. Alguma delas aproximam-se mesmo da luz como nunca antes, perdidas que estavam para lá da correcção académica, do aceitável pelo mainstream da intelligentsia ocidental. Porventura fruto de um percurso biográfico inicial deveras atribulado (nascimento na Letónia, infância na Rússia revolucionária) e da gentelmanship que em Oxford lhe foi injectada no sangue, o professor não embarca em dogmas e trata com a mesma abertura de espírito todas as correntes e todos os autores, quer os que lhe são próximos, quer os de que discorda. Sim, porque Berlin - e isto raramente se pode dizer de um académico - não concorda totalmente nem discorda ardentemente de todas as ideias que analisa.
Berlin não é, ainda assim, um relativista. Sabe bem qual o seu caminho. Se fosse homem para o impôr à força ao seu semelhante, teria mais legitimidade para o fazer do que aqueles que o fizeram com os trágicos resultados que conhecemos. Porque a sua escolha não foi cega. Porque poucos sujeitaram a tão rigoroso escrutínio as próprias convicções. Antes de mais, Sir Isaiah é um ilumunista. Acredita, muito mais do que Oakeshott, que a Razão tem poderes para produzir a solução de inúmeros problemas sociais. Mas não leva o ideal platónico às últimas consequências, examinando-o implacavelmente, primeiro perante a experiência, a concreta aplicação que dele se fez historicamente, e depois em face das ideias que com o mesmo entram em confronto. As falhas e os perigos do pensamento de Marx, Hegel ou Condorcet são identificados ao pormenor, nomeadamente a ilusão de que "a" solução definitiva é alcançável e que, por tornar a Humanidade perfeita, justa, criativa e harmoniosa para todo o sempre, nenhum preço é demasiado alto para a pagar. Para isso, Berlin recorre ao estudo aprofundado e livre de preconceito de um leque impressionante de autores, alguns bem mais recomendáveis do que outros, desde os radicais russos como Herzen ou Bakunin aos reaccionários da estirpe de Joseph de Maistre e Hamman, passando obrigatoriamente pelos anti-racionalistas moderados como Vico ou Herder.
Quando nos achamos no meio de todo este enciclopedismo, é difícil destrinçar que tipo de ética nos é proposto por Isaiah Berlin, para além de uma disposição avessa a extremos e a construções abstractamente fechadas. Como professor de Teoria Política, não era tanto isso que pretendia, mas sim oferecer a alunos, investigadores e curiosos a matéria necessária a uma escolha em liberdade (o valor que tanto amava).
Escrevendo e investigando sobre a história das ideias políticas, esperava que o leitor ficasse sensibilizado para algumas delas. E que cada um escolhesse livremente o seu lado. Com o que não contava era com o facto de, feitas as contas, a maioria dos que ainda hoje o lêem o escolhessem a si.
FMS
O PROCESSO
Não quero referir o processo Casa-Pia, antes ao que o dr. Ferro Rodrigues se sujeita pela publicidade negativa que está a fazer à Nokia.
Vejamos, nos últimos dois dias o secretário-geral do PS aparece nas nossas televisões, em prime time, a exibir nas nossas caras o seu telemóvel. No Correio da Manhã de hoje aparece mesmo uma fotografia na primeira página com Ferro a esfregar o Nokia na câmara do reporter...
...Ora isto dá cabo de qualquer estratégia de imagem e comunicação de qualquer multinacional... Não é pelo facto de esse dito telemóvel ter sido escutado 1800 vezes, é por ser do Ferro.
Apartir de ontem há centenas de pessoas que passam a ter um "telemóvel como o do Ferro": O neto que deu um Nokia à avó arrepende-se, a namorada tem vergonha de atender a chamada, qualquer engate cai por terra perante a visão do telemóvel.
Isto não me parece justo. As multinacionais gastam muito dinheiro a fazer campanhas de publicidade e depois, num só dia, cai tudo por terra. E as pessoas? Temos que pensar no sofrimento que isto pode causar.
DBH
Não quero referir o processo Casa-Pia, antes ao que o dr. Ferro Rodrigues se sujeita pela publicidade negativa que está a fazer à Nokia.
Vejamos, nos últimos dois dias o secretário-geral do PS aparece nas nossas televisões, em prime time, a exibir nas nossas caras o seu telemóvel. No Correio da Manhã de hoje aparece mesmo uma fotografia na primeira página com Ferro a esfregar o Nokia na câmara do reporter...
...Ora isto dá cabo de qualquer estratégia de imagem e comunicação de qualquer multinacional... Não é pelo facto de esse dito telemóvel ter sido escutado 1800 vezes, é por ser do Ferro.
Apartir de ontem há centenas de pessoas que passam a ter um "telemóvel como o do Ferro": O neto que deu um Nokia à avó arrepende-se, a namorada tem vergonha de atender a chamada, qualquer engate cai por terra perante a visão do telemóvel.
Isto não me parece justo. As multinacionais gastam muito dinheiro a fazer campanhas de publicidade e depois, num só dia, cai tudo por terra. E as pessoas? Temos que pensar no sofrimento que isto pode causar.
DBH
terça-feira, julho 22, 2003
A Kafka o que é de Kafka
O Pedro Adão e Silva faz suas as palavras de Augusto Santos Silva em defesa da inocência de Paulo Pedroso e apresentado-o como a vítima da sua própria honestidade e seriedade. Apresenta-se uma pessoa à Justiça de livre vontade, sem fugir, “sem qualquer artifício ou privilégio” par logo ser crucificado vítima do “populismo rasteiro” de figuras de “topo das magistraturas”.
Já aqui abordei esse tema (21 Maio) e alertei para o perigo a que as insinuações de “cabala” e “golpada” podem levar. As críticas ao “sistema” que vão sendo feitas fazem lembrar (salvaguardadas as diferenças que há e são muitas) a imprensa desportiva e as críticas à arbitragem. Muita crítica ao adjectivo sem se ir ao substantivo.
Em defesa de ambos convém dizer que reconhecem a incapacidade de “arredar a emoção” e a amizade com o Paulo Pedroso e, agora digo eu, muitas das opiniões expressas serão porventura movidas mais pelo coração que pela razão.
Volto no entanto ao ponto que entendo essencial: expressões como “escaninhos da lei” e “golpaça”, a defesa da ideia de que o sistema judicial procura “por todos os meios” manter Paulo Pedroso preso e de que tal sistema mais não é que um “labirinto em que ninguém sobrevive sem truques”, são afirmações demasiado graves para se justificarem com a amizade ou a emoção do momento. Não por serem irreflectidamente discutidas à mesa do café mas justamente pelo contrário, por serem cuidadosamente elaboradas e apresentadas à opinião pública como sendo desabafos do momento.
Aquilo que o Augusto Santos Silva e o PAS habilidosamente fazem é extrair da presunção de inocência de que o Paulo Pedroso obviamente deve sempre beneficiar a presunção de incorruptabilidade de uns (PGR, Presidente, Presidente da AR ou Bastonário da OA). Isto ao mesmo tempo e com o mesmo à vontade com que presumem a repugnância de outros (Durão Barroso) e as intenções inenarráveis (porque nunca as identificam) de essoutros (magistrados, juízes e demais eminências pardas do “sistema”).
No fundo tudo se passa como se não houvesse processo judicial. Cada um (juízes incluídos) com as suas opiniões pre-concebidas e prosseguindo os seus objectivos (políticos, económicos, etc.) como sempre. Business as usual. O “processo” é pois tudo mas no fundo não é nada.
Por mais degradante que seja a situação em que o Paulo Pedroso se encontra não sei porque será mais ou menos degradante que a situação de tantos outros presos preventivos que estão tão inocentes até prova em contrário como ele (o instituto da “prisão preventiva”- aí está um tema que merece ser discutido).
Não sei na realidade porque estará preso o Paulo Pedroso (saber-se-á por certo no fim do processo) mas sei que não é por ser ou deixar de ser político deste ou daquele partido como nos querem dar a entender.
Não sei se o Estado de Direito em Portugal está em crise e se caminhamos para a “burundização” do país mas acho que, obviamente sujeito aos erros a que justiça humana nunca está imune, temos em Portugal hoje um sistema judicial francamente mais isento e garantístico do que há 15 ou 30 anos atrás.
Aquilo que sei de certeza é que o Paulo Pedroso tanto mais virtude terá quanto souber manter a dignidade perante a injustiça de que eventualmente está a ser alvo. Essa manifestação da seriedade e integridade que todos lhe reconhecem é o seu melhor penhor de inocência. Não a reacção emotiva. Não a fuga para a frente. Não o subterfúgio, o esquema ou a ameaça.
Quanto ao “Processo” do Kafka, mais do que a luta de um cidadão contra o Estado (ou o sistema se quisermos) aquilo que me inspira “O Processo” é a angustia do indivíduo face a uma comunidade (qualquer que ela seja) que o ostraciza, que o classifica, que acaba por subjugar, pedaço a pedaço, a sua individualidade irrepetível.
FA
O Pedro Adão e Silva faz suas as palavras de Augusto Santos Silva em defesa da inocência de Paulo Pedroso e apresentado-o como a vítima da sua própria honestidade e seriedade. Apresenta-se uma pessoa à Justiça de livre vontade, sem fugir, “sem qualquer artifício ou privilégio” par logo ser crucificado vítima do “populismo rasteiro” de figuras de “topo das magistraturas”.
Já aqui abordei esse tema (21 Maio) e alertei para o perigo a que as insinuações de “cabala” e “golpada” podem levar. As críticas ao “sistema” que vão sendo feitas fazem lembrar (salvaguardadas as diferenças que há e são muitas) a imprensa desportiva e as críticas à arbitragem. Muita crítica ao adjectivo sem se ir ao substantivo.
Em defesa de ambos convém dizer que reconhecem a incapacidade de “arredar a emoção” e a amizade com o Paulo Pedroso e, agora digo eu, muitas das opiniões expressas serão porventura movidas mais pelo coração que pela razão.
Volto no entanto ao ponto que entendo essencial: expressões como “escaninhos da lei” e “golpaça”, a defesa da ideia de que o sistema judicial procura “por todos os meios” manter Paulo Pedroso preso e de que tal sistema mais não é que um “labirinto em que ninguém sobrevive sem truques”, são afirmações demasiado graves para se justificarem com a amizade ou a emoção do momento. Não por serem irreflectidamente discutidas à mesa do café mas justamente pelo contrário, por serem cuidadosamente elaboradas e apresentadas à opinião pública como sendo desabafos do momento.
Aquilo que o Augusto Santos Silva e o PAS habilidosamente fazem é extrair da presunção de inocência de que o Paulo Pedroso obviamente deve sempre beneficiar a presunção de incorruptabilidade de uns (PGR, Presidente, Presidente da AR ou Bastonário da OA). Isto ao mesmo tempo e com o mesmo à vontade com que presumem a repugnância de outros (Durão Barroso) e as intenções inenarráveis (porque nunca as identificam) de essoutros (magistrados, juízes e demais eminências pardas do “sistema”).
No fundo tudo se passa como se não houvesse processo judicial. Cada um (juízes incluídos) com as suas opiniões pre-concebidas e prosseguindo os seus objectivos (políticos, económicos, etc.) como sempre. Business as usual. O “processo” é pois tudo mas no fundo não é nada.
Por mais degradante que seja a situação em que o Paulo Pedroso se encontra não sei porque será mais ou menos degradante que a situação de tantos outros presos preventivos que estão tão inocentes até prova em contrário como ele (o instituto da “prisão preventiva”- aí está um tema que merece ser discutido).
Não sei na realidade porque estará preso o Paulo Pedroso (saber-se-á por certo no fim do processo) mas sei que não é por ser ou deixar de ser político deste ou daquele partido como nos querem dar a entender.
Não sei se o Estado de Direito em Portugal está em crise e se caminhamos para a “burundização” do país mas acho que, obviamente sujeito aos erros a que justiça humana nunca está imune, temos em Portugal hoje um sistema judicial francamente mais isento e garantístico do que há 15 ou 30 anos atrás.
Aquilo que sei de certeza é que o Paulo Pedroso tanto mais virtude terá quanto souber manter a dignidade perante a injustiça de que eventualmente está a ser alvo. Essa manifestação da seriedade e integridade que todos lhe reconhecem é o seu melhor penhor de inocência. Não a reacção emotiva. Não a fuga para a frente. Não o subterfúgio, o esquema ou a ameaça.
Quanto ao “Processo” do Kafka, mais do que a luta de um cidadão contra o Estado (ou o sistema se quisermos) aquilo que me inspira “O Processo” é a angustia do indivíduo face a uma comunidade (qualquer que ela seja) que o ostraciza, que o classifica, que acaba por subjugar, pedaço a pedaço, a sua individualidade irrepetível.
FA
O SALVADOR: Na recente reunião de líderes da Terceira Via que Tony Blair organizou em Londres, o Prof. Giddens teve oportunidade de expôr as linhas gerais da renovação da sua doutrina híbrida. A estrela do evento, porém, foi um tal de Luís Inácio da Silva, em quem os convivas fixaram olhares arregalados, como se de uma experiência científica se tratasse, uma derradeira tentativa de salvar do ridículo toda uma geração. Perante isto, todas as construções ideológicas em torno do aprofundamento da esquerda no seio de uma sociedade capitalista são exercícios de estilo sem especial conteúdo ou substância. É que, bem lá no fundo, toda a esquerda actual - seja festiva, radical ou moderada - está já para lá da esquerda e da direita. Não é carne. Não é peixe. É Lula.
FMS
FMS
segunda-feira, julho 21, 2003
SALVE VOCÊ TAMBÉM UM ISAIAH BERLIN: Passeando por entre as estantes da Fnac do Chiado, algo de muito estranho capturou a minha atenção: um Isaiah Berlin entre um Chomsky e um Ramonet. Um Isaiah Berlin entre um Chomsky e um Ramonet?! Mistério insondável. Recordo o alfabeto. Be entre Ch e Ra?! A habitual competência e zelo dos funcionários da loja afastaram desde logo a tese do erro humano. Não parecia restarem dúvidas. Havia dedo maldoso na situação. O como os senhores Noam e Ignacio se aproximaram de Sir Isaiah, ignoro-o de todo. Pelo sim pelo não, peguei nele (no Russian Thinkers - alguns ensaios repetidos, mas, what the heck!, a causa era nobre), acolhi-o debaixo do braço e afastei-me em passo apressado. Não sem antes lançar, por cima do ombro, o meu olhar à Schwarzenegger que não treino desde o tempo do Terminator II. E juro que vi a esquerdalha que se acotovelava nas estantes de Filosofia, Sociologia e Ciência Política começar a suar e a tremer só com aquele meu "I´ll be back". Na passada sexta-feira, sem incómodo de maior, salvei um Isaiah Berlin. Porque não faz o mesmo o amável leitor?
FMS
FMS
REAÇAS DE TODO O MUNDO UNI-VOS!
Em tempos idos, os bairros típicos de Lisboa (Bairro Alto excluído há muito) eram o refúgio predilecto do provinciano que, por razões de diversa ordem, se via obrigado a descer ao encontro das tágides.
Chegava-se à capital, fazia-se o que se tinha a fazer e, mal a oportunidade espreitava, escalavam-se as colinas em ritmo urgente e sôfrego, em busca da taberna mais recôndita e apartada da cidade que lá em baixo fervilha. A cidade que avança a um ritmo impossível de acompanhar. A cidade que pensa mais rápido. Que nos ilude com estonteantes golpes de rins. E que nos deixa inapelavelmente de rastos, entregues à frieza do pavimento e à náusea do progresso (Sartre, por aqui?!).
Nos bairros típicos não. Aí tudo era diferente. Atravessávamos o espelho e voltávamos a casa. Aproximávamo-nos do balcão, pedíamos um pastel de bacalhau, escutávamos o taxista da mesa do fundo zurzir em tudo o que mexesse (de preferência em políticos), sorríamos com o comentário marialva e homofóbico do dono do estabelecimento enquanto servia um refrigerante sem gás a um turista escandinavo de aspecto efeminado e colocavamo-nos a par de teorias reaccionárias a propósito de tudo um pouco. Enfim, sentíamo-nos em casa.
Não mais isso acontece, temo dizê-lo. Sexta à noite. Três amigos arrastam-me Alfama acima. Destino: Tejo Bar (ou qualquer coisa assim). A esquerda festiva em versão estabelecimento comercial de convívio nocturno. As paredes com quadros alusivos ao MFA. Livros poeirentos sobre manifestações artísticas de vanguarda, sexualidades alternativas e tácticas de pequeno-terrorismo urbano. Um dono que faz lembrar o Vicente do Sítio do Pica Pau Amarelo. Trinta metros quadrados -não mais- de gente com relações conflituosas com o sabão. Desconhecimento total de uma invenção chamada "ar condicionado". Música ao vivo interpretada por dois espécimes da seita com base num vastíssimo reportório que ia de Chico Buarque a Caetano Veloso, passando por Chico Buarque, Caetano Veloso e versões de outros standards com letra dedicada aos senhores Bush e Blair. Diálogos ociosos e discussões ardentes em línguas variadas. Muito amor livre, fraterno e multicultural para dar (e vender?).
Ali - vi eu com estes dois que a terra há-de comer - outro mundo foi possível. E, acreditem, não é mundo que se recomende.
Estavam já os convivas em estado galhofeiro avançado, preparando-se para - sei lá - uma coboiada em larga escala (o meu amigo e correlegionário Tiago Pinhel alertou-me para essa possibilidade), quando fui de novo arrastado dali para fora. No caminho para o carro, o grupo em que me incluía foi de súbito interpelado por uns sons (familiares e estranhos ao mesmo tempo) que enchiam Alfama vindos da janela aberta à nossa frente. Uma cama rangia. Duas pessoas gemiam. Aproximámo-nos, cautelosos e receosos. Era certo. Tratava-se de um homem e de uma mulher. Ao clímax do casal do segundo andar, a corte que me acompanhava juntou uma gargalhada estridente. Eu, cabisbaixo, esbocei um sorriso aliviado por aquela manifestação de "normalidade" e soltei um suspiro resignado. Como que a perguntar: "Até quando, Alfama?"
FMS
Em tempos idos, os bairros típicos de Lisboa (Bairro Alto excluído há muito) eram o refúgio predilecto do provinciano que, por razões de diversa ordem, se via obrigado a descer ao encontro das tágides.
Chegava-se à capital, fazia-se o que se tinha a fazer e, mal a oportunidade espreitava, escalavam-se as colinas em ritmo urgente e sôfrego, em busca da taberna mais recôndita e apartada da cidade que lá em baixo fervilha. A cidade que avança a um ritmo impossível de acompanhar. A cidade que pensa mais rápido. Que nos ilude com estonteantes golpes de rins. E que nos deixa inapelavelmente de rastos, entregues à frieza do pavimento e à náusea do progresso (Sartre, por aqui?!).
Nos bairros típicos não. Aí tudo era diferente. Atravessávamos o espelho e voltávamos a casa. Aproximávamo-nos do balcão, pedíamos um pastel de bacalhau, escutávamos o taxista da mesa do fundo zurzir em tudo o que mexesse (de preferência em políticos), sorríamos com o comentário marialva e homofóbico do dono do estabelecimento enquanto servia um refrigerante sem gás a um turista escandinavo de aspecto efeminado e colocavamo-nos a par de teorias reaccionárias a propósito de tudo um pouco. Enfim, sentíamo-nos em casa.
Não mais isso acontece, temo dizê-lo. Sexta à noite. Três amigos arrastam-me Alfama acima. Destino: Tejo Bar (ou qualquer coisa assim). A esquerda festiva em versão estabelecimento comercial de convívio nocturno. As paredes com quadros alusivos ao MFA. Livros poeirentos sobre manifestações artísticas de vanguarda, sexualidades alternativas e tácticas de pequeno-terrorismo urbano. Um dono que faz lembrar o Vicente do Sítio do Pica Pau Amarelo. Trinta metros quadrados -não mais- de gente com relações conflituosas com o sabão. Desconhecimento total de uma invenção chamada "ar condicionado". Música ao vivo interpretada por dois espécimes da seita com base num vastíssimo reportório que ia de Chico Buarque a Caetano Veloso, passando por Chico Buarque, Caetano Veloso e versões de outros standards com letra dedicada aos senhores Bush e Blair. Diálogos ociosos e discussões ardentes em línguas variadas. Muito amor livre, fraterno e multicultural para dar (e vender?).
Ali - vi eu com estes dois que a terra há-de comer - outro mundo foi possível. E, acreditem, não é mundo que se recomende.
Estavam já os convivas em estado galhofeiro avançado, preparando-se para - sei lá - uma coboiada em larga escala (o meu amigo e correlegionário Tiago Pinhel alertou-me para essa possibilidade), quando fui de novo arrastado dali para fora. No caminho para o carro, o grupo em que me incluía foi de súbito interpelado por uns sons (familiares e estranhos ao mesmo tempo) que enchiam Alfama vindos da janela aberta à nossa frente. Uma cama rangia. Duas pessoas gemiam. Aproximámo-nos, cautelosos e receosos. Era certo. Tratava-se de um homem e de uma mulher. Ao clímax do casal do segundo andar, a corte que me acompanhava juntou uma gargalhada estridente. Eu, cabisbaixo, esbocei um sorriso aliviado por aquela manifestação de "normalidade" e soltei um suspiro resignado. Como que a perguntar: "Até quando, Alfama?"
FMS
domingo, julho 20, 2003
EM BUSCA DA CITAÇÃO PERDIDA
Num dos seus posts, o Vincent, exclama que:
"é como trabalhar numa livraria. Nós temos acesso a uma quantidade enorme de livros que sabemos que, mesmo que passássemos a ler o resto da nossa vida, nunca leríamos tudo o que gostaríamos.Que é dizer o mesmo que nunca iremos aprender tudo o que gostaríamos...e talvez necessitássemos"
Isto lembra-me uma citação que um dia li na parede de um escritório. Seria do Almada e algo parecido com isto: "Tantos livros, não chego nem para metade. É bom que haja outro caminho para a salvação, senão estou perdido!"
Asseguro que estas foram as palavras que me ficaram na cabeça e não, provavelmente, as realmente escritas.
Alguém conhece a citação? Será mesmo do Alamada Negreiros? De qual livro ou artigo?
Dão-se alvíssaras a respostas para oquintodosimperios@hotmail.com
DBH
Num dos seus posts, o Vincent, exclama que:
"é como trabalhar numa livraria. Nós temos acesso a uma quantidade enorme de livros que sabemos que, mesmo que passássemos a ler o resto da nossa vida, nunca leríamos tudo o que gostaríamos.Que é dizer o mesmo que nunca iremos aprender tudo o que gostaríamos...e talvez necessitássemos"
Isto lembra-me uma citação que um dia li na parede de um escritório. Seria do Almada e algo parecido com isto: "Tantos livros, não chego nem para metade. É bom que haja outro caminho para a salvação, senão estou perdido!"
Asseguro que estas foram as palavras que me ficaram na cabeça e não, provavelmente, as realmente escritas.
Alguém conhece a citação? Será mesmo do Alamada Negreiros? De qual livro ou artigo?
Dão-se alvíssaras a respostas para oquintodosimperios@hotmail.com
DBH
AS INCONTORNÁVEIS FÉRIAS
Os outros incontornáveis co-imperialistas (ler post A Perspicácia do Valete - 10.7.03), JV e FMS estiveram em Lisboa. Obviamente porque é tempo de férias. Eu, infelizmente, continuo em Lisboa apesar de ser tempo de férias. O que, também obviamente, não me parece justo.
Na semana passada fui avisado por três empresas e dois serviços públicos que não me garantiam a execução de alguns projectos nesta época. Porque, "Tá a ver, está tudo de férias". Ó NMP, como é que isto se encaixa na Gestão Por Objectivos?
DBH
Os outros incontornáveis co-imperialistas (ler post A Perspicácia do Valete - 10.7.03), JV e FMS estiveram em Lisboa. Obviamente porque é tempo de férias. Eu, infelizmente, continuo em Lisboa apesar de ser tempo de férias. O que, também obviamente, não me parece justo.
Na semana passada fui avisado por três empresas e dois serviços públicos que não me garantiam a execução de alguns projectos nesta época. Porque, "Tá a ver, está tudo de férias". Ó NMP, como é que isto se encaixa na Gestão Por Objectivos?
DBH
OS LIMITES MURAIS
Uma centena de pilaretes (sim, confirmei, esse é o nome que lhes dão) foram colocados nos passeios de três ruas da freguesia onde exerço o meu dever de voto, tornando o acto diário de estacionar numa pervisível Missão Impossível.
Ao encontrar um responsável da minha Junta de Freguesia perguntei qual a razão daquele industrioso labor, que tantos problemas virá trazer aos seus fregueses?
- É por causa dos deficientes - respondeu - que uma cadeira de rodas não podia aqui passar com os carros todos estacionados.
Perante o olhar de superioridade moral da sua voz, fiquei mudo e quedo, compenetrado na razão que, de facto, lhe assistia.
Isto, apenas, até olhar para os ditos passeios, a 20 intransponíveis centímetros de altura da rua. Pois, rebaixar os passeios, disse-me o diligente autarca, era muito caro. A sensibilidade e a Moral da acção não foi suficiente para deitar abaixo todos os muros.
DBH
Uma centena de pilaretes (sim, confirmei, esse é o nome que lhes dão) foram colocados nos passeios de três ruas da freguesia onde exerço o meu dever de voto, tornando o acto diário de estacionar numa pervisível Missão Impossível.
Ao encontrar um responsável da minha Junta de Freguesia perguntei qual a razão daquele industrioso labor, que tantos problemas virá trazer aos seus fregueses?
- É por causa dos deficientes - respondeu - que uma cadeira de rodas não podia aqui passar com os carros todos estacionados.
Perante o olhar de superioridade moral da sua voz, fiquei mudo e quedo, compenetrado na razão que, de facto, lhe assistia.
Isto, apenas, até olhar para os ditos passeios, a 20 intransponíveis centímetros de altura da rua. Pois, rebaixar os passeios, disse-me o diligente autarca, era muito caro. A sensibilidade e a Moral da acção não foi suficiente para deitar abaixo todos os muros.
DBH
quinta-feira, julho 17, 2003
Tudo na Ordem! Se os sindicatos de juízes, magistrados e funcionários judiciais criticam o bastonário deve ser porque ele tem razão. A argumentação apresentada é, aliás, tipicamente Portuguesa: pode ser que os juízes, magistrados e funcionários judicias violem o segredo de justiça, mas o que importa não é averiguar isso nem combater esse fenómeno. Não. O que importa é saber se a Ordem pune ou não os Advogados que também violem o segredo de justiça. Isto é, eu só cumpro se tu cumprires e tu só cumpres se eu cumprir. Como nenhum de nós cumpre, está tudo bem e não se fala mais nisso.
FA
FA
ESCRITA CRIATIVA: Numa das (37? 59?) telenovelas que a TVI transmite à noite, alguém bate à porta de Fernanda Serrano. Esta abre. A visita pergunta: "Estás bem?". Normalmente, perguntar-se-ia "Estás boa?", mas a ficção de produção nacional começa a melhorar, revelando os seus autores vontade de ir além do lugar-comum. Percebe-se isso quando, nos textos, evitam perguntar o óbvio.
FMS
FMS
O FIM DO MUNDO EM CUECAS: Após reiterados adiamentos, hoje foi dia de inspecção militar. Previa-se, portanto, uma noite completamente dedicada ao blog, tal seria a generosidade das doses de matéria-prima que aqui o mancebo teria oportunidade de recolher durante o dia. Puro engano. Corpo são, mente sã, sargentos afáveis, um tenente solícito, uma organização germânica, a colecção mais ortodoxa de roupa interior, a sensaboria total. Onde pára a lendária inspecção de que nos falam os antigos? O guia irascível, a dureza das provas de selecção, a curiosidade escrutinadora do médico, as novas amizades, a tão esperada desobriga, o que é feito de tudo isto? É quando as Forças Armadas nos desiludem que sabemos que o fim é irreversível.
FMS
FMS
quarta-feira, julho 16, 2003
Morreu o Rei. Lisboa, a profunda (de sentimentos) e bairrista (do coração), está de luto. Este não é um caso de "rei morto, rei posto" já que este Rei é insubstituível e inimitável.
FA
FA
A TRAIÇÃO
Os posts colocados pelo JPP , entre outros, sobre a questão da traição levam-me a escrever este:
Ao visitar a Lituânia tentei falar com alguns dos Partisans (como é que isto se traduz?) da luta anti-comunista. Foi fácil, existe uma organização que organiza sessões, para jovens, de memória desses tempos. Conheci, assim, duas pessoas que, nos idos da década de cinquenta, viveram e lutaram na clandestinidade contra o invasor soviético. Curiosamente, o uniforme actual do exército lituano é uma cópia do que nessa altura foi usado pelos ditos partisans.
Com uma tradutora, pude fazer algumas perguntas, nomeadamente sobre o facto do movimento de independência ter, finalmente, sucedido através do PCL e do Soviete Supremo Lituano, ou seja, parecia-me, de dentro do sistema.
A reposta foi rápida. A independência veio do povo, que estava obrigado a estar dentro do dito "sistema".
Na sala onde nos encontrávamos reparei num outro senhor de idade, notóriamente distante e ostracizado. Perguntei, pela semelhança geracional, se também seria um antigo combatente?
Que sim, respondeu-me a minha amável tradutora, mas tinha sido um traidor. Não tinha resistido à tortura do KGB (ver post anterior Estudos sobre o Comunismo) e tinha denunciado os seus camaradas de armas. E ali estava, mero mortal, no meio de heróis, humano e frágil, numa celebração de uma história que foi, também, a sua. Ninguém lhe dava a palavra, talvez fosse pela influência vizinha da Prussia e das suas Virtuti Militari, ou porque um Estado renascido necessita apenas de mitos de fortaleza perante o invasor, em vez de fragilidade e tibieza.
Não sei se, por nesse dia, de manhã, ter visitado as celas de tortura do KGB, por ter visto as campas comuns dos inimigos do povo, ou, simplesmente por nunca ter conhecido nem guerra nem tortura, fiquei a olhar para a enorme dignidade do homem.
DBH
Os posts colocados pelo JPP , entre outros, sobre a questão da traição levam-me a escrever este:
Ao visitar a Lituânia tentei falar com alguns dos Partisans (como é que isto se traduz?) da luta anti-comunista. Foi fácil, existe uma organização que organiza sessões, para jovens, de memória desses tempos. Conheci, assim, duas pessoas que, nos idos da década de cinquenta, viveram e lutaram na clandestinidade contra o invasor soviético. Curiosamente, o uniforme actual do exército lituano é uma cópia do que nessa altura foi usado pelos ditos partisans.
Com uma tradutora, pude fazer algumas perguntas, nomeadamente sobre o facto do movimento de independência ter, finalmente, sucedido através do PCL e do Soviete Supremo Lituano, ou seja, parecia-me, de dentro do sistema.
A reposta foi rápida. A independência veio do povo, que estava obrigado a estar dentro do dito "sistema".
Na sala onde nos encontrávamos reparei num outro senhor de idade, notóriamente distante e ostracizado. Perguntei, pela semelhança geracional, se também seria um antigo combatente?
Que sim, respondeu-me a minha amável tradutora, mas tinha sido um traidor. Não tinha resistido à tortura do KGB (ver post anterior Estudos sobre o Comunismo) e tinha denunciado os seus camaradas de armas. E ali estava, mero mortal, no meio de heróis, humano e frágil, numa celebração de uma história que foi, também, a sua. Ninguém lhe dava a palavra, talvez fosse pela influência vizinha da Prussia e das suas Virtuti Militari, ou porque um Estado renascido necessita apenas de mitos de fortaleza perante o invasor, em vez de fragilidade e tibieza.
Não sei se, por nesse dia, de manhã, ter visitado as celas de tortura do KGB, por ter visto as campas comuns dos inimigos do povo, ou, simplesmente por nunca ter conhecido nem guerra nem tortura, fiquei a olhar para a enorme dignidade do homem.
DBH
EU, DE ESQUERDA CAVIAR?
Seguindo os passos do MEC, fui visitar este teste de personalidade musical.
Entre vários resultados, deu:
People high on this dimension tend to enjoy Classical, Blues, Jazz, and Folk music. On the Reflective & Complex Dimension you fell in the 94 percentile. This score is very high
Mas, depois a análise:
...People with high scores on the reflective and complex music-preference dimension tend to be open to new experiences, creative, intellectual, and enjoy trying new things. When it comes to politics, they tend to lean toward the liberal side. Wisdom, diversity, and fine arts are all important to them. When it comes to lifestyle, high scorers tend to be sophisticated, and relatively well off financially
Pois. Criativo, intelectual implica ser de esquerda não é? A Sabedoria, a diversidade e as Belas Artes... tudo "Liberal side" (o site é americano). Uma pessoa conservadora deve ser, segundo eles, portanto, mais Bandas Militares e Música Country. Claro, se gosto de jazz tenho de ser "liberal". Pois.
Curiosamente, sendo, pela análise, um canhoto, devo ser também "well off financially": bem me parecia que são muitas as coisas que me separam dos esquerdistas sofisticados, como dinheiro, por exemplo.
DBH
Seguindo os passos do MEC, fui visitar este teste de personalidade musical.
Entre vários resultados, deu:
People high on this dimension tend to enjoy Classical, Blues, Jazz, and Folk music. On the Reflective & Complex Dimension you fell in the 94 percentile. This score is very high
Mas, depois a análise:
...People with high scores on the reflective and complex music-preference dimension tend to be open to new experiences, creative, intellectual, and enjoy trying new things. When it comes to politics, they tend to lean toward the liberal side. Wisdom, diversity, and fine arts are all important to them. When it comes to lifestyle, high scorers tend to be sophisticated, and relatively well off financially
Pois. Criativo, intelectual implica ser de esquerda não é? A Sabedoria, a diversidade e as Belas Artes... tudo "Liberal side" (o site é americano). Uma pessoa conservadora deve ser, segundo eles, portanto, mais Bandas Militares e Música Country. Claro, se gosto de jazz tenho de ser "liberal". Pois.
Curiosamente, sendo, pela análise, um canhoto, devo ser também "well off financially": bem me parecia que são muitas as coisas que me separam dos esquerdistas sofisticados, como dinheiro, por exemplo.
DBH
GENÉRICOS
Para não ferirmos susceptibilidades, nem sermos acusados de descriminação, aqui vai uma mensagem geral e abstracta.
Para todas as leitoras, morenas, bonitas, que ontem vestiam top branco, cabelo apanhado, frequentadoras de exaltadas reuniões sobre o marxismo educativo, algures pelo Parque das Nações:
- O nosso muito obrigado, a todas, por fazerem o favor de nos ler.
DBH e JV
Para não ferirmos susceptibilidades, nem sermos acusados de descriminação, aqui vai uma mensagem geral e abstracta.
Para todas as leitoras, morenas, bonitas, que ontem vestiam top branco, cabelo apanhado, frequentadoras de exaltadas reuniões sobre o marxismo educativo, algures pelo Parque das Nações:
- O nosso muito obrigado, a todas, por fazerem o favor de nos ler.
DBH e JV
terça-feira, julho 15, 2003
Ó MINHA MENINA!
O senhor Cruz Silva, figura iconográfica que mais côr traz à bancada do PSD, insiste em cumprir o que foi ditado pela Comissão de Ética: Responder apenas por escrito.
Sendo que o "Tribunal da sua Consciência" a mais não o obriga, resta ao Tribunal de Águeda (nos próximos dois dias) requerer a presença do Il.mo Deputado. Mas isto já sabíamos (o ridículo da situação e o embaraço da maioria), o que ontem se compreendeu foi a razão do ódio da imprensa ao dito industrial: Não é que o deputado tem a lata de tratar as jornalistas por "Menina"!
Pois. Isto de dizer - "Desculpe menina, não digo mais nada" ou, ainda pior, "Ó menina, por favor, deixe-me fechar a porta" não se perdoa.
DBH
O senhor Cruz Silva, figura iconográfica que mais côr traz à bancada do PSD, insiste em cumprir o que foi ditado pela Comissão de Ética: Responder apenas por escrito.
Sendo que o "Tribunal da sua Consciência" a mais não o obriga, resta ao Tribunal de Águeda (nos próximos dois dias) requerer a presença do Il.mo Deputado. Mas isto já sabíamos (o ridículo da situação e o embaraço da maioria), o que ontem se compreendeu foi a razão do ódio da imprensa ao dito industrial: Não é que o deputado tem a lata de tratar as jornalistas por "Menina"!
Pois. Isto de dizer - "Desculpe menina, não digo mais nada" ou, ainda pior, "Ó menina, por favor, deixe-me fechar a porta" não se perdoa.
DBH
segunda-feira, julho 14, 2003
HENRIQUE BARRILARO RUAS
Recebi agora a notícia. Morreu o Prof. Henrique Barrilaro Ruas. Não faz um mês quando aqui saudei a sua entrada na blogosfera.
Conheci Barrilaro Ruas através dos livros, dos artigos, da clareza e da profundidade. Mais tarde, com alegria, conheci-o pessoalmente. Conheci um Senhor de uma imensa cultura, sempre desperto para a actualidade, para tentar compreender o Mundo através deste sonho, Portugal. E compreendia-o, e explicava-o, e mostrava as ligações, a naturalidade e as incongruências do nosso País.
Para um jovem, como eu, Henrique Barrilaro Ruas era mais que um professor, era a ponte viva de ligação com o pensamento político português do século XX. Foi, sem dúvida, sempre uma referência inquietada e preocupada com o nosso futuro.
Ao ensinar, ao ensaiar, ao nunca desistir... Deixou-nos um enorme capital de Esperança.
Amanhã haverá obituários nos jornais, escritos por pessoas que dele receberam o testemunho. A mim resta-me escrever, neste blog, o quanto me sinto obrigado.
Deus o guarde.
DBH
Recebi agora a notícia. Morreu o Prof. Henrique Barrilaro Ruas. Não faz um mês quando aqui saudei a sua entrada na blogosfera.
Conheci Barrilaro Ruas através dos livros, dos artigos, da clareza e da profundidade. Mais tarde, com alegria, conheci-o pessoalmente. Conheci um Senhor de uma imensa cultura, sempre desperto para a actualidade, para tentar compreender o Mundo através deste sonho, Portugal. E compreendia-o, e explicava-o, e mostrava as ligações, a naturalidade e as incongruências do nosso País.
Para um jovem, como eu, Henrique Barrilaro Ruas era mais que um professor, era a ponte viva de ligação com o pensamento político português do século XX. Foi, sem dúvida, sempre uma referência inquietada e preocupada com o nosso futuro.
Ao ensinar, ao ensaiar, ao nunca desistir... Deixou-nos um enorme capital de Esperança.
Amanhã haverá obituários nos jornais, escritos por pessoas que dele receberam o testemunho. A mim resta-me escrever, neste blog, o quanto me sinto obrigado.
Deus o guarde.
DBH
A teoria da mula
Excelente o artigo de Matthew Parris no Times do passado Sábado sobre a "terceira via" e a sua insustentável leveza.
FA
Excelente o artigo de Matthew Parris no Times do passado Sábado sobre a "terceira via" e a sua insustentável leveza.
FA
domingo, julho 13, 2003
Ó Jean, já tomaste os comprimidos?
O poeta Alegre resolveu protagonizar no Expresso mais um sermão a favor da "pureza" da esquerda.
Mais do que alegre, risível, como só ele é capaz.
Para o efeito, invocou arrependidos, desiludidos, enganados face aos amanhãs que cantavam e, inter alia, o seu amigo Jean (velho professor universitário reformado de revoluções e de outras lides que conheceu, obviamente, nos exaltantes e patrióticos dias de Argel).
O ex-revolucionário Jean, para além de ser francês, tem o defeito de conservar uma visão supostamente cristalina sobre o que deve ser o socialismo e a reinvenção da esperança (?) na tal cosmovisão de esquerda... Presume-se que sejam cataratas.
Termina o poeta - depois de diversos dislates e alusões enternecedoras a múltiplas teorias da conspiração - citando o tal amigo, companheiro, camarada Jean:
"Não se pode fazer políticas de esquerda com quem, dentro dos partidos de esquerda, tem um pensamento e um comportamento de direita. Uma coisa é certa, não somos nós que estamos a mais onde estamos".
Será que não estão?
Quem decide quem é, ou não, de direita?
O colectivo dos militantes, o secretário-geral ou a basófia rimada?
Cuidado, Jaime Gama, que eles andam aí...
JV
O poeta Alegre resolveu protagonizar no Expresso mais um sermão a favor da "pureza" da esquerda.
Mais do que alegre, risível, como só ele é capaz.
Para o efeito, invocou arrependidos, desiludidos, enganados face aos amanhãs que cantavam e, inter alia, o seu amigo Jean (velho professor universitário reformado de revoluções e de outras lides que conheceu, obviamente, nos exaltantes e patrióticos dias de Argel).
O ex-revolucionário Jean, para além de ser francês, tem o defeito de conservar uma visão supostamente cristalina sobre o que deve ser o socialismo e a reinvenção da esperança (?) na tal cosmovisão de esquerda... Presume-se que sejam cataratas.
Termina o poeta - depois de diversos dislates e alusões enternecedoras a múltiplas teorias da conspiração - citando o tal amigo, companheiro, camarada Jean:
"Não se pode fazer políticas de esquerda com quem, dentro dos partidos de esquerda, tem um pensamento e um comportamento de direita. Uma coisa é certa, não somos nós que estamos a mais onde estamos".
Será que não estão?
Quem decide quem é, ou não, de direita?
O colectivo dos militantes, o secretário-geral ou a basófia rimada?
Cuidado, Jaime Gama, que eles andam aí...
JV
sábado, julho 12, 2003
E NINGUÉM AVISA?
Foi editado em português O Federalista! Ainda mais numa edição lindíssima. Ainda por cima enquanto discutimos aquela Constituição (que nos foi outorgada por uns tais convencionais aquém é suposto, pelo preâmbulo, estarmos agradecidos)... e nenhum co-imperialista tinha notado? Ó FMS, mais atenção fáchavor, se um de nós fica em Portugal é para avisar os outros destas coisas...
P.S. Tinha, no entanto, a impressão que esta não é a primeira tradução dos Federalist Papers em Portugal, mas obrigado ao V. Soromenho-Marques e ao João C. S. Duarte por esta edição.
DBH
Foi editado em português O Federalista! Ainda mais numa edição lindíssima. Ainda por cima enquanto discutimos aquela Constituição (que nos foi outorgada por uns tais convencionais aquém é suposto, pelo preâmbulo, estarmos agradecidos)... e nenhum co-imperialista tinha notado? Ó FMS, mais atenção fáchavor, se um de nós fica em Portugal é para avisar os outros destas coisas...
P.S. Tinha, no entanto, a impressão que esta não é a primeira tradução dos Federalist Papers em Portugal, mas obrigado ao V. Soromenho-Marques e ao João C. S. Duarte por esta edição.
DBH
SUSPICIOUS WHITE MALE
Estive na Cal Poly em 1993, numa competição chamada Cal Poly Debate Invitational, era eu próprio membro de uma associação de Young Republicans. Será que era tão inconsciente que não me apercebi do perigo que corria?
O Perigo está aqui, uma notícia que li no melhor dos Blogs.
DBH
Estive na Cal Poly em 1993, numa competição chamada Cal Poly Debate Invitational, era eu próprio membro de uma associação de Young Republicans. Será que era tão inconsciente que não me apercebi do perigo que corria?
O Perigo está aqui, uma notícia que li no melhor dos Blogs.
DBH
sexta-feira, julho 11, 2003
AINDA SOBRE O INDEX
Do site em que está colocado o texto de Ray Bradbury, que citei abaixo, pertence esta outra página.
Como se pode ver, pelas citações de Churchill e Shaw, esta questão não depende de quadrantes políticos. Escrever o contrário é, simplesmente, pura propaganda.
DBH
Do site em que está colocado o texto de Ray Bradbury, que citei abaixo, pertence esta outra página.
Como se pode ver, pelas citações de Churchill e Shaw, esta questão não depende de quadrantes políticos. Escrever o contrário é, simplesmente, pura propaganda.
DBH
"There is more than one way to burn a book. And the world is full of people running about with lit matches."
O Almocreve escreve:
"Saiu uma amostra pequena (no Público de dia 7 de Julho, último) dos livros banidos dos manuais e do receituário escolar pelas «school boards» americanas. Os neoconservadores ianques, agora com a roupagem do politicamente correcto, não param de nos surpreender. Ou talvez não. Deles já se espera tudo"
Este é um fenómeno que tenho seguido nos últimos anos. O grande erro do Almocreve é achar (e julgar) que este fenómeno depende dos neoconservadores. Não é verdade. É certo que há "criacionistas" e conservadores que sempre quiseram proibir alguns livros, já o sabemos, mas o interessante é o facto de serem alguns movimentos pós-modernos, activistas de minorias, quem mais bane alguns livros.
O politicamente correcto não é uma invenção conservadora, pelo contrário, é uma pretensão revolucionária, que pretende mudar o mundo pela mudança da linguagem.
Há queimadores de livros em todo o lado e por todos os quadrantes, mas sabemos que serão sempre de tendência Totalitária.
Serão sempre os que acham que possuem A Verdade, dos republicanos criacionistas aos Troskistas FSE.
Como escreve Ray Bradbury, num artigo que tenho nos "meus Favoritos":
Every minority, be it Baptist / Unitarian, Irish / Italian / Octogenarian / Zen Buddhist, Zionist/Seventh-day Adventist, Women's Lib/Republican, Mattachine/FourSquareGospel feel it has the will, the right, the duty to douse the kerosene, light the fuse. Every dimwit editor who sees himself as the source of all dreary blanc-mange plain porridge unleavened literature, licks his guillotine and eyes the neck of any author who dares to speak above a whisper or write above a nursery rhyme.
E lembra:
"Fire-Captain Beatty, in my novel Fahrenheit 451, described how the books were burned first by the minorities, each ripping a page or a paragraph from the book, then that, until the day came when the books were empty and the minds shut and the library closed forever."
Este texto levanta também uma questão interessante: os excertos antológicos e a violência do corte dos editores... que talvez o Abrupto ou o NM e o Aviz queiram comentar.
Ray Bradbury acaba neste crescendo:
"In sum, do not insult me with the beheadings, finger-choppings or the lung-deflations you plan for my works. I need my head to shake or nod, my hand to wave or make into a fist, my lungs to shout or whisper with. I will not go gently onto a shelf, degutted, to become a non-book.
All you umpire, back to the bleachers. Referees, hit the showers. It's my game. I pitch, I hit, I catch. I run the bases. At sunset I've won or lost. At sunrise, I'm out again, giving it the old try. "
Magnífico, não é? o texto está aqui.
DBH
Três é o número que Deus fez O Toní juntou uma data de gente em Londres para debater a renovação da “terceira via”. Em termos mecânico-automobilísticos é uma espécie do recauchutar dum pneu recauchutado. Eu sugeria, para começar, um nome novo: “A... via mas já não há”. Só é pena não resultar em Inglês. Só se for: “way out there”? Sugestões p.f. para o 10 Downing Street c/o Alastair Campbell (o dos dossiers).
FA
FA
Verbatim
Grande celeuma por causa das transcrições dos julgamentos e dos recursos à pressão... A prática é claramente imoral, provada que seja a intenção fraudulenta dos intervenientes, mas mais uma vez não vamos ao fundo das questões.
Se em Portugal houvesse estenógrafos como deve ser isto nem sequer era tema. Se o Estado está tão preocupado em poupar dinheiro com as transcrições dos julgamentos então que empregue estenógrafos qualificados. Se acha imoral a conduta dos Advogados então os Tribunais que atribuam as tarefas de transcrição das cassetes a outras empresas.
Um outra solução (porventura eivada de cinismo): porque não os familiares dos juízes ou funcionários judiciais criarem as suas próprias empresas privadas? Assim era a imoralidade completa... mas com concorrência!
FA
Grande celeuma por causa das transcrições dos julgamentos e dos recursos à pressão... A prática é claramente imoral, provada que seja a intenção fraudulenta dos intervenientes, mas mais uma vez não vamos ao fundo das questões.
Se em Portugal houvesse estenógrafos como deve ser isto nem sequer era tema. Se o Estado está tão preocupado em poupar dinheiro com as transcrições dos julgamentos então que empregue estenógrafos qualificados. Se acha imoral a conduta dos Advogados então os Tribunais que atribuam as tarefas de transcrição das cassetes a outras empresas.
Um outra solução (porventura eivada de cinismo): porque não os familiares dos juízes ou funcionários judiciais criarem as suas próprias empresas privadas? Assim era a imoralidade completa... mas com concorrência!
FA
AREJAR IDEIAS
Como ribatejano que sou, não posso deixar de colaborar com a JS e dar a conhecer a realização do Acampamento Distrital de Santarém:
Para os mais preguiçosos, aqui fica o texto do convite:
Acampamento Distristal de Santarém:
Vimos por este meio convidar-te a ti e a todos os teus amigos/as a participarem no Acampamento Distrital de 2003 da J.S. Ribatejo.
O acampamento distrital deste ano será no Parque de Campismo da Ortiga no concelho de Mação e decorrerá nos dias 18, 19 e 20 de Julho.
Temos programadas diversas actividades lúdicas, desportivas e temáticas que, com certeza, irão fazer com que este acampamento seja um local de convívio, debate e alegria.
Nas questões temáticas contaremos com a presença do Presidente da Liga Nacional de Protecção da Natureza, José Alho entre outros.
Estão convidados dirigentes nacionais e distritais da Juventude Socialista e do Partido Socialista.
Para mais informações contacta a organização através do info-line: 91 920 30 85/ 96 350 69 85.
Podes-te increver através dos números de telefone acima referenciádos ou que nos envies as inscrições para a seguinte morada: Travessa da Lomba n.º 17 Ortiga – 6120 Mação
Contamos contigo!
Apesar da publicidade ao evento ser lamentavelmente omissa quanto às actividades lúdicas e desportivas a realizar, ainda assim, fica dado o recado.
Serviço público feito por privados, ora aí está um bom tema para uma amena conversa ao redor da fogueira...
JV
Como ribatejano que sou, não posso deixar de colaborar com a JS e dar a conhecer a realização do Acampamento Distrital de Santarém:
Para os mais preguiçosos, aqui fica o texto do convite:
Acampamento Distristal de Santarém:
Vimos por este meio convidar-te a ti e a todos os teus amigos/as a participarem no Acampamento Distrital de 2003 da J.S. Ribatejo.
O acampamento distrital deste ano será no Parque de Campismo da Ortiga no concelho de Mação e decorrerá nos dias 18, 19 e 20 de Julho.
Temos programadas diversas actividades lúdicas, desportivas e temáticas que, com certeza, irão fazer com que este acampamento seja um local de convívio, debate e alegria.
Nas questões temáticas contaremos com a presença do Presidente da Liga Nacional de Protecção da Natureza, José Alho entre outros.
Estão convidados dirigentes nacionais e distritais da Juventude Socialista e do Partido Socialista.
Para mais informações contacta a organização através do info-line: 91 920 30 85/ 96 350 69 85.
Podes-te increver através dos números de telefone acima referenciádos ou que nos envies as inscrições para a seguinte morada: Travessa da Lomba n.º 17 Ortiga – 6120 Mação
Contamos contigo!
Apesar da publicidade ao evento ser lamentavelmente omissa quanto às actividades lúdicas e desportivas a realizar, ainda assim, fica dado o recado.
Serviço público feito por privados, ora aí está um bom tema para uma amena conversa ao redor da fogueira...
JV
NACIONALISTAS SERÔDIOS, LUSO-TROPICAIS QUIMÉRICOS E EUROCRENTES
Com estas evoluções institucionais aceleradas, a esquerda relativa - que já esqueceu que um dos maiores argumentos dos seus, sempre tão invocados quanto adorados, egrégios republicanos foi a manutenção e afirmação do império português - vem verberar contra os que reconhecem a Portugal vocação atlântica e a sua posição de charneira entre diversos continentes.
Fazem-no, apodando de nacionalistas serôdios todos aqueles que não se revêem no euronacionalismo centralista de modelo único que vai sendo instilado em doses terapêuticas nas políticas, nas instituições, nas comunidades e que advogam uma outra interpretação da letra e espírito do projecto de Tratado que institui uma Constituição para a Europa.
Chamam quimeras a 500 anos de história e desdenham dos resultados intangíveis que deles decorrem.
Socorrem-se de argumentos em que, de facto, nem sempre aparece o sangue, a língua e o passado.
Que estes não existam, é outra história.
Como bons discípulos de um credo que se quer novo, sublime, messiânico, apontam o bolor dos outros, tardando em reconhecer que a sua sede de progresso social e a sua confiança num alegre devir, à guisa de catecismo Comtiano, têm já verdete, de tão datadas.
O tal bolor que assola o nacionalismo (que agora apenas tem autorização para se luzir e manifestar em dias de futebol) é, no caso vertente, problema olfativo e visual de quem o julga reconhecer e não tanto insalubridade de quem alegadamente o ostenta.
O tal bolor que incomoda são os laços que ainda hoje existem e que nenhum Villaverde Cabral deste mundo consegue desfazer. Para além da política, das bandeiras, das exemplares descolonizações, há cumplicidades que se não explicam. Ou se entendem ou não.
A visão pequenina e mesquinha do "Portugalzinho atlântico", folcloricamente reduzido a baianas e saravás, indicia qual seja o entendimento de quem a invoca. A reverência ao estrangeiro, ao que vem de fora, também não é nova nem original.
Presumir que "Jorge Miranda ignora a dimensão da Constituição europeia" é ignorar a dimensão de Jorge Miranda.
Dizer que a Carta Europeia dos Direitos Fundamentais contém "um catálogo claro de direitos fundamentais" é ignorar também as questões que envolveram a sua aprovação, a qualificação do seu valor jurídico e os problemas que implicam a sua compatibilização com ordenamentos jurídicos nacionais e internacionais.
Tudo isto constituiria problema menos grave se pudéssemos considerar a jurisprudência comunitária justa, adequada e proporcional.
Sucede que qualquer observador, medianamente provido de instrumentos de exegese jurídica, reconhecerá imediatamente que esta tem vindo a reivindicar para a esfera comunitária mais e mais competências. Arrogando-se de legitimidade(s) que ultrapassa(m) em muito o que, paulatinamente, lhe veio sendo conferido pelos tratados. Legislando, mais do que julgando.
Quanto ao respeito pela vontade dos povos, expresso em eleições, veja-se a reacção dos 14 - então capitaneados pela picareta mais famosa da nossa história - ao caso da chegada ao poder do partido do famigerado Haider, impondo sanções a um estado-membro sem que este tivesse violado qualquer disposição comunitária ou o programa de governo então redigido prevesse quaisquer orientações que fizessem antever alguma violação. Falta de respeito político e jurídico.
Do respeito pela vontade dos povos manifestada em sede de referendo é melhor nem falar. É caso para dizer que os europeus são livres de escolher desde que o façam no sentido considerado certo. Sempre que se dá o caso de se"enganarem" convoca-se outro referendo para compor as coisas...
Da mesma forma, a fé - porque é de fé que se trata - na qualidade técnica (e linguística) da legislação comunitária só é admissível a quem não conheça como esta é produzida.
Existe um défice democrático de facto nas instituições europeias, causado por uma sobre-humana e ininterrupta enxurrada de papel que, pura e simplesmente, atola quem pretenda inteirar-se minimamente do que se vai passando.
Esta situação deixa aos secretariados anónimos dos diversos órgãos a condução efectiva dos processos e dos procedimentos, relegando em muitos casos os detentores do poder de jure ao papel de ratificadores qualificados. Valham as honrosas excepções.
Onde está, afinal, a tão louvada dimensão garantística, se nem a clareza a montante consegue assegurar?
Não foi por acaso que os pais fundadores advogaram a política dos "pequenos passos".
Para os olhos, antes água do atlântico que vistas curtas.
JV
Com estas evoluções institucionais aceleradas, a esquerda relativa - que já esqueceu que um dos maiores argumentos dos seus, sempre tão invocados quanto adorados, egrégios republicanos foi a manutenção e afirmação do império português - vem verberar contra os que reconhecem a Portugal vocação atlântica e a sua posição de charneira entre diversos continentes.
Fazem-no, apodando de nacionalistas serôdios todos aqueles que não se revêem no euronacionalismo centralista de modelo único que vai sendo instilado em doses terapêuticas nas políticas, nas instituições, nas comunidades e que advogam uma outra interpretação da letra e espírito do projecto de Tratado que institui uma Constituição para a Europa.
Chamam quimeras a 500 anos de história e desdenham dos resultados intangíveis que deles decorrem.
Socorrem-se de argumentos em que, de facto, nem sempre aparece o sangue, a língua e o passado.
Que estes não existam, é outra história.
Como bons discípulos de um credo que se quer novo, sublime, messiânico, apontam o bolor dos outros, tardando em reconhecer que a sua sede de progresso social e a sua confiança num alegre devir, à guisa de catecismo Comtiano, têm já verdete, de tão datadas.
O tal bolor que assola o nacionalismo (que agora apenas tem autorização para se luzir e manifestar em dias de futebol) é, no caso vertente, problema olfativo e visual de quem o julga reconhecer e não tanto insalubridade de quem alegadamente o ostenta.
O tal bolor que incomoda são os laços que ainda hoje existem e que nenhum Villaverde Cabral deste mundo consegue desfazer. Para além da política, das bandeiras, das exemplares descolonizações, há cumplicidades que se não explicam. Ou se entendem ou não.
A visão pequenina e mesquinha do "Portugalzinho atlântico", folcloricamente reduzido a baianas e saravás, indicia qual seja o entendimento de quem a invoca. A reverência ao estrangeiro, ao que vem de fora, também não é nova nem original.
Presumir que "Jorge Miranda ignora a dimensão da Constituição europeia" é ignorar a dimensão de Jorge Miranda.
Dizer que a Carta Europeia dos Direitos Fundamentais contém "um catálogo claro de direitos fundamentais" é ignorar também as questões que envolveram a sua aprovação, a qualificação do seu valor jurídico e os problemas que implicam a sua compatibilização com ordenamentos jurídicos nacionais e internacionais.
Tudo isto constituiria problema menos grave se pudéssemos considerar a jurisprudência comunitária justa, adequada e proporcional.
Sucede que qualquer observador, medianamente provido de instrumentos de exegese jurídica, reconhecerá imediatamente que esta tem vindo a reivindicar para a esfera comunitária mais e mais competências. Arrogando-se de legitimidade(s) que ultrapassa(m) em muito o que, paulatinamente, lhe veio sendo conferido pelos tratados. Legislando, mais do que julgando.
Quanto ao respeito pela vontade dos povos, expresso em eleições, veja-se a reacção dos 14 - então capitaneados pela picareta mais famosa da nossa história - ao caso da chegada ao poder do partido do famigerado Haider, impondo sanções a um estado-membro sem que este tivesse violado qualquer disposição comunitária ou o programa de governo então redigido prevesse quaisquer orientações que fizessem antever alguma violação. Falta de respeito político e jurídico.
Do respeito pela vontade dos povos manifestada em sede de referendo é melhor nem falar. É caso para dizer que os europeus são livres de escolher desde que o façam no sentido considerado certo. Sempre que se dá o caso de se"enganarem" convoca-se outro referendo para compor as coisas...
Da mesma forma, a fé - porque é de fé que se trata - na qualidade técnica (e linguística) da legislação comunitária só é admissível a quem não conheça como esta é produzida.
Existe um défice democrático de facto nas instituições europeias, causado por uma sobre-humana e ininterrupta enxurrada de papel que, pura e simplesmente, atola quem pretenda inteirar-se minimamente do que se vai passando.
Esta situação deixa aos secretariados anónimos dos diversos órgãos a condução efectiva dos processos e dos procedimentos, relegando em muitos casos os detentores do poder de jure ao papel de ratificadores qualificados. Valham as honrosas excepções.
Onde está, afinal, a tão louvada dimensão garantística, se nem a clareza a montante consegue assegurar?
Não foi por acaso que os pais fundadores advogaram a política dos "pequenos passos".
Para os olhos, antes água do atlântico que vistas curtas.
JV
UNIDOS NA DIVERSIDADE
É este, afinal, o lema da nova pessoa jurídica que aí vem.
Quanto ao mote, nada a dizer. Nada novo. Nada de novo.
O papá Giscard estava radiante. Até falou inglês.
No culminar das celebrações, alimentou de verde alface uma tartaruga de pedra que testemunhara de perto o seu desempenho na tarefa improvável de fazer aprovar um texto sem que para isso se desse uma única votação. (Facto, por si só, mais bizarro do que se a lapidar tartaruga resolvesse ruminar o vegetal em frente aos convencionais, diga-se de passagem...)
Consensual. É o que dizem. Pois, poderia dizer a tartaruga...
De facto, conceda-se que os povos da Europa se encontram, de facto, unidos na diversidade. Unidos na ignorância quanto à natureza, utilidade e consequências deste Tratado. Unidos na falta de ligação emocional e afectiva a esta pessoa que irá nascer. Unidos na consciência de que as necessidades e interesses comuns não esbatem e nem iludem as diferenças e, até, as divergências entre os seus membros.
Por momentos, pensei que La Fontaine se poderia ter enganado e serem, afinal, as lebres que saltam por cima dos desejos e anseios verdadeiros dos povos as que ganham as corridas.
Ideias frescas como a alface e frias como a pedra fizeram ontem falta naquele anfiteatro de autocomprazimento, imune à indiferença que lhe votava o homem comum.
Para o bem e para o mal, ontem fez-se história.
Ainda bem que a tartaruga de pedra lá estava.
JV
É este, afinal, o lema da nova pessoa jurídica que aí vem.
Quanto ao mote, nada a dizer. Nada novo. Nada de novo.
O papá Giscard estava radiante. Até falou inglês.
No culminar das celebrações, alimentou de verde alface uma tartaruga de pedra que testemunhara de perto o seu desempenho na tarefa improvável de fazer aprovar um texto sem que para isso se desse uma única votação. (Facto, por si só, mais bizarro do que se a lapidar tartaruga resolvesse ruminar o vegetal em frente aos convencionais, diga-se de passagem...)
Consensual. É o que dizem. Pois, poderia dizer a tartaruga...
De facto, conceda-se que os povos da Europa se encontram, de facto, unidos na diversidade. Unidos na ignorância quanto à natureza, utilidade e consequências deste Tratado. Unidos na falta de ligação emocional e afectiva a esta pessoa que irá nascer. Unidos na consciência de que as necessidades e interesses comuns não esbatem e nem iludem as diferenças e, até, as divergências entre os seus membros.
Por momentos, pensei que La Fontaine se poderia ter enganado e serem, afinal, as lebres que saltam por cima dos desejos e anseios verdadeiros dos povos as que ganham as corridas.
Ideias frescas como a alface e frias como a pedra fizeram ontem falta naquele anfiteatro de autocomprazimento, imune à indiferença que lhe votava o homem comum.
Para o bem e para o mal, ontem fez-se história.
Ainda bem que a tartaruga de pedra lá estava.
JV
quinta-feira, julho 10, 2003
ESTUDOS SOBRE O COMUNISMO
Tenho tido a sorte de conhecer, nos últimos anos, alguns países a que chamamos, por preconceito geográfico, a Europa de Leste. Cheguei hoje a Lisboa, vindo da capital da Lituânia, que fica, curiosamente, a 20km do centro geográfico deste nosso continente com nome de moçoila arrebatada.
Estive numa conferência da Fundação Konrad Adenauer (que com a FNS e a recente RLS formam o mais poderoso instrumento de política externa europeu do séc. XX) junto da fronteira com a Estónia, reunido com pessoas dos três estados bálticos. Curiosa aquela mistura de escandinávia, eslávia e pan-germanismo que ali encontrei. Terminada a conferência, num apropriado hotel soviético com os característicos 114 diferentes tons de cinzento, rumei, devagar, para Vilnius.
Pelo caminho passei por Nida, onde visitei a casa de Thomas Mann e ainda por várias aldeias onde pedi para me mostrarem o que resta dos kolkozes: paredes. A rapidez da transição do comunismo para a economia de mercado pautou-se pela rapidez com que alguns se apropriaram daquilo que antes era de todos e, de repente, passou a ser de ninguém.
Os campos ainda são lavrados a força animal e a soviética regra de uma vaca por famíia continua a ser a esmagadora realidade. As propriedades são pequenas e pouco produtivas e o espírito associativo está ferido por décadas de obrigatoriedade do mesmo.
De volta a Vilnius visitei o Parlamento, antigo Conselho (Soviete) Supremo da República Socialista Soviética da Lituânia, que ostenta, como uma medalha, na sua fachada, buracos da balas disparadas por ordem de Gorbatchev (cujos tanques mataram 14 pessoas) em Janeiro de 1991, quando declararam a independência do PCUS. Estávamos nós entretidos com a primeira Guerra do Golfo.
Eu, na altura, estava a visitar a Checoslováquia e a Jugoslávia, numa peregrinação católica, inconsciente do que ali se passaria meses depois. E, também, desconhecendo o que se passava no Báltico, convencidos que estávamos que o Comunismo já tinha terminado.
Visitei o Museu do KGB, nome não oficial do Centro de Pesquisa sobre os Genocídios (Alemão e Soviético), na sua antiga sede. Vi as câmaras de tortura, como uma que consistia de um tanque de água com um toro de 35cm de diâmetro acima do nivel de desespero gelado, onde o prisioneiro tinha de se manter de pé (por mais de 48 horas) se não quisesse morrer de hipotermia. Vi o buraco onde estão vários cadáveres, como o do arcebisbo e o do administrador apostólico de Vilnius. Vi a sala de execução e os buracos de balas na parede. Ainda era utilizada em 1987, quando em Portugal Cavaco Silva ganhava as eleições. Esta sede foi abandonada só em Agosto de 1993.
Aproveitei também para ver o restauro da basílica de São Casimiro, que foi o Museu do Ateísmo durante alguns anos.
Como lembrança, comprei uma folha policopiada da "Crónica da Igreja Católica", o único jornal clandestino que sobreviveu durante 40 anos.
Fico a pensar se, com a entrada destes países na UE, Bruxelas irá finalmente tomar alguma atitude perante o horror e o descalabro em que se encontra a Bielorússia. Pertenço a uma organização que é considerada não-grata nesse país, por ter contribuido para a divulgação na internet do que por lá se passa. Talvez seja possível fazermos mais. Devemos, pelo menos.
DBH
Tenho tido a sorte de conhecer, nos últimos anos, alguns países a que chamamos, por preconceito geográfico, a Europa de Leste. Cheguei hoje a Lisboa, vindo da capital da Lituânia, que fica, curiosamente, a 20km do centro geográfico deste nosso continente com nome de moçoila arrebatada.
Estive numa conferência da Fundação Konrad Adenauer (que com a FNS e a recente RLS formam o mais poderoso instrumento de política externa europeu do séc. XX) junto da fronteira com a Estónia, reunido com pessoas dos três estados bálticos. Curiosa aquela mistura de escandinávia, eslávia e pan-germanismo que ali encontrei. Terminada a conferência, num apropriado hotel soviético com os característicos 114 diferentes tons de cinzento, rumei, devagar, para Vilnius.
Pelo caminho passei por Nida, onde visitei a casa de Thomas Mann e ainda por várias aldeias onde pedi para me mostrarem o que resta dos kolkozes: paredes. A rapidez da transição do comunismo para a economia de mercado pautou-se pela rapidez com que alguns se apropriaram daquilo que antes era de todos e, de repente, passou a ser de ninguém.
Os campos ainda são lavrados a força animal e a soviética regra de uma vaca por famíia continua a ser a esmagadora realidade. As propriedades são pequenas e pouco produtivas e o espírito associativo está ferido por décadas de obrigatoriedade do mesmo.
De volta a Vilnius visitei o Parlamento, antigo Conselho (Soviete) Supremo da República Socialista Soviética da Lituânia, que ostenta, como uma medalha, na sua fachada, buracos da balas disparadas por ordem de Gorbatchev (cujos tanques mataram 14 pessoas) em Janeiro de 1991, quando declararam a independência do PCUS. Estávamos nós entretidos com a primeira Guerra do Golfo.
Eu, na altura, estava a visitar a Checoslováquia e a Jugoslávia, numa peregrinação católica, inconsciente do que ali se passaria meses depois. E, também, desconhecendo o que se passava no Báltico, convencidos que estávamos que o Comunismo já tinha terminado.
Visitei o Museu do KGB, nome não oficial do Centro de Pesquisa sobre os Genocídios (Alemão e Soviético), na sua antiga sede. Vi as câmaras de tortura, como uma que consistia de um tanque de água com um toro de 35cm de diâmetro acima do nivel de desespero gelado, onde o prisioneiro tinha de se manter de pé (por mais de 48 horas) se não quisesse morrer de hipotermia. Vi o buraco onde estão vários cadáveres, como o do arcebisbo e o do administrador apostólico de Vilnius. Vi a sala de execução e os buracos de balas na parede. Ainda era utilizada em 1987, quando em Portugal Cavaco Silva ganhava as eleições. Esta sede foi abandonada só em Agosto de 1993.
Aproveitei também para ver o restauro da basílica de São Casimiro, que foi o Museu do Ateísmo durante alguns anos.
Como lembrança, comprei uma folha policopiada da "Crónica da Igreja Católica", o único jornal clandestino que sobreviveu durante 40 anos.
Fico a pensar se, com a entrada destes países na UE, Bruxelas irá finalmente tomar alguma atitude perante o horror e o descalabro em que se encontra a Bielorússia. Pertenço a uma organização que é considerada não-grata nesse país, por ter contribuido para a divulgação na internet do que por lá se passa. Talvez seja possível fazermos mais. Devemos, pelo menos.
DBH
A PERSPICÁCIA DO VALETE: O nosso muito querido João Noronha do Valete Fratres reservou-nos um lugar na secção dos blogs "incontornáveis", ao lado de refrências como o PM, o PL, o JPP e o Pipi. Curioso. O Johnny não nos conhece, mas sabe que somos verdadeiramente incontornáveis. É que se eu e mais dois co-imperalistas nos colocarmos lado a lado, numa rua não muito larga, poucos são os que nos conseguirão contornar. Talvez só mesmo o FA. Mas esse, com a sua elegância provocadora, passa até por entre a chuva.
FMS
FMS
E, NO ENTANTO, MOVO-ME: Acho que devo um pedido de desculpas aos meus amigos co-imperialistas e às numerosas famílias que, noite após noite, se juntam em sincera comunhão para lerem os disparates que por aqui vou dizendo. Há mais de uma semana que não dou o mais ínfimo sinal de vida. Uma licenciatura que teima em não ser finalizada, a preparação da festa do 50º aniversário do Patriarca e a habitual irredutibilidade da NetCabo na sua relação com os contraentes faltosos impediram-me de contribuir activamente para a manutenção deste estabelecimento. As desculpas são, muito especialmente, endereçadas ao FA e ao JV, que, estando eu entretido com os referidos assuntos, sendo o MBF um dedicado paterfamillias e viajando o DBH por paragens bálticas, onde passeia a sua eloquência (vulgo: lábia), assumiram sozinhos e com galhardia a dura tarefa de pegar o touro pelos cornos. Espero retomar o ritmo vertiginoso a que me habituei já nas próximas horas, agora que pus a leitura em dia, regressei a níveis aceitáveis de higiene e estou substancialmente mais familiarizado com as linhas gerais da reforma da acção executiva. En garde, amigos!
FMS
FMS
quarta-feira, julho 09, 2003
O custo das custas
Pode ter começado a principal reforma da Justiça em Portugal. Não se trata de criar Tribunais, formar Juízes ou Magistrados, dar mais ou menos regalias aos funcionários judiciais, fazer mudanças sucessivas aos Códigos de Processo – todas estas coisas podem ser mais ou menos importantes para o sistema mas, na base de tudo, está a relação das pessoas (singulares ou colectivas) com o sistema judicial.
No essencial essa relação baseia-se num exercício custos/vantagens em que se balança a vantagem da satisfação de uma pretensão com os custos de a obter através dos tribunais. Em Portugal esse exercício pode ser formalmente equilibrado mas está também decididamente falsificado com custas excessivamente baixas e um serviço, a condizer: manifestamente pobre! Agora é essencial garantir que as regras de recuperação das custas de parte, também elas desadequadas face à realidade da litigância no século XXI, sejam actualizadas.
No essencial o que importa garantir, além de ter os cofres dos tribunais equilibrados, é que cada parte assegurará à partida as suas próprias despesas de representação (ajudando o Estado aqueles com evidente carência de meios). Na decisão final sobre custas, por via de regra, a parte vencedora recuperará as suas despesas e, se necessário, poderá o Juíz ou um técnico assegurar que o montante a recuperar é justo e proporcional. Será esse momento também importante para assegurar que a litigância de má fé sai fortemente penalizada.
Com um sistema eficaz de custas judiciais em que o Estado garanta o equilíbrio dos cofres dos tribunais (através de taxas de justiça mais elevadas), em que o auxílio no acesso à Justiça seja prestado a quem genuinamente dele carece (verificando o mérito das pretensões de quem pretende beneficiar dele) e em que as partes recuperem as suas despesas na medida do mérito da sua causa (beneficiando quem ganha e quem actua com dignidade) volta-se a equilibrar a balança da Justiça.
FA
Pode ter começado a principal reforma da Justiça em Portugal. Não se trata de criar Tribunais, formar Juízes ou Magistrados, dar mais ou menos regalias aos funcionários judiciais, fazer mudanças sucessivas aos Códigos de Processo – todas estas coisas podem ser mais ou menos importantes para o sistema mas, na base de tudo, está a relação das pessoas (singulares ou colectivas) com o sistema judicial.
No essencial essa relação baseia-se num exercício custos/vantagens em que se balança a vantagem da satisfação de uma pretensão com os custos de a obter através dos tribunais. Em Portugal esse exercício pode ser formalmente equilibrado mas está também decididamente falsificado com custas excessivamente baixas e um serviço, a condizer: manifestamente pobre! Agora é essencial garantir que as regras de recuperação das custas de parte, também elas desadequadas face à realidade da litigância no século XXI, sejam actualizadas.
No essencial o que importa garantir, além de ter os cofres dos tribunais equilibrados, é que cada parte assegurará à partida as suas próprias despesas de representação (ajudando o Estado aqueles com evidente carência de meios). Na decisão final sobre custas, por via de regra, a parte vencedora recuperará as suas despesas e, se necessário, poderá o Juíz ou um técnico assegurar que o montante a recuperar é justo e proporcional. Será esse momento também importante para assegurar que a litigância de má fé sai fortemente penalizada.
Com um sistema eficaz de custas judiciais em que o Estado garanta o equilíbrio dos cofres dos tribunais (através de taxas de justiça mais elevadas), em que o auxílio no acesso à Justiça seja prestado a quem genuinamente dele carece (verificando o mérito das pretensões de quem pretende beneficiar dele) e em que as partes recuperem as suas despesas na medida do mérito da sua causa (beneficiando quem ganha e quem actua com dignidade) volta-se a equilibrar a balança da Justiça.
FA
terça-feira, julho 08, 2003
E não é que resolveram querer ter graça?
MC, mais preocupado com a saúde da sua coluna vertebral - putativamente ameaçada pelo opressivo rol de nomes que, a custo, terei conseguido amealhar para a minha causa infame - do que com a coerência do seu discurso, depois de proclamar que Pedrito
"Só não pode é esfaquear barbaramente, até à morte, touros indefesos para gáudio alarve da malta nas tardes de domingo em que não há bola",
rotulando desta forma graciosa e (evidentemente) inócua todos os aficionados,
diz agora que esta questão "não (é) sobre quem “gosta” e quem deixa de gostar, que é coisa que francamente não me interessa nem um pouco e que não está de todo em causa.".
Para quem não gosta de ditames ex-cathedra, não está mal.
Em matéria de acrobacias argumentativas estamos, portanto, conversados.
Genuinamente consternado pela alegada incompreensão de MC quanto ao motivo da minha catedrática invocação daqueles nomes, prefiro acreditar que se tratou apenas de um exercíco de "espúria e inútil" tentativa de ironia.
Citando a minha frase preferida do seu arrazoado galhofeiro: "A verdade é que não nos diz nada, rigorosamente nada, sobre questões de facto".
Mas não nos desfaleça a esperança, que há suspeitas de que MC ainda voltará a falar do assunto...
Aguardemos, pois.
Ansiosamente.
JV
MC, mais preocupado com a saúde da sua coluna vertebral - putativamente ameaçada pelo opressivo rol de nomes que, a custo, terei conseguido amealhar para a minha causa infame - do que com a coerência do seu discurso, depois de proclamar que Pedrito
"Só não pode é esfaquear barbaramente, até à morte, touros indefesos para gáudio alarve da malta nas tardes de domingo em que não há bola",
rotulando desta forma graciosa e (evidentemente) inócua todos os aficionados,
diz agora que esta questão "não (é) sobre quem “gosta” e quem deixa de gostar, que é coisa que francamente não me interessa nem um pouco e que não está de todo em causa.".
Para quem não gosta de ditames ex-cathedra, não está mal.
Em matéria de acrobacias argumentativas estamos, portanto, conversados.
Genuinamente consternado pela alegada incompreensão de MC quanto ao motivo da minha catedrática invocação daqueles nomes, prefiro acreditar que se tratou apenas de um exercíco de "espúria e inútil" tentativa de ironia.
Citando a minha frase preferida do seu arrazoado galhofeiro: "A verdade é que não nos diz nada, rigorosamente nada, sobre questões de facto".
Mas não nos desfaleça a esperança, que há suspeitas de que MC ainda voltará a falar do assunto...
Aguardemos, pois.
Ansiosamente.
JV
segunda-feira, julho 07, 2003
Touradas O Miguel Cabrita suspeita que ainda voltará a falar do assunto em epígrafe. Não sei ao certo quais as razões por detrás dessa suspeita mas suspeito que o que ele suspeita tem razão de ser. Deve ter. Pois se o MC se sente na obrigação de responder a um exercício “espúrio e inútil” que apresenta “argumentos de tipo curricular como suposta prova não se sabe do quê”... Talvez seja só para defender os “incautos” que, coitados, se podem deixar impressionar por “esse tipo de malabarismo” que a ele, seguramente uma pessoa mais esclarecida, não lhe diz “rigorosamente nada sobre questões de facto”.
Não sei que questões de facto é que o MC quereria abordar mas, ainda assim, não me parece que este seja o local mais adequado para uma discussão dos factos comumente debatidos neste tema. Será mais importante se calhar levar o tema para outro plano e evitar a “apologia ex-cathedra” do que quer que seja.
Por mais que o MC apregoe o contrário, a tourada não é uma prática cruel e bárbara que causa aos animais em causa um inenarrável sofrimento. Crueldade, barbarismo, sofrimento, são conceitos valorativos que necessária e forçosamente derivam de uma pre-impressão sobre o objecto em causa (para não dizer preconceito). O mesmo se pode dizer de termos como arte, tradição ou cultura empregues pela outra parte neste debate.
Aliás, é por causa de ideias pre-concebidas e slogans de cartaz como “a tourada não é arte é tortura” que esta discussão normalmente não passa do insulto ou, quanto muito, da ironia ou sarcasmo mais ou menos elevados de um e outro lado.
A questão para mim é outra e gostava que o MC a comentasse. Qual é o valor que está em causa para que se proíba uma determinada prática humana? Quais os critérios e os limites dessa proibição? Olhemos para a lógica da lei penal se isso servir de ajuda. Olhemos para as regras da proporcionalidade na restrição das liberdades individuais se isso for de todo útil. Elevemos o debate acima daquilo que é normal no nosso país acerca deste tema.
Para mim (e isto é o mesmo argumento que se debate neste momento em Inglaterra a propósito da caça à raposa como a justificação para a Câmara dos Lordes vetar a lei que a proíbe) o que está em causa ao fim e ao cabo é a liberdade individual dos cidadãos e não os “direitos dos animais” (um conceito aliás improvável do ponto de vista jurídico). Até me conseguirem apontar as razões ponderosas que justificam a limitação da minha vontade e determinação individuais, não posso deixar de considerar uma intromissão injustificada por parte do Estado na minha vida qualquer iniciativa que vá nesse sentido.
Quanto aos nomes indicados pelo João, além de serem todos aficionados famosíssimos cujo elencar é uma tarefa mais fácil do que o MC supõe dada a vastíssima escolha disponível, servem sobretudo de conforto aos restantes aficionados (menos famosos e seguramente menos dotados de “sensibilidade e bom senso”) de que afinal talvez não sejam a chusma de brutos selvagens e sanguinários que do outro lado da barricada querem dar a entender.
Os incautos? Deixá-los estar. Se o debate for honesto e sério poderão honesta e seriamente formar a sua própria opinião. Se o debate for inquinado e viciado há que esperar que as pessoas saibam ver quem o inquina e vicia. A verdade vem sempre ao de cima e, a propósito de liberdade, já dizia o William Wallace (versão Mel Gibson), “they can never take away our freedom!”
FA
Não sei que questões de facto é que o MC quereria abordar mas, ainda assim, não me parece que este seja o local mais adequado para uma discussão dos factos comumente debatidos neste tema. Será mais importante se calhar levar o tema para outro plano e evitar a “apologia ex-cathedra” do que quer que seja.
Por mais que o MC apregoe o contrário, a tourada não é uma prática cruel e bárbara que causa aos animais em causa um inenarrável sofrimento. Crueldade, barbarismo, sofrimento, são conceitos valorativos que necessária e forçosamente derivam de uma pre-impressão sobre o objecto em causa (para não dizer preconceito). O mesmo se pode dizer de termos como arte, tradição ou cultura empregues pela outra parte neste debate.
Aliás, é por causa de ideias pre-concebidas e slogans de cartaz como “a tourada não é arte é tortura” que esta discussão normalmente não passa do insulto ou, quanto muito, da ironia ou sarcasmo mais ou menos elevados de um e outro lado.
A questão para mim é outra e gostava que o MC a comentasse. Qual é o valor que está em causa para que se proíba uma determinada prática humana? Quais os critérios e os limites dessa proibição? Olhemos para a lógica da lei penal se isso servir de ajuda. Olhemos para as regras da proporcionalidade na restrição das liberdades individuais se isso for de todo útil. Elevemos o debate acima daquilo que é normal no nosso país acerca deste tema.
Para mim (e isto é o mesmo argumento que se debate neste momento em Inglaterra a propósito da caça à raposa como a justificação para a Câmara dos Lordes vetar a lei que a proíbe) o que está em causa ao fim e ao cabo é a liberdade individual dos cidadãos e não os “direitos dos animais” (um conceito aliás improvável do ponto de vista jurídico). Até me conseguirem apontar as razões ponderosas que justificam a limitação da minha vontade e determinação individuais, não posso deixar de considerar uma intromissão injustificada por parte do Estado na minha vida qualquer iniciativa que vá nesse sentido.
Quanto aos nomes indicados pelo João, além de serem todos aficionados famosíssimos cujo elencar é uma tarefa mais fácil do que o MC supõe dada a vastíssima escolha disponível, servem sobretudo de conforto aos restantes aficionados (menos famosos e seguramente menos dotados de “sensibilidade e bom senso”) de que afinal talvez não sejam a chusma de brutos selvagens e sanguinários que do outro lado da barricada querem dar a entender.
Os incautos? Deixá-los estar. Se o debate for honesto e sério poderão honesta e seriamente formar a sua própria opinião. Se o debate for inquinado e viciado há que esperar que as pessoas saibam ver quem o inquina e vicia. A verdade vem sempre ao de cima e, a propósito de liberdade, já dizia o William Wallace (versão Mel Gibson), “they can never take away our freedom!”
FA
sexta-feira, julho 04, 2003
quinta-feira, julho 03, 2003
Duas pessoas Uma pessoa de esquerda exibe um cartaz e é um manifestante. Uma pessoa de direita escreve um artigo e é demagogo.
Uma pessoa de esquerda faz um golpe de estado e é um libertador. Uma pessoa de direita ganha umas eleições e é um perigo à estabilidade.
Uma pessoa de esquerda comete atentados e é um ídolo. Uma pessoa de direita não responde aos jornalistas e é autoritário.
Uma pessoa de esquerda propõe uma revolução e é um visionário. Uma pessoa de direita propõe reformas e é reaccionário.
Uma pessoa de esquerda defende o aborto e é progressista. Uma pessoa de direita defende a tradição e é retrógrado.
Uma pessoa de esquerda protesta contra a guerra e é um pacifista. Uma pessoa de direita insurge-se contra a cobardia e é belicista.
Uma pessoa de esquerda diz o que pensa e é idealista. Uma pessoa de direita pensa a realidade e é conformista.
Uma pessoa de esquerda muda de opinião e é renovador. Uma pessoa de direita fala de história e é revisionista.
Uma pessoa de esquerda fala na distribuição de riqueza e é justo. Uma pessoa de direita fala no direito de propriedade e é latifundiário.
Uma pessoa de esquerda fala do futuro e é sonhador. Uma pessoa de direita enaltece o passado e é fascista.
Uma pessoa de esquerda defende as minorias e é um exemplo. Uma pessoa de direita recusa extremismos e é intolerante.
Uma pessoa de esquerda fala da direita e é liberal. Uma pessoa de direita fala da esquerda e é hipócrita.
FA
Uma pessoa de esquerda faz um golpe de estado e é um libertador. Uma pessoa de direita ganha umas eleições e é um perigo à estabilidade.
Uma pessoa de esquerda comete atentados e é um ídolo. Uma pessoa de direita não responde aos jornalistas e é autoritário.
Uma pessoa de esquerda propõe uma revolução e é um visionário. Uma pessoa de direita propõe reformas e é reaccionário.
Uma pessoa de esquerda defende o aborto e é progressista. Uma pessoa de direita defende a tradição e é retrógrado.
Uma pessoa de esquerda protesta contra a guerra e é um pacifista. Uma pessoa de direita insurge-se contra a cobardia e é belicista.
Uma pessoa de esquerda diz o que pensa e é idealista. Uma pessoa de direita pensa a realidade e é conformista.
Uma pessoa de esquerda muda de opinião e é renovador. Uma pessoa de direita fala de história e é revisionista.
Uma pessoa de esquerda fala na distribuição de riqueza e é justo. Uma pessoa de direita fala no direito de propriedade e é latifundiário.
Uma pessoa de esquerda fala do futuro e é sonhador. Uma pessoa de direita enaltece o passado e é fascista.
Uma pessoa de esquerda defende as minorias e é um exemplo. Uma pessoa de direita recusa extremismos e é intolerante.
Uma pessoa de esquerda fala da direita e é liberal. Uma pessoa de direita fala da esquerda e é hipócrita.
FA
quarta-feira, julho 02, 2003
"AS BRISAS SALGADAS E SABOROSAS DA NOSSA MANEIRA DE SER": O fenómeno galopante dos blogs e das almas que dão folga à higiene e aos laços sociais para se dedicarem à missão de os manter vivos e saudáveis tem sido amplamente debatido e analisado na imprensa tradicional que se tem debruçado sobre ele e, muito particularmente, na própria blogosfera. Ora, no meio deste umbiguismo existencialista, desta insaciável procura do justo papel dos blogs, do seu lugar no mundo, muitos foram os que notaram já a substancial vantagem quantitativa de que a direita goza. E ninguém, que eu saiba, se incomodou em atribuir qualquer razão explicativa a tal disparidade.
Não sei se essa explicação racional existitirá. A existir, suspeito que radica na própria disposição do homem conservador, na sua imensa gratidão pelo que está disponível e no prudente desdém com que encara as promessas de futuros sorridentes, mas desconhecidos. Os melhores blogs, mesmo quando expõem ideias políticas ou divulgam manifestações artísticas, são, acima de tudo, registos diarísticos e pessoalíssimos. Neles, a política e a arte são colocados no mesmo plano que todos os demais pequenos prazeres da vida, ao lado do passeio no parque e dos charutos. Mesmo os que dizem que outro mundo é possível, não se servem dos respectivos blogs para lutar por essa eventualidade, mas sim para manifestarem e partilharem o que em si acontece dos acontecimentos que testemunham e as impressões que lhes suscita o quotidiano. E, até hoje, não me foi dado a conhecer outro meio que se adeque tão bem a essa vontade de partilha como os blogs. Um meio que, convém notar, vive de um estilo de escrita imediatista e confessional que, na imprensa tradicional, apenas encontra um paralelo - ainda que ténue - na tradição dos cronistas anglo-saxónicos (lembrar Auberon Waugh, Jeffrey Bernard, Theodore Dalrymple e outros), importada para Portugal por Miguel Esteves Cardoso e pela escola do Independente.
Ou seja: quem vive ansiando pela ruína do mundo que temos e pela sua substituição por um outro qualquer, se quiser escrever sobre esse seus sonhos molhados e gizar esquemas para a sabotagem das estruturas que suportam a vivência em comum na actualidade, não terá grande sucesso na blogosfera. É para isso que existe o Combate e o Monde Diplomatique.
Como diz o MEC no prefácio a'"Os Meus Problemas", "(...) só um conservador compreende inteiramente o encanto do que é passageiro. As modas, por exemplo, são um prazer que nos vem do castigo da tradição. O único devaneio eterno é a efemeridade". Por outro lado, o feitio conservador é irritante porque relembra ou procura recuperar coisas do arco-da-velha, que não lembram ao diabo, que já não fazem sequer sentido na vida do dia-a-dia, que não contribuem para o bem-estar das classes oprimidas, etc. Resultado frequente: é-se involuntariamente reaccionário."(...) "No entanto, ser reaccionário de um modo minimamente decente também é um ofício que se vai tornando raro, como o de jardineiro ou o de amolador. Alguém tem de fazê-lo." Muito bem. É para isso que cá estamos.
Estas considerações servem apenas para iniciar a discussão. Gostaria de ler comentários do MEC (por razões óbvias) e do Pacheco Pereira (o melhor blogger a discutir o fenómeno).
FMS
Não sei se essa explicação racional existitirá. A existir, suspeito que radica na própria disposição do homem conservador, na sua imensa gratidão pelo que está disponível e no prudente desdém com que encara as promessas de futuros sorridentes, mas desconhecidos. Os melhores blogs, mesmo quando expõem ideias políticas ou divulgam manifestações artísticas, são, acima de tudo, registos diarísticos e pessoalíssimos. Neles, a política e a arte são colocados no mesmo plano que todos os demais pequenos prazeres da vida, ao lado do passeio no parque e dos charutos. Mesmo os que dizem que outro mundo é possível, não se servem dos respectivos blogs para lutar por essa eventualidade, mas sim para manifestarem e partilharem o que em si acontece dos acontecimentos que testemunham e as impressões que lhes suscita o quotidiano. E, até hoje, não me foi dado a conhecer outro meio que se adeque tão bem a essa vontade de partilha como os blogs. Um meio que, convém notar, vive de um estilo de escrita imediatista e confessional que, na imprensa tradicional, apenas encontra um paralelo - ainda que ténue - na tradição dos cronistas anglo-saxónicos (lembrar Auberon Waugh, Jeffrey Bernard, Theodore Dalrymple e outros), importada para Portugal por Miguel Esteves Cardoso e pela escola do Independente.
Ou seja: quem vive ansiando pela ruína do mundo que temos e pela sua substituição por um outro qualquer, se quiser escrever sobre esse seus sonhos molhados e gizar esquemas para a sabotagem das estruturas que suportam a vivência em comum na actualidade, não terá grande sucesso na blogosfera. É para isso que existe o Combate e o Monde Diplomatique.
Como diz o MEC no prefácio a'"Os Meus Problemas", "(...) só um conservador compreende inteiramente o encanto do que é passageiro. As modas, por exemplo, são um prazer que nos vem do castigo da tradição. O único devaneio eterno é a efemeridade". Por outro lado, o feitio conservador é irritante porque relembra ou procura recuperar coisas do arco-da-velha, que não lembram ao diabo, que já não fazem sequer sentido na vida do dia-a-dia, que não contribuem para o bem-estar das classes oprimidas, etc. Resultado frequente: é-se involuntariamente reaccionário."(...) "No entanto, ser reaccionário de um modo minimamente decente também é um ofício que se vai tornando raro, como o de jardineiro ou o de amolador. Alguém tem de fazê-lo." Muito bem. É para isso que cá estamos.
Estas considerações servem apenas para iniciar a discussão. Gostaria de ler comentários do MEC (por razões óbvias) e do Pacheco Pereira (o melhor blogger a discutir o fenómeno).
FMS
NÃO NO NOSSO NOME
O sangue democrático de uma certa esquerda, borbulha de indignação perante o facto de Berlusconi ser o novo presidente da União. Seria bom de os lembrar que, com um presidente europeu eleito, este senhor poderia estar lá vários anos e não apenas seis meses.
Aposto que isto enfurece mais a esquerda do que, para mim, a ideia de ter o Nanni Moretti como presidente da Europa.
DBH
O sangue democrático de uma certa esquerda, borbulha de indignação perante o facto de Berlusconi ser o novo presidente da União. Seria bom de os lembrar que, com um presidente europeu eleito, este senhor poderia estar lá vários anos e não apenas seis meses.
Aposto que isto enfurece mais a esquerda do que, para mim, a ideia de ter o Nanni Moretti como presidente da Europa.
DBH
PEDIDO DE DESCULPAS: Diz-me o sitemeter que presta serviços de contabilidade a este estabelecimento que alguém nos visitou após uma busca avançada no Google com as palavras "troca de casais". A culpa é, obviamente, do meu post acerca dos festins libidinosos organizados por um membro do Partido Conservador britânico, onde se pratica um sortido "chavascal galhofeiro" (onde é que eu já li isto?). Por isso, aqui deixo um sentido pedido de desculpas à pessoa em questão, esperando sinceramente não ter constituído um obstáculo substancial à sua busca da felicidade terrena.
FMS
FMS
terça-feira, julho 01, 2003
Prescrição! A vida no mundo civilizado tem destas coisas. Uns familiares em Portugal pediram-me para ver se arranjava aqui um medicamento que não existe lá e parece que vai muito recomendado pelos médicos Portugueses para o tratamento em causa. O medicamento em sí é normalíssimo e não tenho dúvidas que o poderia comprar em Portugal sem problema numa farmácia qualquer. Aqui? Nem pensar. "Só com receita médica" disse-me o farmaceuta com ar de poucos amigos. Ainda tentei argumentar que era para alguém que não vivia em Inglaterra, que não havia este medicamento em Portugal, que a pessoa estava a passar muito mal, que era um medicamento sem mal nenhum, se não dava para fazer um jeitinho... ALTO!!! “Um jeitinho?!?!” Percebi rapidamente o “faut pas”, dei corda aos sapatos e ando a ver se o Special Branch não me vai buscar a casa esta noite.
FA
FA