MANDEM DIZER AO COLECTIVO QUE LANCHO COM ELES MAS QUE PREFIRO EU PRÓPRIO ESCOLHER O MEU PRÓPRIO MENU
Este é um grande post do Pedro Mexia, daqueles que ele resolve escrever quando lhe apetece que sintamos saudades dos tempos em que escrevia diariamente sobre política. Por muito paradoxal que possa parecer, é um texto com o qual me identifico apesar de não concordar com uma parte substancial do mesmo.
Identifico-me com o individualismo radical do Pedro e com a pouca paciência para integrar paradas intelectuais. É uma disposição libertária que tem desenvolvido em muitos outros textos, em muitos outros lugares, tendo normalmente como alvo de eleição as cliques partidárias. Nisso tem feito escola, com a ajuda sempre leal de um país pouco dado à opinião independente.
O problema é que, de tanto insistir neste auto-retrato, de tanto tempo dispendido a desenvolver a imagem da ovelha negra orgulhosa, o Pedro deixa-se resvalar para o extremo oposto, insinuando que nenhum espírito livre pode algum dia exercer essa manifestação clássica da Liberdade que é a liberdade de associação e partindo do princípio que apenas se podem associar pessoas com ideias absolutamente idênticas.
Eu, por exemplo, partilho este blog com quatro amigos com quem, em muitos assuntos, tenho divergências acentuadas, precisamente as mesmas demonstradas na organização partidária onde os conheci. E, de todos os meus amigos, digo-o sem qualquer dúvida, são os que mais livremente pensam a sua circunstância. Pelo humor com que aceitam os seus estereótipos, pelo desprendimento perante a carneirice e por todas as qualidades que, segundo o que dele conheço, o Pedro tanto preza. Incluindo, claro, a patológica mas admiravelmente aristocrática impreparação do Diogo para conhecer 
"as bases".  
Mas podemos também desinstitucionalizar o raciocínio e falar do assunto 
du jour. Eu detesto, pelo menos tanto como o Pedro, que pensem que tenho um pensamento padronizado e ancorado em raciocínios alheios, o que, em bom rigor, é um não pensamento. Mas por que razão serei menos independente por preferir Bush a Kerry?
Se o ser-se de direita não se afere aos pontos, também não se é mais ou menos livre consoante os pontapés que cada um vá dando na lógica. Acredito, pelo que leio, não ser essa a ideia que o Pedro quer transmitir. Mas confesso sentir uma leve irritação quando o vejo acoplar a cada declaração de dissidência a vaidade da independência. E não é pela vaidade. É pela repetição.
E Pedro, não me lixes. Porque, precisamente pela tua aversão à standardização intelectual e à submissão das massas às ideias banais e frágeis de documentaristas sem escrúpulos e estrelas pop em decadência, gostaste tanto da vitória de Bush como eu e todos aqueles cujo cérebro pareces julgar formatado.
FMS