PS - VIDA SELVAGEM
Aviso à população: Depois de se afirmar um "animal feroz", o líder dos socialistas promete agora "oposição mais enérgica e eficaz".
A fereza desta nova declaração levou a comunidade científica a considerar que, afinal, o Lince da Maçada não está extinto.
JV
«... depois dos três impérios dos Assírios, Persas e Gregos, que já passaram, e depois do quarto, que ainda hoje dura, que é o romano, há-de haver um novo e melhor império que há-de ser o quinto e último» Padre António Vieira oquintodosimperios@gmail.com
quinta-feira, setembro 30, 2004
Responsabilidade social
Os casos da “pequena Joana” e do refém britânico Ken Bigley têm em comum a a curiosidade mórbida do público pela tragédia humana e a cobertura jornalística dessa mesma realidade trágica – mais sociológico o primeiro caso e mais político o segundo. O artigo do JPP no Público de hoje analisa aliás a questão portuguesa com uma crueldade exemplar.
A questão política com que o governo de Blair se debate não é menos problemática e foi, em grande parte, um problema criado pelos media. Até que ponto é legítimo aos governos ocidentais limitar a liberdade de imprensa em determinados acontecimentos quando a difusão da notícia serve interesses contrários à Sociedade? Visto de outro modo, haverá legitimidade para exigir aos media cautela e bom-senso na propagação de notícias cujo efeito é, na prática, favorável aos criminosos que criam o facto noticioso?
Lembro-me, a este propósito, da relutância com que os media ingleses identificam o móbil por detrás de actos que interrompem um espectáculo desportivo para, justamente, não fomentar esse tipo de actos. Porque não aplicar o mesmo criterio quando o que está em causa é muito mais importante que um jogo de futebol ou um grande premio de Fórmula 1?
Se os meios de comunicação querem ser “Comunicação Social” têm que aceitar a responsabilidade social que daí advém.
FA
Os casos da “pequena Joana” e do refém britânico Ken Bigley têm em comum a a curiosidade mórbida do público pela tragédia humana e a cobertura jornalística dessa mesma realidade trágica – mais sociológico o primeiro caso e mais político o segundo. O artigo do JPP no Público de hoje analisa aliás a questão portuguesa com uma crueldade exemplar.
A questão política com que o governo de Blair se debate não é menos problemática e foi, em grande parte, um problema criado pelos media. Até que ponto é legítimo aos governos ocidentais limitar a liberdade de imprensa em determinados acontecimentos quando a difusão da notícia serve interesses contrários à Sociedade? Visto de outro modo, haverá legitimidade para exigir aos media cautela e bom-senso na propagação de notícias cujo efeito é, na prática, favorável aos criminosos que criam o facto noticioso?
Lembro-me, a este propósito, da relutância com que os media ingleses identificam o móbil por detrás de actos que interrompem um espectáculo desportivo para, justamente, não fomentar esse tipo de actos. Porque não aplicar o mesmo criterio quando o que está em causa é muito mais importante que um jogo de futebol ou um grande premio de Fórmula 1?
Se os meios de comunicação querem ser “Comunicação Social” têm que aceitar a responsabilidade social que daí advém.
FA
A LATA
Escrevendo sobre o comportamento das direitas do Leste nas instituições comunitárias, o Dr. Portas (o outro) teve esta tirada genial: "aquelas cabecinhas foram educadas no pensamento policiado e nas verdades oficiais. Nota-se que não mudaram um bocadinho...".
Como tenho a certeza que nenhum dos representantes dessas direitas nasceu depois de 1989, presumo que se esteja a referir à educação, ao pensamento policiado e às verdades oficiais que ele próprio defendeu até ser atropelado pela História.
JV
Escrevendo sobre o comportamento das direitas do Leste nas instituições comunitárias, o Dr. Portas (o outro) teve esta tirada genial: "aquelas cabecinhas foram educadas no pensamento policiado e nas verdades oficiais. Nota-se que não mudaram um bocadinho...".
Como tenho a certeza que nenhum dos representantes dessas direitas nasceu depois de 1989, presumo que se esteja a referir à educação, ao pensamento policiado e às verdades oficiais que ele próprio defendeu até ser atropelado pela História.
JV
quarta-feira, setembro 29, 2004
História relativizada
Várias dúvidas me assaltaram ao ler este poste do relativo Filipe Nunes. Com que parte da prelecção de Aznar é que o Filipe discorda? Será uma tentativa de relativizar a história?
É ou não verdade que o século VIII marca o início da conquista/ocupação muçulmana da Península Iberica? Não consta dos anais da história que o Tariq (assim se chamava o rapaz) viesse apenas ver as vistas e gozar dos bons ares da Andaluzia quando atravessou o estreito de Gibraltar (a montanha de Tariq) no ano 711 (se não me falha a memória). Por outro lado, não é menos verdade que nos comunicados e na mensagem panfletária da Al-Qaeda constam referências ao regresso do Al-Andalus a mãos "fiéis" tendo aliás sido feitos paralelos entre o cerco de Granada e as invasões do Afeganistão e Iraque.
Ou muito me engano ou o Aznar não estaria a minimizar a inegável (e em muitos aspectos enriquecedora) influência muçulmana na arte, história, línguas e tradições da Península. Tal relativização da história seria tão grave como a manipulação grosseira que dela fazem os responsáveis da Al-Qaeda. Seria, além disso, uma prova de ignorância extrema própria do pensamento fundamentalista dessa organização e não de um líder político de um país democrático.
Parece-me que de tanto querer ler nas palavras de Aznar aquilo que ele nunca disse para fazer uma piada (com alguma graça reconheço), o Filipe se precipitou no seu comentário.
FA
Várias dúvidas me assaltaram ao ler este poste do relativo Filipe Nunes. Com que parte da prelecção de Aznar é que o Filipe discorda? Será uma tentativa de relativizar a história?
É ou não verdade que o século VIII marca o início da conquista/ocupação muçulmana da Península Iberica? Não consta dos anais da história que o Tariq (assim se chamava o rapaz) viesse apenas ver as vistas e gozar dos bons ares da Andaluzia quando atravessou o estreito de Gibraltar (a montanha de Tariq) no ano 711 (se não me falha a memória). Por outro lado, não é menos verdade que nos comunicados e na mensagem panfletária da Al-Qaeda constam referências ao regresso do Al-Andalus a mãos "fiéis" tendo aliás sido feitos paralelos entre o cerco de Granada e as invasões do Afeganistão e Iraque.
Ou muito me engano ou o Aznar não estaria a minimizar a inegável (e em muitos aspectos enriquecedora) influência muçulmana na arte, história, línguas e tradições da Península. Tal relativização da história seria tão grave como a manipulação grosseira que dela fazem os responsáveis da Al-Qaeda. Seria, além disso, uma prova de ignorância extrema própria do pensamento fundamentalista dessa organização e não de um líder político de um país democrático.
Parece-me que de tanto querer ler nas palavras de Aznar aquilo que ele nunca disse para fazer uma piada (com alguma graça reconheço), o Filipe se precipitou no seu comentário.
FA
Cardboard suitcase
Ontem à noite o Manel fez um jantar de despedida. Volta a Portugal. Já está de malas aviadas e sexta-feira pega ao trabalho em Lisboa. Assim põe fim à sua aventura Londrina graças à qual provavelmente conseguiu conquistar o lugar de destaque que o espera em solo pátrio.
E os que ficam? Comentávamos ontem alguns que, tirando o facto do país não funcionar, Portugal até apetece. Só não apetece lidar com os impecilhos diários, as mentalidades tacanhas, os hábitos provincianos, os vícios burocráticos.
Ó Manel, não se arranja por aí nenhuma reformazita vitalícia na tua empresa nova?
FA
PS – o anterior vai escrito com a perfeita consciência de que é por causa de opiniões destas que o termo “estrangeirado” tem a conotação que tem.
Ontem à noite o Manel fez um jantar de despedida. Volta a Portugal. Já está de malas aviadas e sexta-feira pega ao trabalho em Lisboa. Assim põe fim à sua aventura Londrina graças à qual provavelmente conseguiu conquistar o lugar de destaque que o espera em solo pátrio.
E os que ficam? Comentávamos ontem alguns que, tirando o facto do país não funcionar, Portugal até apetece. Só não apetece lidar com os impecilhos diários, as mentalidades tacanhas, os hábitos provincianos, os vícios burocráticos.
Ó Manel, não se arranja por aí nenhuma reformazita vitalícia na tua empresa nova?
FA
PS – o anterior vai escrito com a perfeita consciência de que é por causa de opiniões destas que o termo “estrangeirado” tem a conotação que tem.
terça-feira, setembro 28, 2004
POR QUE SERÁ...
que, quando há uma desgraça ou contratempo que envolva uma criança, esta passa automaticamente a ser apelidada a/o pequena/o ou a/o pequenita/o pela comunicação social?
Qual é a necessidade mórbida de se dizer, e de se dizer sempre (quase como se se tratasse de um nome de código), "a pequena Joana"?
A propósito, recordo-me - num registo Jornal Nacional, um bocado mais alegre - da "pequenita Bruna, uma princesa para seu pai" e de outras pobres crianças - normalmente vestidas de tule-rebuçado - que enfrentaram, com dificuldade e em directo, párocos por causa de primeiras comunhões adiadas, mães desertoras e pais homossexuais. Tudo isto e mais a carga deprimente desta adjectivação constante.
Para quando o fim desta prática verdadeiramente lamentável?
JV
que, quando há uma desgraça ou contratempo que envolva uma criança, esta passa automaticamente a ser apelidada a/o pequena/o ou a/o pequenita/o pela comunicação social?
Qual é a necessidade mórbida de se dizer, e de se dizer sempre (quase como se se tratasse de um nome de código), "a pequena Joana"?
A propósito, recordo-me - num registo Jornal Nacional, um bocado mais alegre - da "pequenita Bruna, uma princesa para seu pai" e de outras pobres crianças - normalmente vestidas de tule-rebuçado - que enfrentaram, com dificuldade e em directo, párocos por causa de primeiras comunhões adiadas, mães desertoras e pais homossexuais. Tudo isto e mais a carga deprimente desta adjectivação constante.
Para quando o fim desta prática verdadeiramente lamentável?
JV
segunda-feira, setembro 27, 2004
LER TUDO, SFF
Tenho, em princípio, poucas oportunidades para concordar com o Daniel Oliveira. Aliás, por princípios, quase nunca concordo com o seu Barnabé. Quando tal concordância acontece não a costumo publicar num post, pois sei como isso os faria nervosos.
Mas ao ler o texto do Público, onde cheguei via Daniel, só lhe posso agradecer o link.
O que diz o texto:
"Há quase trinta anos a celebrar missa naquela zona, Domingos Monteiro diz que a revolta popular e todo o circo mediático que assaltou Figueira "não levam a nada" e só servem para que "se esqueça o essencial": os maus tratos que alguns pais dão aos seus filhos e a inoperância da assistência social e dos tribunais de menores.
"Os técnicos da comissão de menores, quando foram lá a casa, declararam que não existiam sinais visíveis de maus tratos e, por isso, não deram qualquer importância à queixa. Como se os maus tratos de uma criança passassem só por ela andar com o corpo marcado", atira Domingos Monteiro, nervoso e revoltado.
O padre tem-se recusado a falar do caso, mesmo nas missas em Figueira, por entender que isso não leva a nada neste momento. "A missa é para pregar o Evangelho. O que eu gostava é que todas pessoas, as que vão à missa e as que não vão, tivessem noção que este caso tem que ver com um problema de educação. Não é andarem a ensinar músicas às crianças para cantarem no funeral da Joana, como parece que está a acontecer", refere, assinalando o interesse mórbido da população pela descoberta do cadáver. "A minha postura não é essa. Por isso não vou aos locais. Quando vejo um acidente na estrada, também não paro", assegura.
"Para mim, que acredito na ressurreição, a descoberta do cadáver não é o mais importante", aduz o clérigo, anunciando que, no dia 9 de Outubro, caso o corpo não apareça, promoverá uma procissão de velas desde Mexilhoeira Grande até Figueira, em nome da menina.
Esta iniciativa terá, no entanto, como principal objectivo acalmar o povo. Domingos Monteiro insiste: os males permanecem, o Estado negligente, a falta de valores das pessoas, manter-se-ão se tudo continuar como está. "Não tem nada que ver com religiosidade. Nem com o facto das pessoas irem ou não às missas. As pessoas antigamente iam mais às missas e os problemas eram mais do que muitos. A questão tem que ver com ajudar as pessoas a crescerem, a serem livres, com o trabalho no terreno", diz."
DBH
Tenho, em princípio, poucas oportunidades para concordar com o Daniel Oliveira. Aliás, por princípios, quase nunca concordo com o seu Barnabé. Quando tal concordância acontece não a costumo publicar num post, pois sei como isso os faria nervosos.
Mas ao ler o texto do Público, onde cheguei via Daniel, só lhe posso agradecer o link.
O que diz o texto:
"Há quase trinta anos a celebrar missa naquela zona, Domingos Monteiro diz que a revolta popular e todo o circo mediático que assaltou Figueira "não levam a nada" e só servem para que "se esqueça o essencial": os maus tratos que alguns pais dão aos seus filhos e a inoperância da assistência social e dos tribunais de menores.
"Os técnicos da comissão de menores, quando foram lá a casa, declararam que não existiam sinais visíveis de maus tratos e, por isso, não deram qualquer importância à queixa. Como se os maus tratos de uma criança passassem só por ela andar com o corpo marcado", atira Domingos Monteiro, nervoso e revoltado.
O padre tem-se recusado a falar do caso, mesmo nas missas em Figueira, por entender que isso não leva a nada neste momento. "A missa é para pregar o Evangelho. O que eu gostava é que todas pessoas, as que vão à missa e as que não vão, tivessem noção que este caso tem que ver com um problema de educação. Não é andarem a ensinar músicas às crianças para cantarem no funeral da Joana, como parece que está a acontecer", refere, assinalando o interesse mórbido da população pela descoberta do cadáver. "A minha postura não é essa. Por isso não vou aos locais. Quando vejo um acidente na estrada, também não paro", assegura.
"Para mim, que acredito na ressurreição, a descoberta do cadáver não é o mais importante", aduz o clérigo, anunciando que, no dia 9 de Outubro, caso o corpo não apareça, promoverá uma procissão de velas desde Mexilhoeira Grande até Figueira, em nome da menina.
Esta iniciativa terá, no entanto, como principal objectivo acalmar o povo. Domingos Monteiro insiste: os males permanecem, o Estado negligente, a falta de valores das pessoas, manter-se-ão se tudo continuar como está. "Não tem nada que ver com religiosidade. Nem com o facto das pessoas irem ou não às missas. As pessoas antigamente iam mais às missas e os problemas eram mais do que muitos. A questão tem que ver com ajudar as pessoas a crescerem, a serem livres, com o trabalho no terreno", diz."
DBH
quinta-feira, setembro 23, 2004
FAZ SENTIDO
Não sei o que me faz gostar tanto de ver a Holanda da janela de um avião, se tiques autoritários ou mero infantilismo. Tendo em conta a natureza do país e do povo respectivo, presumo poder afastar a primeira hipótese.
Mas, sendo assim, sendo aquele um país tão liberal e tolerante da diferença, por que razão estão os campos de cultivo tão obssessivamente organizados? Certo: basta deixar Portugal para deixarmos a angustiante desorganização paisagística. Só que a Holanda é diferente do resto da Europa. Toda a paisagem rural está impecavelmente dividida em parcelas de terreno exactamente iguais, distribuídas num dégradé de cores irrepreensível e vestidas de todo o tipo de verdes, nem sempre os mais discretos.
Repito: se não falamos de um país que vive debaixo do chicote, por que é que aquilo está assim tão arranjadinho, tão armado ao mete-nojo? Será pela mesma razão invocada no célebre sketch do Gato sobre aquelas exposições de material apreendido pela Judiciária? Será que há um gay que organiza aquilo tudo? Será que há muitos?
Bem, é na Holanda.
FMS
Não sei o que me faz gostar tanto de ver a Holanda da janela de um avião, se tiques autoritários ou mero infantilismo. Tendo em conta a natureza do país e do povo respectivo, presumo poder afastar a primeira hipótese.
Mas, sendo assim, sendo aquele um país tão liberal e tolerante da diferença, por que razão estão os campos de cultivo tão obssessivamente organizados? Certo: basta deixar Portugal para deixarmos a angustiante desorganização paisagística. Só que a Holanda é diferente do resto da Europa. Toda a paisagem rural está impecavelmente dividida em parcelas de terreno exactamente iguais, distribuídas num dégradé de cores irrepreensível e vestidas de todo o tipo de verdes, nem sempre os mais discretos.
Repito: se não falamos de um país que vive debaixo do chicote, por que é que aquilo está assim tão arranjadinho, tão armado ao mete-nojo? Será pela mesma razão invocada no célebre sketch do Gato sobre aquelas exposições de material apreendido pela Judiciária? Será que há um gay que organiza aquilo tudo? Será que há muitos?
Bem, é na Holanda.
FMS
FAZER CONTAS À VIDA
Tem toda a razão, o João Miranda. O fenómeno expansivo inesperado das companhias aéreas low budget e da revolução que as mesmas operaram nos hábitos e, consequentemente, no mercado dos transportes ilustram na perfeição que não há planificação que resista à voracidade do real - essa coisa incomodativa para tanta gente - e que o único evento verdadeiramente previsível é a destruição sistemática das nossas expectativas pelo inesperado que espreita ali ao virar da esquina.
O que custa é explicar que nem sempre o progresso se faz de organização e trabalho. Em grande parte dos casos, há mais bom senso no improviso do que na antecipação e mais realismo na preguiça do que no voluntarismo.
Os senhores do TGV devem andar a fazer contas à vida e a Ryanair prova que o João tem razão.
Mas, melhor ainda, prova que eu talvez tenha futuro.
FMS
Tem toda a razão, o João Miranda. O fenómeno expansivo inesperado das companhias aéreas low budget e da revolução que as mesmas operaram nos hábitos e, consequentemente, no mercado dos transportes ilustram na perfeição que não há planificação que resista à voracidade do real - essa coisa incomodativa para tanta gente - e que o único evento verdadeiramente previsível é a destruição sistemática das nossas expectativas pelo inesperado que espreita ali ao virar da esquina.
O que custa é explicar que nem sempre o progresso se faz de organização e trabalho. Em grande parte dos casos, há mais bom senso no improviso do que na antecipação e mais realismo na preguiça do que no voluntarismo.
Os senhores do TGV devem andar a fazer contas à vida e a Ryanair prova que o João tem razão.
Mas, melhor ainda, prova que eu talvez tenha futuro.
FMS
A sensatez d’après maradona
Ó Fernando, explica lá porque é que, pelo facto de não nos entendermos, eu é que tenho um problema de compreensão. Faz lá um esforço e vai ver o primeiríssimo post que eu coloquei nesta matéria. Vê lá tu que a lógica e a perspectiva desse post tinha muito pouco a haver com a caça à raposa e muito mais a haver com o modus operandi do governo trabalhista. Todo o debate que se lhe seguiu focou excusivamente o aspecto moralista da questão e, nesse contexto, as estatísticas que eu apresentei foram apresentadas para contrariar os preconceitos (superficialidades e adjacências) do género: isso da caça à raposa não passa de um entretém de meninos queques das famílias ricas e urbanas sem mais nada para fazer. Se não teve o mérito de convencer ninguém, pelo menos o debate ja serviu para desmistificar isso.
Quanto à questão de determinar se é sensato ou não uma sociedade alterar, regular, condicionar ou proibir determinadas actividades humanas que levam ao “sofrimento” dos animais, o Fernando parece sugerir que as estatísticas não importam. Ok. Então como é que se determina a sensatez da proibição ou regulação por parte do Estado? Por inspiração divina? Por imperativo de consciência? Consulta-se o manual do fabricante? Não será mais seguro e razoável partir da análise cuidada da actividade humana anteriormente livre e que o Estado se prepara para regular? Compreendo que haja quem se baste com a certeza absoluta na bondade suprema do princípio em causa. Ao adoptar esta segunda visão (aliás não é a primeira vez que isso acontece) o que o Blair e o seu governo estão a fazer é deitar às urtigas a tradição parlamentar inglesa em nome de preconceitos politicamente correctos e complexos classistas.
Queres discutir os métodos de investigação da indústria cosmética? As suas vantagens e desvantagens? Agradeço que me expliques como é que vais fazer isso sem recorrer a factos objectivos e números concretos. Podemos discutir ad infinitum conceitos lindíssimos como a crueldade, a inevitabilidade “estrita”, o progresso social, duvido é que alguém fique convencido do que quer que seja para alem da futilidade do debate (como aliás esta pequena polemicazinha demonstra). É fácil ter certezas. Até opiniões. Difícil é justificá-las quando confrontados com uma realidade concreta que nos impõe escolhas e exige respostas.
Para acabar, e pegando naquela estimativa altamente improvável das £30,000 por cada raposa que é protegida da ira furibunda dos caçadores, a minha pergunta para o Fernando é a seguinte: imaginando que a lei passa no parlamento Inglês, até onde, do ponto de vista financeiro, estaria o Fernando disposto a ir para assegurar o cumprimento dessa nova lei que, já se sabe à partida, irá ser desrespeitada, sistemática e inevitavelmente, pela população. Se calhar foi justamente por causa desta questão que o Governo de Blair adiou a entrada em vigor da proibição para depois das eleições. Talvez. Digo eu.
FA
PS – A propósito do Magalhães Lemos, sabes o que é um conundrum inglês? Pista: não é um tipo de cão de caça.
Ó Fernando, explica lá porque é que, pelo facto de não nos entendermos, eu é que tenho um problema de compreensão. Faz lá um esforço e vai ver o primeiríssimo post que eu coloquei nesta matéria. Vê lá tu que a lógica e a perspectiva desse post tinha muito pouco a haver com a caça à raposa e muito mais a haver com o modus operandi do governo trabalhista. Todo o debate que se lhe seguiu focou excusivamente o aspecto moralista da questão e, nesse contexto, as estatísticas que eu apresentei foram apresentadas para contrariar os preconceitos (superficialidades e adjacências) do género: isso da caça à raposa não passa de um entretém de meninos queques das famílias ricas e urbanas sem mais nada para fazer. Se não teve o mérito de convencer ninguém, pelo menos o debate ja serviu para desmistificar isso.
Quanto à questão de determinar se é sensato ou não uma sociedade alterar, regular, condicionar ou proibir determinadas actividades humanas que levam ao “sofrimento” dos animais, o Fernando parece sugerir que as estatísticas não importam. Ok. Então como é que se determina a sensatez da proibição ou regulação por parte do Estado? Por inspiração divina? Por imperativo de consciência? Consulta-se o manual do fabricante? Não será mais seguro e razoável partir da análise cuidada da actividade humana anteriormente livre e que o Estado se prepara para regular? Compreendo que haja quem se baste com a certeza absoluta na bondade suprema do princípio em causa. Ao adoptar esta segunda visão (aliás não é a primeira vez que isso acontece) o que o Blair e o seu governo estão a fazer é deitar às urtigas a tradição parlamentar inglesa em nome de preconceitos politicamente correctos e complexos classistas.
Queres discutir os métodos de investigação da indústria cosmética? As suas vantagens e desvantagens? Agradeço que me expliques como é que vais fazer isso sem recorrer a factos objectivos e números concretos. Podemos discutir ad infinitum conceitos lindíssimos como a crueldade, a inevitabilidade “estrita”, o progresso social, duvido é que alguém fique convencido do que quer que seja para alem da futilidade do debate (como aliás esta pequena polemicazinha demonstra). É fácil ter certezas. Até opiniões. Difícil é justificá-las quando confrontados com uma realidade concreta que nos impõe escolhas e exige respostas.
Para acabar, e pegando naquela estimativa altamente improvável das £30,000 por cada raposa que é protegida da ira furibunda dos caçadores, a minha pergunta para o Fernando é a seguinte: imaginando que a lei passa no parlamento Inglês, até onde, do ponto de vista financeiro, estaria o Fernando disposto a ir para assegurar o cumprimento dessa nova lei que, já se sabe à partida, irá ser desrespeitada, sistemática e inevitavelmente, pela população. Se calhar foi justamente por causa desta questão que o Governo de Blair adiou a entrada em vigor da proibição para depois das eleições. Talvez. Digo eu.
FA
PS – A propósito do Magalhães Lemos, sabes o que é um conundrum inglês? Pista: não é um tipo de cão de caça.
quarta-feira, setembro 22, 2004
The First Cut is the Deepest
O, sempre bem informado, Rui Tavares informa-nos que o velho Cat Stevens foi impedido de entrar nos EUA.
O mesmo artigo do Guardian, link via Barnabé, conta também que:
"In July 2000, he was denied entry to Israel amid reports that he had donated tens of thousands of dollars to militant Palestinian group Hamas."
A editora respondeu que "I want to make sure that people are aware that I've never ever knowingly supported any terrorist groups past, present or future"
O Hamas não é, para Yusuf Islam, aka Cat Stevens, née Steven Demetre Georgiou, um grupo terrorista.
Ah, talvez os americanos se tenham lembrado desta letra de uma das suas músicas:
I'm Gonna Get Me a Gun
I know my destiny is like the sun
You see the best of me when I have got my gun
I'm gonna get me a gun
I'm gonna get me a gun
And all those people who put me down
You better get ready to run,
Cuz I'm gonna get me a gun
DBH
O, sempre bem informado, Rui Tavares informa-nos que o velho Cat Stevens foi impedido de entrar nos EUA.
O mesmo artigo do Guardian, link via Barnabé, conta também que:
"In July 2000, he was denied entry to Israel amid reports that he had donated tens of thousands of dollars to militant Palestinian group Hamas."
A editora respondeu que "I want to make sure that people are aware that I've never ever knowingly supported any terrorist groups past, present or future"
O Hamas não é, para Yusuf Islam, aka Cat Stevens, née Steven Demetre Georgiou, um grupo terrorista.
Ah, talvez os americanos se tenham lembrado desta letra de uma das suas músicas:
I'm Gonna Get Me a Gun
I know my destiny is like the sun
You see the best of me when I have got my gun
I'm gonna get me a gun
I'm gonna get me a gun
And all those people who put me down
You better get ready to run,
Cuz I'm gonna get me a gun
DBH
Circo Chen
Para o José parece que um debate que não seja nos moldes que ele quer, sobre o tema que ele escolhe, na perspectiva que ele perfilha e utilizando os argumentos que ele elege é um mero número de circo. São assim os defensores de princípios. Malta complicada.
FA (artista circense)
Para o José parece que um debate que não seja nos moldes que ele quer, sobre o tema que ele escolhe, na perspectiva que ele perfilha e utilizando os argumentos que ele elege é um mero número de circo. São assim os defensores de princípios. Malta complicada.
FA (artista circense)
terça-feira, setembro 21, 2004
Está tudo calmo e sereno
Depois de convencer o José, esclarecer o José e prestar muita atenção aos seus 2 avisos serios 2, o debate encerra assim: o José continua a achar que este tipo específico de caça é cruel. Eu continuo a achar que nem por isso. Eu bem avisei da inutilidade de discutir este ponto concreto.
E se em vez de discutir a “crueldade” sobre as raposas a propósito da qual o ministro dos rural affairs ficou refém em Whitehall, concordássemos que o Governo Britânico se devia antes preocupar com a crueldade para com cidadãos seus, reféns em território Iraquiano, que correm sérios riscos de ser decapitados a qualquer momento.
E se em vez de perder tempo a discutir se este tipo de caça é cruel mas aquele não, ou se a tourada à corda é legítima mas à espanhola já não, porque é que não concordamos que o Governo Britânico anda a arranjar lenha para se queimar com esta medida que, por ser irreflectida e imponderada, vai ser alterada por um próximo Parlamento assim uma nova maioria o permita.
E se em vez de gastar celulazinhas cinzentas a analisar cada tipo de acto cruel e determinar a sua gravidade numa escala de probição total / tolerância total, concluíssemos desde já que é muito grave do ponto de vista político, económico, social e jurídico impôr uma proibição que não vai ser respeitada a uma população que se sente despeitada.
A propósito disto tudo, parece que paira no ar a possibilidade de introduzir uma série de excepções no que até agora seria uma proibição total. O Quinto deve andar a ser lido ali para os lados de Westminster.
Raposas? Era só um pretexto José. Amigo. Pá.
FA
Depois de convencer o José, esclarecer o José e prestar muita atenção aos seus 2 avisos serios 2, o debate encerra assim: o José continua a achar que este tipo específico de caça é cruel. Eu continuo a achar que nem por isso. Eu bem avisei da inutilidade de discutir este ponto concreto.
E se em vez de discutir a “crueldade” sobre as raposas a propósito da qual o ministro dos rural affairs ficou refém em Whitehall, concordássemos que o Governo Britânico se devia antes preocupar com a crueldade para com cidadãos seus, reféns em território Iraquiano, que correm sérios riscos de ser decapitados a qualquer momento.
E se em vez de perder tempo a discutir se este tipo de caça é cruel mas aquele não, ou se a tourada à corda é legítima mas à espanhola já não, porque é que não concordamos que o Governo Britânico anda a arranjar lenha para se queimar com esta medida que, por ser irreflectida e imponderada, vai ser alterada por um próximo Parlamento assim uma nova maioria o permita.
E se em vez de gastar celulazinhas cinzentas a analisar cada tipo de acto cruel e determinar a sua gravidade numa escala de probição total / tolerância total, concluíssemos desde já que é muito grave do ponto de vista político, económico, social e jurídico impôr uma proibição que não vai ser respeitada a uma população que se sente despeitada.
A propósito disto tudo, parece que paira no ar a possibilidade de introduzir uma série de excepções no que até agora seria uma proibição total. O Quinto deve andar a ser lido ali para os lados de Westminster.
Raposas? Era só um pretexto José. Amigo. Pá.
FA
Ui que medo !!! (Parte 2)
O amigo José lança um segundo aviso e apela à calma e serenidade. Não sei porquê mas tantos apelos à calma já me começam a enervar. Será que o José quer fazer passar a ideia de que a nossa posição não passa de um excesso de ímpeto irreflectido? Seguramente não. Ímpeto irreflectido? Logo o José que opina, sem medos ou contemplações, que a caça à raposa é coisa da “classe endinheirada e citadina (nem rural, nem coitadinha) de Inglaterra que se dedica, aos fins de semana, entre duas "cup of tea", a lançar matilhas de cães sobre indefesas raposas com o intuito de as esquartejar vivas e da forma mais cru”. Pum. Pum. Mai’ nada.
Fica depois enfastiado quando lhe apresento números que desprovam opinião aliás tão cuidada e objectiva. Responde então com sarcasmo áspero querendo fazer passar a ideia de que os apoiantes da caça à raposa mais não são que uns bárbaros sanguinários à espera de ser convertidos às virtudes e à luz da Razão (assim mesmo com letra grande). Para quem não gosta de discussões redutoras convenhamos que não está mal.
Só não vê quem não quer que os participantes em caçadas à raposa (cerca de 1.2 milhões o ano passado – ena pá, tanta gente endinheirada e citadina) são na sua maioria membros de clubes locais, rurais que caçam nas suas próprias terras. 59% dos participantes participa a pé e não a cavalo. Entre os residentes das àreas onde se realizam caçadas (sendo que muitos deles são membros activos dos clubes locais) o apoio à caça é de 60% da população. Importa ainda falar dos mais de 20,000 cães cujo destino é incerto após a proibição e dos cerca de 900 cavalos que, atento o seu valor económico, é mais provável que se safem melhor ou pior. Do ponto de vista económico não falo muito porque da última vez que o fiz o José fez troça de mim e aprendi a lição – digo só que causa prejuízos ainda por contabilizar ao tecido empresarial do meio rural inglês (cerca de 19% de pequenos estabelecimentos comerciais – totalmente desligados da caça – afirmaram em 2000 que talvez não sobrevivessem à proibição). Para acabar com a parte economicista da questão queria só dizer que, de acordo com o Daily Express, a imposição da proibição custará ao erário público Inglês (para o qual eu contribuo) qualquer coisa como £30,000 (não me lembro do número exacto) por cada raposa que é salva. Um bocado caro convenhamos, ainda para mais quando muitas dessas raposas irão depois ser mortas por envenenamento ou à bala. Esta é a parte fácil que toda a gente percebe.
Passemos então à parte difícil, à questão moral da crueldade para com os animais. De todas as questões era a única que não queria abordar porque, como outras questões que envolvem a valoração de um comportamento humano, há sempre valorações de diferentes graus de acordo com cada avalista. Não gosto da desculpa de que esta seria, afinal, uma questão de consciência de cada um. Digo antes que, seguramente, não se trata de uma questão essencial para a evolução civilizacional do mundo ocidental. Ainda assim, para o amigo José não dizer que fugimos à questão, convém esclarecer que não se trata de saber se uma matilha de cães caçar uma raposa é um facto cruel. Não se trata sequer de saber se um cão que mata uma raposa é mais cruel que uma raposa que mata um pinto ou um carneiro (animaizinhos inocentes completamente escolhidos ao acaso). A não ser para aquelas pessoas que ficam muito horrorizadas e revoltadas quando vêem na televisão um urso polar a comer uma foca bébé indefesa ou uma chita a matar um inocente dik-dik – malvados! – acho que é indiscutível que os animais (tal como não têm direitos) não podem ser alvo de críticas morais ou juízos de valor. A única coisa em causa portanto é o comportamento humano que lhes está associado. Penso que nisto estamos de acordo. Portanto, o problema só nasce a partir do momento em que os caçadores têm prazer no acto de caçar. Ainda que útil do ponto de vista cinegético, se na cabecinha perversa do caçador se insinuar entusiasmo na perseguição e captura de um animal – pum, pum! Crime pensamento. Por outro lado, se for um funcionário florestal, frio, clínico, calculista e desinteressado que deixa uma peça de carne envenenada ou dispara um tiro de espingarda a 50 metros é o Estado a tomar conta do que é seu e tudo está bem.
A ser assim então a diferença entre o esquire Inglês que paga £20 libras por semana da quota do clube de caça e participa uma vez por outra numa caçada com cães e o pobre Português sentado no seu sofá que sente um secreto prazer nas suas entranhas mais primárias ao ver no National Geographic uma matilha de lobos (grandes caçadores os sacanas!) a capturar um magnífico caribú na tundra canadiana no intervalo do jogo entre o Gil Vicente e o Rio Ave na TV Cabo (apenas €20 mensais!) é apenas uma diferença de grau. Por outro lado, se o que está aparentemente em causa é o recalcamento de quaisquer emoções perante um determinado comportamento animal (violentos os raios dos bichos!) então parece-me que voltamos à história do pardalito – que culpa, pergunto eu, têm os bifes que se dedicam a esta coisa da caça à raposa que o José tenha ficado com um sentimento de culpa por ter morto um pardal com uma pressão de ar na adolescência? E pronto, não falo mais da questão moral da crueldade. Não vale a pena. Não nos entendemos. Não posso admitir no entanto que o José pinte uma caricatura grotesca e falaciosa de quem tem uma opinião diferente da sua – não por ser mais ou menos inteligente, não por ser mais ou menos sensível, nem sequer por gostar mais ou menos de animais, pura e simplesmente por uma questão de respeito pessoal e tolerância.
Finalmente, voltando aos únicos temas que me trouxeram a este debate em primeiro lugar e sobre os quais não ouvi ainda ao José uma única palavra:
a) Saliento, mais uma vez, o oportunismo político do governo trabalhista (que desconsiderou a posição da Câmara dos Lordes) ao passar esta lei agora mas rementendo os seus efeitos para depois das eleições – o que aliás granjeou ao ministro da pasta dos assuntos rurais o invejável título de persona non grata no meio rural;
b) Desmistifico, de novo, a ideia de que a caça à raposa é uma prática de meia dúzia de meninos queques ingleses de boas famílias citadinas que adoram caçar a cavalo (sei lá!) – a maioria caça a pé e pertence a pequenos grupos locais;
c) Alerto, com preocupação, para a facilidade com que os governos actuais decretam proibições a torto e a direito quando, as mais das vezes, as consequências dos seus actos não estão devidamente estudadas e são feitas, surprise, surprise, para Inglês ver – a última marcha de protesto contra a proibição foi a segunda maior da história britânica atrás apenas das manifestações contra a guerra no Iraque.
Que fique bem claro, eu não defendo a caça à raposa. Defendo sim o direito de os cidadãos de um país livre e democrático se dedicarem à prática de quaisquer actos que muito bem entendam desde que não violem nenhum direito fundamental ou ponham em causa a estrutura social. Qualquer proibição ou restrição de tal direito à liberdade deve ser necessária à salvaguarda de um direito ou interesse de valor idêntico ou superior, devendo ainda ser proporcional e razoável. Esta proibição, manifestamente, não é nenhuma destas coisas. Que sentido faz o Estado lançar todo o seu poder coercivo sobre uma parcela da sua população que cada vez se sente mais isolada e marginalizada no seu espaço físico, fartos de ministros engravatados, de fatinhos arranjados e línguas aguçadas que lhes dizem como é que hão de viver, que hábitos é que podem ou não ter, que plantas é que podem cultivar, que parcelas das suas terras é que têm de abrir a visitantes. Será porventura defeito de fabrico mas não consigo evitar identificar-me com essa parecla da população (mais do que com as raposas vá-se lá perceber porquê) e, por mais que tente, não consigo justificar plenamente uma proibição tão violenta e com consequências tão nefastas.
A única razão porque resolvi escrever acerca deste tema é porque acredito que vale a pena pensar para além das parangonas dos jornais ou da opinião confortável que a superioridade moral nos dita autoritariamente. É fácil ser superiores e donos das verdades confortáveis. Difícil é descer do pedestal e falar do e para o mundo real. Pá.
FA
O amigo José lança um segundo aviso e apela à calma e serenidade. Não sei porquê mas tantos apelos à calma já me começam a enervar. Será que o José quer fazer passar a ideia de que a nossa posição não passa de um excesso de ímpeto irreflectido? Seguramente não. Ímpeto irreflectido? Logo o José que opina, sem medos ou contemplações, que a caça à raposa é coisa da “classe endinheirada e citadina (nem rural, nem coitadinha) de Inglaterra que se dedica, aos fins de semana, entre duas "cup of tea", a lançar matilhas de cães sobre indefesas raposas com o intuito de as esquartejar vivas e da forma mais cru”. Pum. Pum. Mai’ nada.
Fica depois enfastiado quando lhe apresento números que desprovam opinião aliás tão cuidada e objectiva. Responde então com sarcasmo áspero querendo fazer passar a ideia de que os apoiantes da caça à raposa mais não são que uns bárbaros sanguinários à espera de ser convertidos às virtudes e à luz da Razão (assim mesmo com letra grande). Para quem não gosta de discussões redutoras convenhamos que não está mal.
Só não vê quem não quer que os participantes em caçadas à raposa (cerca de 1.2 milhões o ano passado – ena pá, tanta gente endinheirada e citadina) são na sua maioria membros de clubes locais, rurais que caçam nas suas próprias terras. 59% dos participantes participa a pé e não a cavalo. Entre os residentes das àreas onde se realizam caçadas (sendo que muitos deles são membros activos dos clubes locais) o apoio à caça é de 60% da população. Importa ainda falar dos mais de 20,000 cães cujo destino é incerto após a proibição e dos cerca de 900 cavalos que, atento o seu valor económico, é mais provável que se safem melhor ou pior. Do ponto de vista económico não falo muito porque da última vez que o fiz o José fez troça de mim e aprendi a lição – digo só que causa prejuízos ainda por contabilizar ao tecido empresarial do meio rural inglês (cerca de 19% de pequenos estabelecimentos comerciais – totalmente desligados da caça – afirmaram em 2000 que talvez não sobrevivessem à proibição). Para acabar com a parte economicista da questão queria só dizer que, de acordo com o Daily Express, a imposição da proibição custará ao erário público Inglês (para o qual eu contribuo) qualquer coisa como £30,000 (não me lembro do número exacto) por cada raposa que é salva. Um bocado caro convenhamos, ainda para mais quando muitas dessas raposas irão depois ser mortas por envenenamento ou à bala. Esta é a parte fácil que toda a gente percebe.
Passemos então à parte difícil, à questão moral da crueldade para com os animais. De todas as questões era a única que não queria abordar porque, como outras questões que envolvem a valoração de um comportamento humano, há sempre valorações de diferentes graus de acordo com cada avalista. Não gosto da desculpa de que esta seria, afinal, uma questão de consciência de cada um. Digo antes que, seguramente, não se trata de uma questão essencial para a evolução civilizacional do mundo ocidental. Ainda assim, para o amigo José não dizer que fugimos à questão, convém esclarecer que não se trata de saber se uma matilha de cães caçar uma raposa é um facto cruel. Não se trata sequer de saber se um cão que mata uma raposa é mais cruel que uma raposa que mata um pinto ou um carneiro (animaizinhos inocentes completamente escolhidos ao acaso). A não ser para aquelas pessoas que ficam muito horrorizadas e revoltadas quando vêem na televisão um urso polar a comer uma foca bébé indefesa ou uma chita a matar um inocente dik-dik – malvados! – acho que é indiscutível que os animais (tal como não têm direitos) não podem ser alvo de críticas morais ou juízos de valor. A única coisa em causa portanto é o comportamento humano que lhes está associado. Penso que nisto estamos de acordo. Portanto, o problema só nasce a partir do momento em que os caçadores têm prazer no acto de caçar. Ainda que útil do ponto de vista cinegético, se na cabecinha perversa do caçador se insinuar entusiasmo na perseguição e captura de um animal – pum, pum! Crime pensamento. Por outro lado, se for um funcionário florestal, frio, clínico, calculista e desinteressado que deixa uma peça de carne envenenada ou dispara um tiro de espingarda a 50 metros é o Estado a tomar conta do que é seu e tudo está bem.
A ser assim então a diferença entre o esquire Inglês que paga £20 libras por semana da quota do clube de caça e participa uma vez por outra numa caçada com cães e o pobre Português sentado no seu sofá que sente um secreto prazer nas suas entranhas mais primárias ao ver no National Geographic uma matilha de lobos (grandes caçadores os sacanas!) a capturar um magnífico caribú na tundra canadiana no intervalo do jogo entre o Gil Vicente e o Rio Ave na TV Cabo (apenas €20 mensais!) é apenas uma diferença de grau. Por outro lado, se o que está aparentemente em causa é o recalcamento de quaisquer emoções perante um determinado comportamento animal (violentos os raios dos bichos!) então parece-me que voltamos à história do pardalito – que culpa, pergunto eu, têm os bifes que se dedicam a esta coisa da caça à raposa que o José tenha ficado com um sentimento de culpa por ter morto um pardal com uma pressão de ar na adolescência? E pronto, não falo mais da questão moral da crueldade. Não vale a pena. Não nos entendemos. Não posso admitir no entanto que o José pinte uma caricatura grotesca e falaciosa de quem tem uma opinião diferente da sua – não por ser mais ou menos inteligente, não por ser mais ou menos sensível, nem sequer por gostar mais ou menos de animais, pura e simplesmente por uma questão de respeito pessoal e tolerância.
Finalmente, voltando aos únicos temas que me trouxeram a este debate em primeiro lugar e sobre os quais não ouvi ainda ao José uma única palavra:
a) Saliento, mais uma vez, o oportunismo político do governo trabalhista (que desconsiderou a posição da Câmara dos Lordes) ao passar esta lei agora mas rementendo os seus efeitos para depois das eleições – o que aliás granjeou ao ministro da pasta dos assuntos rurais o invejável título de persona non grata no meio rural;
b) Desmistifico, de novo, a ideia de que a caça à raposa é uma prática de meia dúzia de meninos queques ingleses de boas famílias citadinas que adoram caçar a cavalo (sei lá!) – a maioria caça a pé e pertence a pequenos grupos locais;
c) Alerto, com preocupação, para a facilidade com que os governos actuais decretam proibições a torto e a direito quando, as mais das vezes, as consequências dos seus actos não estão devidamente estudadas e são feitas, surprise, surprise, para Inglês ver – a última marcha de protesto contra a proibição foi a segunda maior da história britânica atrás apenas das manifestações contra a guerra no Iraque.
Que fique bem claro, eu não defendo a caça à raposa. Defendo sim o direito de os cidadãos de um país livre e democrático se dedicarem à prática de quaisquer actos que muito bem entendam desde que não violem nenhum direito fundamental ou ponham em causa a estrutura social. Qualquer proibição ou restrição de tal direito à liberdade deve ser necessária à salvaguarda de um direito ou interesse de valor idêntico ou superior, devendo ainda ser proporcional e razoável. Esta proibição, manifestamente, não é nenhuma destas coisas. Que sentido faz o Estado lançar todo o seu poder coercivo sobre uma parcela da sua população que cada vez se sente mais isolada e marginalizada no seu espaço físico, fartos de ministros engravatados, de fatinhos arranjados e línguas aguçadas que lhes dizem como é que hão de viver, que hábitos é que podem ou não ter, que plantas é que podem cultivar, que parcelas das suas terras é que têm de abrir a visitantes. Será porventura defeito de fabrico mas não consigo evitar identificar-me com essa parecla da população (mais do que com as raposas vá-se lá perceber porquê) e, por mais que tente, não consigo justificar plenamente uma proibição tão violenta e com consequências tão nefastas.
A única razão porque resolvi escrever acerca deste tema é porque acredito que vale a pena pensar para além das parangonas dos jornais ou da opinião confortável que a superioridade moral nos dita autoritariamente. É fácil ser superiores e donos das verdades confortáveis. Difícil é descer do pedestal e falar do e para o mundo real. Pá.
FA
FOXY HUNTING
Segundo me apercebi, é uma actividade de prática generalizada na Dinamarca, onde o rigor dos Invernos e a timidez dos Verões são, diz quem sabe, as condições adequadas à criação de raposas.
A maioria tem pêlo alourado. Só raramente aparecem exemplares mais tradicionalmente ruivos.
Rie Rasmussen, supermodelo e actriz dinamarquesa nascida e criada sob o céu depressivo de Copenhaga.
FMS
Segundo me apercebi, é uma actividade de prática generalizada na Dinamarca, onde o rigor dos Invernos e a timidez dos Verões são, diz quem sabe, as condições adequadas à criação de raposas.
A maioria tem pêlo alourado. Só raramente aparecem exemplares mais tradicionalmente ruivos.
Rie Rasmussen, supermodelo e actriz dinamarquesa nascida e criada sob o céu depressivo de Copenhaga.
FMS
segunda-feira, setembro 20, 2004
OS POMBINHOS?
O JV já despertou animosidades, por alguma blogosfera, pela sua defesa da festa brava. O FA, para não ficar atrás, tem caçadeiras de canos serrados apontadas à sua cabeça, por defender a caça à raposa. Isto parece-me um enorme egoismo. Abarbataram logo os melhores temas e o que nos que resta, ao FMS e a mim, para defender? O tiro aos pombos?
DBH
PS. Aliás, nem o tiro aos pombos que isso já o Manuel Alegre defende.
O JV já despertou animosidades, por alguma blogosfera, pela sua defesa da festa brava. O FA, para não ficar atrás, tem caçadeiras de canos serrados apontadas à sua cabeça, por defender a caça à raposa. Isto parece-me um enorme egoismo. Abarbataram logo os melhores temas e o que nos que resta, ao FMS e a mim, para defender? O tiro aos pombos?
DBH
PS. Aliás, nem o tiro aos pombos que isso já o Manuel Alegre defende.
TALLY HO!
Depois de alguns dias no estrangeiro, acompanhado pelo FMS, verifico, ao abrir este blog, que o FA despertou a ira de vários bloggers...
Que disparate, eu digo, discutir tanto por uma única manobra eleitoral de Blair.
Claro que, de seguida, fui ver o sitemeter e verifico um aumento só explicável pelos insultos que o Fernando nos trouxe.
Bem feito, velho rapaz, bem feito!
DBH
Depois de alguns dias no estrangeiro, acompanhado pelo FMS, verifico, ao abrir este blog, que o FA despertou a ira de vários bloggers...
Que disparate, eu digo, discutir tanto por uma única manobra eleitoral de Blair.
Claro que, de seguida, fui ver o sitemeter e verifico um aumento só explicável pelos insultos que o Fernando nos trouxe.
Bem feito, velho rapaz, bem feito!
DBH
Ui que medo!
O Mister Meatballs lança-nos um “Aviso Serio”. Põe de lado o tom jocoso e veste os trajes de virgem ofendida na sua dignidade. Faz votos a nosso favor. Orgulha-se dos amigos que sempre o estimularam. Ataca os amigos dos outros.
Como é que é? A discussão deixou, de repente, de ter piada? É preciso agora fazer “avisos sérios”? Onde é que estava tanta seriedade e sobriedade quando eu propunha discutir factos e números? Onde é que estava a “cidadania assumida” e a opinião esclarecida no meio de histórias de humor (mais que) duvidoso sobre tiros a pardais, matadouros brasileiros e gatos ensopados em gasolina?
Se mantive uma discussão com o José foi porque sempre valorei o debate de ideias e estava apostado em esclarecer alguns preconceitos que sempre rodeiam este tipo de questões. Não fui eu que troquei o nível “esclarecido e moderno” do debate por piadinhas sarcásticas próprias de recreio de escola primária. Essa troca foi o José que a fez sem ser provocado e demonstra ou falta de argumentos ou de paciência – num caso ou noutro a questão fica arrumada por falta de comparência.
Quanto aos nicks, e lá vamos nós discordar outra vez, acho imensa piada ao meu perorar sobre os mesmos. Paciência. Se calhar humor/inteligência não são afinal sinónimos já que, não sendo eu tão inteligente como o José, acho piada a algo onde o José não vislumbra pinta de humor. Et pourtant...
FA
PS – Antecipo, com trepidação, o sermão paternalista: ai estes boys da direita moderna. As if...
PSS – o João Almeida não precisa, felizmente, que eu o defenda. O mandato dele quem lho outorgou não foram raposas.
O Mister Meatballs lança-nos um “Aviso Serio”. Põe de lado o tom jocoso e veste os trajes de virgem ofendida na sua dignidade. Faz votos a nosso favor. Orgulha-se dos amigos que sempre o estimularam. Ataca os amigos dos outros.
Como é que é? A discussão deixou, de repente, de ter piada? É preciso agora fazer “avisos sérios”? Onde é que estava tanta seriedade e sobriedade quando eu propunha discutir factos e números? Onde é que estava a “cidadania assumida” e a opinião esclarecida no meio de histórias de humor (mais que) duvidoso sobre tiros a pardais, matadouros brasileiros e gatos ensopados em gasolina?
Se mantive uma discussão com o José foi porque sempre valorei o debate de ideias e estava apostado em esclarecer alguns preconceitos que sempre rodeiam este tipo de questões. Não fui eu que troquei o nível “esclarecido e moderno” do debate por piadinhas sarcásticas próprias de recreio de escola primária. Essa troca foi o José que a fez sem ser provocado e demonstra ou falta de argumentos ou de paciência – num caso ou noutro a questão fica arrumada por falta de comparência.
Quanto aos nicks, e lá vamos nós discordar outra vez, acho imensa piada ao meu perorar sobre os mesmos. Paciência. Se calhar humor/inteligência não são afinal sinónimos já que, não sendo eu tão inteligente como o José, acho piada a algo onde o José não vislumbra pinta de humor. Et pourtant...
FA
PS – Antecipo, com trepidação, o sermão paternalista: ai estes boys da direita moderna. As if...
PSS – o João Almeida não precisa, felizmente, que eu o defenda. O mandato dele quem lho outorgou não foram raposas.
Procurações, atestados e gastronomia lusófona
Acho engraçadas as reacções ao post hilariante do “Senhor Carne”. É uma táctica imbatível responder com humor áspero quando perdemos uma discussão aos pontos. No fundo somos demasiado inteligentes para perder tempo com qualquer debatezito menor – enquanto isto, não longe dali, os nossos correlegionários aplaudem por entre sonoras gargalhadas.
No entanto, e para que quem nos lê não fique a pensar que no Quinto não temos poder de encaixe, aqui fica uma ténue tentativa de resposta ao Mister.
Fiquei esclarecido. O Mr Meat está empossado para representar as raposas no debate em causa. Peço desde já mil desculpas. É que eu (que tambem fui uma vez ao Brasil vejam lá) não sabia que as pobres tinham constituído aliás tão ilustre mandatário. Eu, a quem ninguém passou procuração, limito-me a dar uma opinião – que ninguém pediu é certo mas enfim vá-se lá perceber a liberdade de expressão... Longe de mim meter-me com quem tem interesse na matéria. Sobretudo quando em causa está um trauma de infância que explica aliás tamanha nobreza animal no coração do Mr Meat(loaf). Confesso que fiquei comovido com a história do pardalito. E a história do matadouro não fica atrás. Atenta a gravidade dos factos não restam dúvidas que o Sr (Rolo de) Carne tem sempre presentes os elevados interesses dos bichos do mato (e arredores). Mais, sugiro que de futuro utilize essas histórias para obter um atestado que lhe permita alegar inimputabilidade por atentados terroristas cometidos contra empresas que façam testes em animais, pescadores da pesca de corrico, indústria de cortumes ou grupos de forcados amadores (ou profissionais tanto faz). Podia assim o Sr Carne (de Porco à Alentejana) juntar o atestado que merece à procuração que parece já ter.
Eu também matei um pássaro uma vez com uma pressão de ar só que, ao contrário do Sr Carne (Picada), tomei-lhe o gosto. Ando até a treinar para um upgrade da licença de aves canoras para mamíferos (mais ou menos) racionais para poder caçar os meus companheiros de actos gratuitos de crueldade. Entretanto troquei foi a espingarda por uma fisga ecológica que dispara bolotas. Caçador sim, mas amigo do ambiente – não só utilizo uma arma 100% reciclável (nem vos digo o que eles fazem a partir do elástico!) como ainda favoreço a disseminação do sobreiro! E o Sr Bife à Café, o que fez à sua arma de chumbinhos?
A única coisa que eu ainda não percebo é o nome do Sr Picanha à Brasileira. Sei lá, fico à espera que mude o nome para uma coisa mais neutral, mais amiga dos animais – afinal, já dizia o Tio Carlos Alberto (esse grande terceirense aficionado da festa brava) na Arca de Noé: “os animais são nossos amigos”. Atrevo-me a sugerir Sr Caldo Verde. Ou talvez Sr Peixinho da Horta. Ou então, já sei, Sr Feijão Frade. Aliava-se assim a vertente vegetativa ao espírito de padreco hipócrita difusor das verdades absolutas para o bem das massas ignotas.
FA
Acho engraçadas as reacções ao post hilariante do “Senhor Carne”. É uma táctica imbatível responder com humor áspero quando perdemos uma discussão aos pontos. No fundo somos demasiado inteligentes para perder tempo com qualquer debatezito menor – enquanto isto, não longe dali, os nossos correlegionários aplaudem por entre sonoras gargalhadas.
No entanto, e para que quem nos lê não fique a pensar que no Quinto não temos poder de encaixe, aqui fica uma ténue tentativa de resposta ao Mister.
Fiquei esclarecido. O Mr Meat está empossado para representar as raposas no debate em causa. Peço desde já mil desculpas. É que eu (que tambem fui uma vez ao Brasil vejam lá) não sabia que as pobres tinham constituído aliás tão ilustre mandatário. Eu, a quem ninguém passou procuração, limito-me a dar uma opinião – que ninguém pediu é certo mas enfim vá-se lá perceber a liberdade de expressão... Longe de mim meter-me com quem tem interesse na matéria. Sobretudo quando em causa está um trauma de infância que explica aliás tamanha nobreza animal no coração do Mr Meat(loaf). Confesso que fiquei comovido com a história do pardalito. E a história do matadouro não fica atrás. Atenta a gravidade dos factos não restam dúvidas que o Sr (Rolo de) Carne tem sempre presentes os elevados interesses dos bichos do mato (e arredores). Mais, sugiro que de futuro utilize essas histórias para obter um atestado que lhe permita alegar inimputabilidade por atentados terroristas cometidos contra empresas que façam testes em animais, pescadores da pesca de corrico, indústria de cortumes ou grupos de forcados amadores (ou profissionais tanto faz). Podia assim o Sr Carne (de Porco à Alentejana) juntar o atestado que merece à procuração que parece já ter.
Eu também matei um pássaro uma vez com uma pressão de ar só que, ao contrário do Sr Carne (Picada), tomei-lhe o gosto. Ando até a treinar para um upgrade da licença de aves canoras para mamíferos (mais ou menos) racionais para poder caçar os meus companheiros de actos gratuitos de crueldade. Entretanto troquei foi a espingarda por uma fisga ecológica que dispara bolotas. Caçador sim, mas amigo do ambiente – não só utilizo uma arma 100% reciclável (nem vos digo o que eles fazem a partir do elástico!) como ainda favoreço a disseminação do sobreiro! E o Sr Bife à Café, o que fez à sua arma de chumbinhos?
A única coisa que eu ainda não percebo é o nome do Sr Picanha à Brasileira. Sei lá, fico à espera que mude o nome para uma coisa mais neutral, mais amiga dos animais – afinal, já dizia o Tio Carlos Alberto (esse grande terceirense aficionado da festa brava) na Arca de Noé: “os animais são nossos amigos”. Atrevo-me a sugerir Sr Caldo Verde. Ou talvez Sr Peixinho da Horta. Ou então, já sei, Sr Feijão Frade. Aliava-se assim a vertente vegetativa ao espírito de padreco hipócrita difusor das verdades absolutas para o bem das massas ignotas.
FA
Ministro para inglês ver ou a vida segundo Alun Michael
Um singela questão a todos estes senhores que nutrem tanta afeição pelos animaizinhos do campo: para que serve um ministro de assuntos rurais que não pode ir até ao meio rural?
Sugestões de resposta:
A – para a malta da cidade aplaudir.
B – para as raposas aplaudirem.
C – para chatear a malta do campo.
D – all of the above.
FA
Um singela questão a todos estes senhores que nutrem tanta afeição pelos animaizinhos do campo: para que serve um ministro de assuntos rurais que não pode ir até ao meio rural?
Sugestões de resposta:
A – para a malta da cidade aplaudir.
B – para as raposas aplaudirem.
C – para chatear a malta do campo.
D – all of the above.
FA
sábado, setembro 18, 2004
NOVA DIREITA?
Com o aborto por pano de fundo, há já algum tempo que as páginas do Independente vêm sendo ocupadas por arautos de uma coisa que, meio a brincar, meio a sério, se (auto?)intitula "Nova Direita”. Esse grupo - composto de pessoas inegavelmente estimáveis e intelectualmente estimulantes - tem conduzido uma verdadeira ofensiva contra aquilo a que, indistinta e acriticamente, vem chamando “direita ética”, “direita religiosa”, “direita autoritária”, “maximalistas pró-vida”, para gáudio alvar da esquerda que toma nota e o repete.
Semana após semana, vêm apelando à Direita - que reconhecem não ser só uma - para que se rebele, para que se renove, para que se refresque e se afaste do extremismo próprio de gente de “botas engraxadas e cabelo rapado”. Do Olimpo marmóreo das suas colunas de opinião, falam ao povo ignaro e ao governo e explicam-lhes, com a paciência dos justos, o que devem pensar e como devem agir: “Bastava terem reconhecido que estamos perante uma questão de consciência”. E pronto. Estava resolvido. Fácil. Demasiado fácil. E frágil. Demasiado frágil.
Não deixa de ser sintomático que as palavras “ética” e “moral” façam sempre parte da lista de termos que pretendem exorcizar definitivamente da vida política e do espaço público, em nome da protestada pureza do liberalismo. Outras éticas, outras morais, outras mundividências, quadram melhor ao Estado de sotaque anglo-saxónico, amoral, acéptico e ultramínimo que preconizam. Desde que a economia flua sem entraves e a liberdade individual permita elevar a “consciência” de cada um a juiz supremo, o Estado que fique ao largo. E se mantenha por lá. Sem fazer ondas.
Ao que parece, sabem que falam pela maioria. Diria mesmo que se sentem a “voz do tempo”, denotando invulgar crença num determinismo histórico que Hegel ou Marx não desdenhariam.
Aos outros, pobres diabos, reservam-lhes os epítetos já enunciados e vaticinam-lhes o definhamento e a queda próprias dos anacrónicos. Segundo consta, esses não debatem, não discutem, não se angustiam e não se questionam. Nada sabem de ciência. Desconhecem a técnica. Ignoram a filosofia. São autoritários. Ponto final. E, por isso, confundem cegamente o que são meros “assuntos culturais” com Direitos Fundamentais e Dignidade Humana.
Aos outros, pobres diabos, reservam-lhes os epítetos já enunciados e vaticinam-lhes o definhamento e a queda próprias dos anacrónicos. Segundo consta, esses não debatem, não discutem, não se angustiam e não se questionam. Nada sabem de ciência. Desconhecem a técnica. Ignoram a filosofia. São autoritários. Ponto final. E, por isso, confundem cegamente o que são meros “assuntos culturais” com Direitos Fundamentais e Dignidade Humana.
Dizem-nos que “Falta uma direita liberal, radical e livre, inovadora e criativa, não submetida a religiões ou grupos de influência. De facto, uma direita moderna.”. O lirismo proclamatório, mais adequado ao liberalismo revolucionário e mata-frades de outros tempos, demonstra à saciedade a novidade da solução apregoada. Para esse peditório, já demos.
Se é essa a Direita que querem, espero que a (re)criem. Por amor à Democracia e ao Pluralismo. Desejo sinceramente que desçam da cátedra e do conforto opinativo e vão à luta. Esqueçam o personalismo. Fundem partidos. Apresentem moções nos que já existem. Mudem-lhes os programas. Batam-se pelas suas direcções. Tomem-lhes as estruturas. Forcem os aborígenes obscurantistas a bater-se e a debater convosco.
Se é essa a Direita que querem, espero que a (re)criem. Por amor à Democracia e ao Pluralismo. Desejo sinceramente que desçam da cátedra e do conforto opinativo e vão à luta. Esqueçam o personalismo. Fundem partidos. Apresentem moções nos que já existem. Mudem-lhes os programas. Batam-se pelas suas direcções. Tomem-lhes as estruturas. Forcem os aborígenes obscurantistas a bater-se e a debater convosco.
Às claras, mostrem-nos a luz.
JV
sexta-feira, setembro 17, 2004
IMPERIALISTAS POR KERRY
Pegando na ideia do Rodrigo - e para que não se diga que aqui em casa não há pluralismo - anuncio que está formalmente criado o movimento "Imperialistas por Kerry".
Pronto.
Continuamos à espera da primeira inscrição porque, pela parte que me toca:
Pegando na ideia do Rodrigo - e para que não se diga que aqui em casa não há pluralismo - anuncio que está formalmente criado o movimento "Imperialistas por Kerry".
Pronto.
Continuamos à espera da primeira inscrição porque, pela parte que me toca:
JV
Reality check
Eu não quero maçar os leitores do Quinto com "facts and figures" mas não posso deixar passar em claro a ideia de que a caça a raposa é um fenómeno social de menor importância reservado às elites urbanas inglesas.
Segundo a Countryside Alliance existem mais de 300 matilhas de cães na Inglaterra, Escócia e País de Gales. Em cada ano estas matilhas realizam cerca de 20,000 caçadas. O número anual de participantes nessas caçadas é superior a 1 milhão sendo que 58% caça a pé e não a cavalo.
Sondagens realizadas recentemente indicam que nas áreas onde se realizam caçadas regularmente cerca de 60% das pessoas não concorda com a proibição decretada pelo governo trabalhista. Convém lembrar a este propósito que a maioria dos agricultores e proprietários rurais apoiam a caça à raposa – sem o seu consentimento tais eventos não se realizariam.
Só para acabar, importa ter presente que a proibição põe em causa cerca de 13,600 postos de trabalho directamente ligados à caça. Um número indeterminado de outros postos de trabalho estão tambem ameaçados e as matilhas de cães terão, na maioria dos casos, de ser abatidas. Além de tudo isto as populações de raposa continuarão a ter de ser controladas através de outros mecanismos como seja o envenenamento.
Desculpem lá qualquer coisinha.
FA
Eu não quero maçar os leitores do Quinto com "facts and figures" mas não posso deixar passar em claro a ideia de que a caça a raposa é um fenómeno social de menor importância reservado às elites urbanas inglesas.
Segundo a Countryside Alliance existem mais de 300 matilhas de cães na Inglaterra, Escócia e País de Gales. Em cada ano estas matilhas realizam cerca de 20,000 caçadas. O número anual de participantes nessas caçadas é superior a 1 milhão sendo que 58% caça a pé e não a cavalo.
Sondagens realizadas recentemente indicam que nas áreas onde se realizam caçadas regularmente cerca de 60% das pessoas não concorda com a proibição decretada pelo governo trabalhista. Convém lembrar a este propósito que a maioria dos agricultores e proprietários rurais apoiam a caça à raposa – sem o seu consentimento tais eventos não se realizariam.
Só para acabar, importa ter presente que a proibição põe em causa cerca de 13,600 postos de trabalho directamente ligados à caça. Um número indeterminado de outros postos de trabalho estão tambem ameaçados e as matilhas de cães terão, na maioria dos casos, de ser abatidas. Além de tudo isto as populações de raposa continuarão a ter de ser controladas através de outros mecanismos como seja o envenenamento.
Desculpem lá qualquer coisinha.
FA
ROTA DO BORNDIEP EM ÁGUAS EUROPEIAS
Água no Conselho - Presidência Holandesa declarou que não iria tomar medidas contra Portugal;
Água na Comissão - A Comissão idem;
Água na comissão das Mulheres do Parlamento Europeu - Não conseguiram que a comisão parlamentar tomasse posição a respeito deste caso;
Água pela segunda vez no Conselho - em resposta à pergunta oral do Deputado Sérgio Ribeiro (PCP) feita em sessão ordinária de perguntas, o Conselho foi claro: Le Conseil rappelle à l’Honorable Parlementaire qu’il ne lui appartient pas de s’exprimer sur un sujet qui fait l’objet, ainsi qu’il le relève dans sa question, de procédures judiciaires actuellement. S’agissant de la question plus précise de l’admission du navire néerlandais "Women on Waves" dans les eaux territoriales portugaises, le Conseil tient à rappeler à l’Honorable Parlementaire qu’il n’existe pas de législation communautaire en la matière, celle-ci relevant du Droit international public et du Droit de l’État côtier;
Água pela segunda vez na Comissão - em resposta à pergunta oral da Deputada Ilda Figueiredo (PCP) feita em sessão ordinária de perguntas, a Comissão conclui: Si les personnes concernées ont fait usage de leur droit de recours contre la décision de refus d´entrée du navire « Borndiep » au Portugal, il appartient au juge national portugais de se prononcer sur la décision en question dans le respect des principes généraux de droit communautaire et des dispositions de la directive 64/221;
Água no Plenário do Parlamento - Os proponentes das perguntas levadas à discussão na quinta-feira de manhã (Ilda Figueiredo, Sérgio Ribeiro (PCP), Miguel Portas (BE), Jamila Madeira, Edite Estrela, Ana Gomes, Emanuel Jardim Fernandes (PS), para só falar ds portugueses) só podem ter tido medo de perder a votação, uma vez que não apresentaram proposta de resolução como consequência das suas perguntas, ficando-se pelo debate;
Água pela terceira vez na Comissão - Ao contrário do que já vi escrito, em resposta às perguntas de quinta-feira, a Comissão limitou-se a pedir "informações" (e não explicações) como sempre faz quando há perguntas deste tipo feitas por deputados em sessão plenária: The Commission intends to seek information on the precise motives and implications of the decision of the Portuguese Government. É a fórmula da praxe.
Só mesmo a nossa esquerda para tentar apresentar como vitória o que foi, tão só, um rotundo fiasco.
JV
P.S.: dados disponíveis para consulta no site do Parlamento Europeu.
quinta-feira, setembro 16, 2004
Selvajaria e a luta de classes
Vamos lá ver se a gente se entende. Eu não sou contra a caça à raposa nem um defensor da mesma. Pessoalmente não acho que seja uma selvajaria. Reservo tal epíteto para outras realidades bem mais graves e merecedoras de atenção.
Aquilo que eu quero deixar bem claro são as circunstâncias que rodeiam a proibição de uma actividade praticada por milhares de pessoas do meio rural britânico que se sentem progressivamente excluidas do "contrato social". Não, não são só betinhos a cavalo – aliás a maioria são populações humildes ligadas à agricultura que têm as suas matilhas de cães comunitárias e caçam as raposas a pé. Não, não é uma realidade só de Inglaterra – no País de Gales, Escócia e Irlanda também existe.
A proibição em causa (como muitas outras aliás) representa o avanço da ditadura do politicamente correcto que, já agora, importa não confundir com progressismo, avanço cultural ou razoabilidade. Pelo contrário.
FA
Vamos lá ver se a gente se entende. Eu não sou contra a caça à raposa nem um defensor da mesma. Pessoalmente não acho que seja uma selvajaria. Reservo tal epíteto para outras realidades bem mais graves e merecedoras de atenção.
Aquilo que eu quero deixar bem claro são as circunstâncias que rodeiam a proibição de uma actividade praticada por milhares de pessoas do meio rural britânico que se sentem progressivamente excluidas do "contrato social". Não, não são só betinhos a cavalo – aliás a maioria são populações humildes ligadas à agricultura que têm as suas matilhas de cães comunitárias e caçam as raposas a pé. Não, não é uma realidade só de Inglaterra – no País de Gales, Escócia e Irlanda também existe.
A proibição em causa (como muitas outras aliás) representa o avanço da ditadura do politicamente correcto que, já agora, importa não confundir com progressismo, avanço cultural ou razoabilidade. Pelo contrário.
FA
Papoila da calçada
Antes de mais queria pedir desculpa à Papoila pelos meus disparates. Já agora, que parte do meu post é que é particularmente disparatado?
Será que não expliquei bem o valor que uma tradição de mais de quinhentos anos pode ter para uma comunidade? Será que não alertei devidamente para o perigo que pode representar a restrição de direitos individuais sem uma justificação cuidada, consensual e proporcional aos valores em disputa? Será que não percebeu que eu me estou positivamente a borrifar para a caça à raposa?
O que me preocupa é a excessiva protecção de determinados valores sacrificando outros na sua totalidade. O que me aborrece é a ditadura do politicamente correcto que não se coíbe de dizer aos cidadãos como devem viver a sua vida. O que me enfada é o maquiavelismo do governo trabalhista. O que me enfastia é que as papoilas do campo são cada vez menos e as da cidade cada vez mais.
FA
Antes de mais queria pedir desculpa à Papoila pelos meus disparates. Já agora, que parte do meu post é que é particularmente disparatado?
Será que não expliquei bem o valor que uma tradição de mais de quinhentos anos pode ter para uma comunidade? Será que não alertei devidamente para o perigo que pode representar a restrição de direitos individuais sem uma justificação cuidada, consensual e proporcional aos valores em disputa? Será que não percebeu que eu me estou positivamente a borrifar para a caça à raposa?
O que me preocupa é a excessiva protecção de determinados valores sacrificando outros na sua totalidade. O que me aborrece é a ditadura do politicamente correcto que não se coíbe de dizer aos cidadãos como devem viver a sua vida. O que me enfada é o maquiavelismo do governo trabalhista. O que me enfastia é que as papoilas do campo são cada vez menos e as da cidade cada vez mais.
FA
quarta-feira, setembro 15, 2004
A política segundo Tony Blair
O governo trabalhista prepara-se para fazer passar na Câmara do Comuns a lei que proíbe a caça à raposa. Mais, o governo de Tony Blair fez saber que, caso a Câmara dos Lordes levante obstáculos à aprovação da lei, lançará mão do Parliament Act que permite desconsiderar a opinião dos “pares do reino”. Mas, não ficando por aqui, o governo pretende que a lei seja aprovada antes das eleições (para agradar aos seus) mas entrando em vigor apenas depois (para evitar manifestações inoportunas pelos outros).
Parece indiscutível que esta lei é uma imposição dos preconceitos da maioria urbana a uma comunidade rural cada vez mais desprezada e marginalizada. O seu conteúdo demonstra o total desrespeito pelos valores tradicionais do meio rural sacrificando-os, sem qualquer hesitação, no altar de outros valores que, na sua superioridade intelectual, a esquerda crê inquestionáveis. Os métodos empregues, por seu turno, demonstram a facilidade com que o “new labour” manipula o impacto das suas decisões política esvaziando-as de qualquer centelha de responsabilidade.
Não sendo um defensor da caça à raposa (não tenho conhecimentos suficientes da realidade social em que tal prática se insere), custa-me ver direitos, liberdades e garantias restringidos por leis clara e inequivocamente irrazoáveis.
FA
O governo trabalhista prepara-se para fazer passar na Câmara do Comuns a lei que proíbe a caça à raposa. Mais, o governo de Tony Blair fez saber que, caso a Câmara dos Lordes levante obstáculos à aprovação da lei, lançará mão do Parliament Act que permite desconsiderar a opinião dos “pares do reino”. Mas, não ficando por aqui, o governo pretende que a lei seja aprovada antes das eleições (para agradar aos seus) mas entrando em vigor apenas depois (para evitar manifestações inoportunas pelos outros).
Parece indiscutível que esta lei é uma imposição dos preconceitos da maioria urbana a uma comunidade rural cada vez mais desprezada e marginalizada. O seu conteúdo demonstra o total desrespeito pelos valores tradicionais do meio rural sacrificando-os, sem qualquer hesitação, no altar de outros valores que, na sua superioridade intelectual, a esquerda crê inquestionáveis. Os métodos empregues, por seu turno, demonstram a facilidade com que o “new labour” manipula o impacto das suas decisões política esvaziando-as de qualquer centelha de responsabilidade.
Não sendo um defensor da caça à raposa (não tenho conhecimentos suficientes da realidade social em que tal prática se insere), custa-me ver direitos, liberdades e garantias restringidos por leis clara e inequivocamente irrazoáveis.
FA
terça-feira, setembro 14, 2004
Oposição responsável... isso é relativo
De todas as reacções à intervenção televisiva do Ministro das Finanças destaco esta do relativo Pedro Estevão como exemplificativa da má-fé que grassa na oposição. Por um lado troça-se do ar professoral mas por outro critica-se a simplificação técnica. Ao mesmo tempo que se alega a existência de um “desastre social e económico” interpreta-se como manobra polítiqueira de baixo-nível as soluções apresentadas.
Repudia-se o método, troça-se da forma, critica-se o conteúdo e ainda se arranja tempo para pôr as culpas no opositor de uma situação criada por nós. De facto é melhor deixar o relativismo aos especialistas.
FA
De todas as reacções à intervenção televisiva do Ministro das Finanças destaco esta do relativo Pedro Estevão como exemplificativa da má-fé que grassa na oposição. Por um lado troça-se do ar professoral mas por outro critica-se a simplificação técnica. Ao mesmo tempo que se alega a existência de um “desastre social e económico” interpreta-se como manobra polítiqueira de baixo-nível as soluções apresentadas.
Repudia-se o método, troça-se da forma, critica-se o conteúdo e ainda se arranja tempo para pôr as culpas no opositor de uma situação criada por nós. De facto é melhor deixar o relativismo aos especialistas.
FA
segunda-feira, setembro 13, 2004
EXAME DE CONSCIÊNCIA
Dar graças ao António e ao Tiago por me terem apresentado à música de Hermeto Pascoal;
Penitenciar-me por ter tentado declamar o Lepanto à menina breve que me perguntou ao almoço - Porque é que tens barba?
Agradecer à Madalena o ter deixado o carro para trás, dando-me a melhor desculpa do mês para um jantar;
DBH
Dar graças ao António e ao Tiago por me terem apresentado à música de Hermeto Pascoal;
Penitenciar-me por ter tentado declamar o Lepanto à menina breve que me perguntou ao almoço - Porque é que tens barba?
Agradecer à Madalena o ter deixado o carro para trás, dando-me a melhor desculpa do mês para um jantar;
DBH
Alis Ubbo
Dejanirah Couto nasceu em Lisboa mas lecciona em Paris. Foi por lá que publicou a sua “Histoire de Lisbonne” agora traduzida para Português. Não é um tratado nem tão pouco uma obra-prima mas está bem escrito. Com sobriedade nos factos e imaginação nas descrições mais pitorescas da nossa tradição trágico-cómica. “Little snippets” de humor aqui e ali tornam a leitura agradável.
Não é (nem pretenderia ser) um trabalho histórico exaustivo. Confunde-se (inevitavelmente?) a história do país com a da capital. Apesar disso, são menos de 350 páginas que podiam facilmente fazer parte do programa de História de todas as escolas secundárias de Lisboa.
Ah! E fala bastante do nosso fado.
FA
Dejanirah Couto nasceu em Lisboa mas lecciona em Paris. Foi por lá que publicou a sua “Histoire de Lisbonne” agora traduzida para Português. Não é um tratado nem tão pouco uma obra-prima mas está bem escrito. Com sobriedade nos factos e imaginação nas descrições mais pitorescas da nossa tradição trágico-cómica. “Little snippets” de humor aqui e ali tornam a leitura agradável.
Não é (nem pretenderia ser) um trabalho histórico exaustivo. Confunde-se (inevitavelmente?) a história do país com a da capital. Apesar disso, são menos de 350 páginas que podiam facilmente fazer parte do programa de História de todas as escolas secundárias de Lisboa.
Ah! E fala bastante do nosso fado.
FA
sábado, setembro 11, 2004
LAST NIGHT
É hoje, old boys, agora mesmo na Antena 2, BBC1 ou BBC radio 3.
Uma noite por ano, esqueço-me do Rei Guilherme II, da sodomia etoniana, da cerveja quente e do leite no chá.
Hoje grito pela "Land of Hope and Glory" e cantarei acompanhado:
"I will not cease from mental fight
Nor shall my sword sleep in hand
'Til we have built Jerusalem!"
DBH
É hoje, old boys, agora mesmo na Antena 2, BBC1 ou BBC radio 3.
Uma noite por ano, esqueço-me do Rei Guilherme II, da sodomia etoniana, da cerveja quente e do leite no chá.
Hoje grito pela "Land of Hope and Glory" e cantarei acompanhado:
"I will not cease from mental fight
Nor shall my sword sleep in hand
'Til we have built Jerusalem!"
DBH
burladero do NQDI
Uma boa notícia para os aficionados. O Miguel Soares, bom e velho amigo de quatro quintos do Quinto, resolveu brindar a blogosfera com um blog sobre as coisas da sua terra, com especial destaque para a tauromaquia que conhece e ama como poucos.
Apesar de não torcermos pelas mesmas "cores" no que toca a grupos de forcados (o Miguel é um indefectível apoiante do grupo de Montemor) não posso deixar de lhe mandar um abraço e desejar-lhe, em nome da casa, toda a sorte do mundo para as suas lides alentejanas.
JV
Uma boa notícia para os aficionados. O Miguel Soares, bom e velho amigo de quatro quintos do Quinto, resolveu brindar a blogosfera com um blog sobre as coisas da sua terra, com especial destaque para a tauromaquia que conhece e ama como poucos.
Apesar de não torcermos pelas mesmas "cores" no que toca a grupos de forcados (o Miguel é um indefectível apoiante do grupo de Montemor) não posso deixar de lhe mandar um abraço e desejar-lhe, em nome da casa, toda a sorte do mundo para as suas lides alentejanas.
JV
sexta-feira, setembro 10, 2004
INTERRUPÇÃO VOLUNTÁRIA DA ACIDEZ
O Barnabé começou a atormentar-nos a existência há precisamente um ano. Podia apenas dar-lhe os parabéns e desejar felicidades, mas, tendo em conta as honras que nos foram prestadas aqui pelo Pedro Oliveira e o facto de, lendo os arquivos do NQdI, reparar que grande parte destes se deve àqueles nossos amigos, sinto que devo igualmente deixar um sincero Obrigado.
Mas vá, não se habituem.
FMS
O Barnabé começou a atormentar-nos a existência há precisamente um ano. Podia apenas dar-lhe os parabéns e desejar felicidades, mas, tendo em conta as honras que nos foram prestadas aqui pelo Pedro Oliveira e o facto de, lendo os arquivos do NQdI, reparar que grande parte destes se deve àqueles nossos amigos, sinto que devo igualmente deixar um sincero Obrigado.
Mas vá, não se habituem.
FMS
SER ADVOGADO
Só mesmo o Jerry para perceber e resumir na perfeição a chatice que é tudo isto.
"Afinal, o que são os advogados? Para mim, um advogado é basicamente uma pessoa que sabe as leis do país. Todas as pessoas atiram os dados e movem as peças no tabuleiro, mas se houver um problema, o advogado é a única pessoa que leu a parte de dentro do tabuleiro."
FMS
Só mesmo o Jerry para perceber e resumir na perfeição a chatice que é tudo isto.
"Afinal, o que são os advogados? Para mim, um advogado é basicamente uma pessoa que sabe as leis do país. Todas as pessoas atiram os dados e movem as peças no tabuleiro, mas se houver um problema, o advogado é a única pessoa que leu a parte de dentro do tabuleiro."
FMS
Porque amanhã é 11 de Setembro
Ontem à noite no Channel 4 passou um documentário sobre as teorias da conspiração que circulam pela net a propósito do 11 de Setembro e que até já deram azo a um processo judicial nos EUA contra o presidente Bush, Cheney e Rumsfeld (para não falar do filme do Moore).
Vale a pena responder a esses disparates insanos? Vale. Vale a pena porque essas teorias alimentam a desconfiança dos cidadãos sobre os seus governos. Vale a pena porque tais hipóteses fantásticas minam a nossa vontade de combater quem planeou e planeia ataques terroristas contra a nossa liberdade.
Proponho uma teoria inversa a essas teorias. Quem quer que fomente a dúvida de que foi a Al-Qaeda que levou a cabo os atentados e sugira o envolvimento dos governos ocidentais nos mesmos está ao serviço de uma mega-conspiração contra a democracia, a liberdade e a própria civilização ocidental que visa o enfraquecimento e eventual colapso da nossa sociedade. O Michael Moore, ainda que não saiba por força de poderosos agentes químicos camuflados na sua dieta de donuts, é da Al-Qaeda.
Tudo isto teria até um lado cómico não fosse o vergonhoso e indecente aproveitamento do natural sofrimento dos familiares das vítimas e, já agora, o facto de querer transformar o mais grave atentado terrorista da história numa mentira.
FA
Ontem à noite no Channel 4 passou um documentário sobre as teorias da conspiração que circulam pela net a propósito do 11 de Setembro e que até já deram azo a um processo judicial nos EUA contra o presidente Bush, Cheney e Rumsfeld (para não falar do filme do Moore).
Vale a pena responder a esses disparates insanos? Vale. Vale a pena porque essas teorias alimentam a desconfiança dos cidadãos sobre os seus governos. Vale a pena porque tais hipóteses fantásticas minam a nossa vontade de combater quem planeou e planeia ataques terroristas contra a nossa liberdade.
Proponho uma teoria inversa a essas teorias. Quem quer que fomente a dúvida de que foi a Al-Qaeda que levou a cabo os atentados e sugira o envolvimento dos governos ocidentais nos mesmos está ao serviço de uma mega-conspiração contra a democracia, a liberdade e a própria civilização ocidental que visa o enfraquecimento e eventual colapso da nossa sociedade. O Michael Moore, ainda que não saiba por força de poderosos agentes químicos camuflados na sua dieta de donuts, é da Al-Qaeda.
Tudo isto teria até um lado cómico não fosse o vergonhoso e indecente aproveitamento do natural sofrimento dos familiares das vítimas e, já agora, o facto de querer transformar o mais grave atentado terrorista da história numa mentira.
FA
terça-feira, setembro 07, 2004
DANIEL,
Acabei de receber este mail de uma colega, polemista empenhada e simpatizante do Bloco de Esquerda. Faz qualquer coisa.
"o Luís fazenda apagou a minha mensagem sobre o genocídio em Darfur sem a ler! achas normal, acho isto um ultraje, o Presidente da República leu a minha mensagem."
-----Original Message-----
From: Luís Fazenda [mailto:Luis.Fazenda@be.parlamento.pt]
Sent: terça-feira, 7 de Setembro de 2004 14:54
To: [A autora não permitiu a revelação do nome]
Subject: Not read: Não lido: Darfur
Your message
To: Luis.Fazenda@be.parlamento.pt
Subject:
was deleted without being read on 07-09-2004 14:54.
FMS
Acabei de receber este mail de uma colega, polemista empenhada e simpatizante do Bloco de Esquerda. Faz qualquer coisa.
"o Luís fazenda apagou a minha mensagem sobre o genocídio em Darfur sem a ler! achas normal, acho isto um ultraje, o Presidente da República leu a minha mensagem."
-----Original Message-----
From: Luís Fazenda [mailto:Luis.Fazenda@be.parlamento.pt]
Sent: terça-feira, 7 de Setembro de 2004 14:54
To: [A autora não permitiu a revelação do nome]
Subject: Not read: Não lido: Darfur
Your message
To: Luis.Fazenda@be.parlamento.pt
Subject:
was deleted without being read on 07-09-2004 14:54.
FMS
Humildade e contenção
O Cáucaso, como os Balcãs, é uma região minada por uma conflituosidade latente muitas vezes com contornos étnicos e religiosos. O Presidente da Federação Russa sabe isso muito melhor que nós mas, ao contrário dos observadores externos ao problema, está refém da sua política de combate feroz aos nacionalismos locais.
Os conselhos que mais se ouvem são de duas ordens: Em primeiro lugar pôr o Exército em ordem. Não abona muito a favor do “verkhovny glavnokomanduyushchy” (que é como quem diz comandante supremo) que os seus soldados, em pleno palco de operações, troquem armas e munições por um maço de cigarros ou uma garrafa de vodka. Em segundo lugar é fundamental negociar com os nacionalistas moderados das diferentes repúblicas do Cáucaso. Só assim se isolarão os islamistas radicais com quem é impossível negociar (ainda que se quisesse). Num e noutro caso Putin terá que comer alguma “humble pie” se quiser avançar para uma pacificação da região.
FA
O Cáucaso, como os Balcãs, é uma região minada por uma conflituosidade latente muitas vezes com contornos étnicos e religiosos. O Presidente da Federação Russa sabe isso muito melhor que nós mas, ao contrário dos observadores externos ao problema, está refém da sua política de combate feroz aos nacionalismos locais.
Os conselhos que mais se ouvem são de duas ordens: Em primeiro lugar pôr o Exército em ordem. Não abona muito a favor do “verkhovny glavnokomanduyushchy” (que é como quem diz comandante supremo) que os seus soldados, em pleno palco de operações, troquem armas e munições por um maço de cigarros ou uma garrafa de vodka. Em segundo lugar é fundamental negociar com os nacionalistas moderados das diferentes repúblicas do Cáucaso. Só assim se isolarão os islamistas radicais com quem é impossível negociar (ainda que se quisesse). Num e noutro caso Putin terá que comer alguma “humble pie” se quiser avançar para uma pacificação da região.
FA
Tribunal mantém proibição de entrada do barco do aborto
"O Tribunal Administrativo Fiscal de Coimbra (TAFC) decidiu esta noite manter a decisão do Governo de proibir a entrada do barco da associação Women on Waves (WOW) em águas territoriais portuguesas.Desta decisão há agora lugar a recurso para o Tribunal Central Administrativo, nos próximos 15 dias, mas sem efeito suspensivo. Uma vez que o “Borndiep” só fica em Portugal até domingo, ela vale para todos os efeitos.
A decisão da juíza Maria Helena Canelas foi tomada na sequência da acção interposta na passada terça-feira pelo advogado português da WOW, Daniel Andrade.Tratase de uma “intimação para defesa dos direitos, liberdades e garantias”, prevista no novo Código de Procedimento Administrativo e que ainda só terá sido utilizada em Portugal uma ou duas vezes, ao que o PÚBLICO apurou.
Na petição, Daniel Andrade terá argumentado com a violação do direito de passagem (marítima) não ofensiva, mas sobretudo com a violação de direitos, liberdades e garantias constitucionalmente protegidos, nomeadamente o direito de circulação, expressão, manifestação, reunião e liberdade de informação.
Mas os argumentos não colheram. “A livre circulação de cidadãos europeus no espaço comunitário diz respeito à circulação de pessoas e não dos meios de transporte utilizados”, afirmou Helena Canelas, sublinhando que a entrada do barco “não é indispensável para assegurar os direitos em causa”. Por outro lado, considerou provado que a WOW pretendia, com a atracagem do barco, levar mulheres a “iniciar procedimentos abortivos” e que “o acto de administração de medicamentos acarretará sempre outros actos a praticar em território nacional”, dando assim razão aos argumentos do advogado do Ministério da Defesa, Manuel Ayala.
No entanto, a juiza sublinhou, por diversas vezes, que a decisão de entrada do navio “dependia da autorização do capitão do porto” da Figueira da Foz, não tirando, no entanto, nenhuma consequência do facto de a proibição ter sido determinada pelo Ministério da Defesa. O processo deu entrada na passada terça-feira, contra o Ministério da Defesa e o Instituto Portuário de Transportes Marítimos (IPTM), a pedido dos movimentos que apoiaram a vinda do navio-clínica “Borndiep” a Portugal: a própria Women on Waves e quatro associações portuguesas - Não Te Prives, Acção Jovem para a Paz, UMAR e Clube Safo.
Dado o carácter de urgência da acção, o desfecho do processo verificou-se em menos de uma semana. “É uma derrota para as mulheres portuguesas”, sublinhou a fundadora da WOW, Rebbeca Gomperts. “São elas que são humilhadas e criminalizadas, que vão a julgamento, aos hospitais e morrem”, prosseguiu, afirmando ainda que vai consultar os advogados para avaliar a possibilidade de levarem mulheres a alto mar. Uma hipótese que Daniel Andrade não descartou quando, em reacção à decisão, afirmou ponderar os passos seguintes. “Esperava mais coragem”, rematou, por último, Cristina Santos, da UMAR.
Mais de seis horas para decidir
O Tribunal Administrativo de Coimbra ouviu, durante todo o dia, representantes do Ministério da Defesa e do IPTM, sem a presença de jornalistas apenas devido ao sigilo de que ambas as partes se rodearam. Ao que o PÚBLICO apurou, a discussão andou em grande parte à volta de questões prejudiciais ao processo, com o advogado que representa o Ministério da Defesa, Manuel Ayala, a alegar que a proibição não visou restringir direitos fundamentais, mas antes impedir que se viesse a desrespeitar a lei do aborto.
Um dos argumentos utilizados por este causídico foi baseado na reportagem da BBC sobre a WOW, onde era afirmado pelas activistas holandesas que, depois da toma da primeira pílula abortiva a bordo do navio-clínica, era entregue à mulher a segunda pílula, para tomar horas mais tardes já em casa (“at home”). Ou seja, uma vez que o crime é praticado em duas fases e que se consuma depois da toma da segunda pílula, ele seria cometido em território nacional.As notícias da imprensa foram também usadas em audiência, sobretudo por Manuel Ayala, para fundamentar a proibição de atracagem determinada pelo Governo. Por exemplo, as que citavam o bastonário da Ordem dos Médicos quando este afirmou que o “Borndiep” era uma clínica clandestina, não legalizada em Portugal.
Como testemunhas, foram ainda ouvidos três médicos, dois apresentados pelo Ministério da Defesa e um pelas organizações apoiantes da WOW. Nas alegações finais, Manuel Ayala sustentou também que a procedência desta acção consistiria num “perigo” pelos antecedentes que poderia abrir. “Hoje é o aborto, amanhã a eutanásia, as drogas duras e o que mais...”, terá dito.Às 16h30, depois de pouco mais de cinco horas de audiência, a juíza recolheu ao gabinete para decidir aquilo que rotulou de “acção complexa”, mas prometendo uma decisão para duas horas depois. O “fumo branco” acabou por só ser visível às 23h00".
Notícia Público
DBH
"O Tribunal Administrativo Fiscal de Coimbra (TAFC) decidiu esta noite manter a decisão do Governo de proibir a entrada do barco da associação Women on Waves (WOW) em águas territoriais portuguesas.Desta decisão há agora lugar a recurso para o Tribunal Central Administrativo, nos próximos 15 dias, mas sem efeito suspensivo. Uma vez que o “Borndiep” só fica em Portugal até domingo, ela vale para todos os efeitos.
A decisão da juíza Maria Helena Canelas foi tomada na sequência da acção interposta na passada terça-feira pelo advogado português da WOW, Daniel Andrade.Tratase de uma “intimação para defesa dos direitos, liberdades e garantias”, prevista no novo Código de Procedimento Administrativo e que ainda só terá sido utilizada em Portugal uma ou duas vezes, ao que o PÚBLICO apurou.
Na petição, Daniel Andrade terá argumentado com a violação do direito de passagem (marítima) não ofensiva, mas sobretudo com a violação de direitos, liberdades e garantias constitucionalmente protegidos, nomeadamente o direito de circulação, expressão, manifestação, reunião e liberdade de informação.
Mas os argumentos não colheram. “A livre circulação de cidadãos europeus no espaço comunitário diz respeito à circulação de pessoas e não dos meios de transporte utilizados”, afirmou Helena Canelas, sublinhando que a entrada do barco “não é indispensável para assegurar os direitos em causa”. Por outro lado, considerou provado que a WOW pretendia, com a atracagem do barco, levar mulheres a “iniciar procedimentos abortivos” e que “o acto de administração de medicamentos acarretará sempre outros actos a praticar em território nacional”, dando assim razão aos argumentos do advogado do Ministério da Defesa, Manuel Ayala.
No entanto, a juiza sublinhou, por diversas vezes, que a decisão de entrada do navio “dependia da autorização do capitão do porto” da Figueira da Foz, não tirando, no entanto, nenhuma consequência do facto de a proibição ter sido determinada pelo Ministério da Defesa. O processo deu entrada na passada terça-feira, contra o Ministério da Defesa e o Instituto Portuário de Transportes Marítimos (IPTM), a pedido dos movimentos que apoiaram a vinda do navio-clínica “Borndiep” a Portugal: a própria Women on Waves e quatro associações portuguesas - Não Te Prives, Acção Jovem para a Paz, UMAR e Clube Safo.
Dado o carácter de urgência da acção, o desfecho do processo verificou-se em menos de uma semana. “É uma derrota para as mulheres portuguesas”, sublinhou a fundadora da WOW, Rebbeca Gomperts. “São elas que são humilhadas e criminalizadas, que vão a julgamento, aos hospitais e morrem”, prosseguiu, afirmando ainda que vai consultar os advogados para avaliar a possibilidade de levarem mulheres a alto mar. Uma hipótese que Daniel Andrade não descartou quando, em reacção à decisão, afirmou ponderar os passos seguintes. “Esperava mais coragem”, rematou, por último, Cristina Santos, da UMAR.
Mais de seis horas para decidir
O Tribunal Administrativo de Coimbra ouviu, durante todo o dia, representantes do Ministério da Defesa e do IPTM, sem a presença de jornalistas apenas devido ao sigilo de que ambas as partes se rodearam. Ao que o PÚBLICO apurou, a discussão andou em grande parte à volta de questões prejudiciais ao processo, com o advogado que representa o Ministério da Defesa, Manuel Ayala, a alegar que a proibição não visou restringir direitos fundamentais, mas antes impedir que se viesse a desrespeitar a lei do aborto.
Um dos argumentos utilizados por este causídico foi baseado na reportagem da BBC sobre a WOW, onde era afirmado pelas activistas holandesas que, depois da toma da primeira pílula abortiva a bordo do navio-clínica, era entregue à mulher a segunda pílula, para tomar horas mais tardes já em casa (“at home”). Ou seja, uma vez que o crime é praticado em duas fases e que se consuma depois da toma da segunda pílula, ele seria cometido em território nacional.As notícias da imprensa foram também usadas em audiência, sobretudo por Manuel Ayala, para fundamentar a proibição de atracagem determinada pelo Governo. Por exemplo, as que citavam o bastonário da Ordem dos Médicos quando este afirmou que o “Borndiep” era uma clínica clandestina, não legalizada em Portugal.
Como testemunhas, foram ainda ouvidos três médicos, dois apresentados pelo Ministério da Defesa e um pelas organizações apoiantes da WOW. Nas alegações finais, Manuel Ayala sustentou também que a procedência desta acção consistiria num “perigo” pelos antecedentes que poderia abrir. “Hoje é o aborto, amanhã a eutanásia, as drogas duras e o que mais...”, terá dito.Às 16h30, depois de pouco mais de cinco horas de audiência, a juíza recolheu ao gabinete para decidir aquilo que rotulou de “acção complexa”, mas prometendo uma decisão para duas horas depois. O “fumo branco” acabou por só ser visível às 23h00".
Notícia Público
DBH