«... depois dos três impérios dos Assírios, Persas e Gregos, que já passaram, e depois do quarto, que ainda hoje dura, que é o romano, há-de haver um novo e melhor império que há-de ser o quinto e último» Padre António Vieira oquintodosimperios@gmail.com
quinta-feira, junho 30, 2005
O Luís Tribuna, excelso Insurgente, identifica aqui mais uma típica manobra “de mercearia” na elaboração do OE Rectificativo.
O governo incluiu nas receitas uma verba de 400 milhões de euros correspondentes a operações de privatização. Parece, no entanto, que ainda não se sabe bem o que se vai vender nem porquê. É o que for preciso desde que o preço bata certo. Esta estratégia de merceeiro é aceitável mas o recurso a “receitas extraordinárias” já não.
Mas, já se sabe, isto de nós andarmos para aqui a identificar as trapalhadas deste Governo é tudo “uma forma muito particular de ressentimento”.
FA
DO OUTRO MUNDO
JV
quarta-feira, junho 29, 2005
terça-feira, junho 28, 2005
JV
JV
P.S.: É irresistível o apelo à participação da rapaziada:
É A MIL, É A MIL!
JV
“O Conselho directivo da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa votou a propina mínima para o próximo ano, mercê dos votos dos estudantes, directos interessados, e de um funcionário, contra os professores e o próprio presidente do Conselho directivo, o qual pediu a demissão na sequência da decisão, por entender que deixa de haver meios para o funcionamento da Faculdade. Que País, este, onde os estabelecimentos públicos universitários são financeiramente governados pelos utentes e pelo pessoal administrativo! Por que espera o Ministro do Ensino Superior para fazer aprovar a revisão do sistema de governo das universidades, de modo a pôr fim a esta rebalderia?” Vital Moreira, in Causa Nossa
Não resisti a transcrever este post do Causa Nossa. Primeiro porque um dia destes o Governo muda e o Professor ainda há de ter uma opinião diametralmente oposta. Segundo... bom, segundo porque, não sei se foi o caso da Faculdade de Ciências mas sei que foi o caso do Técnico, para alertar os mais distraídos que esses estatutos universitários (ou “esta rebaldaria” como bem diz o Professor) foram “conquistas de Abril” senhor Professor.
Não deixa de ser curioso como o pragmatismo acaba por conquistar, mais tarde ou mais cedo, os espíritos mais revolucionários. Excepto os coerentes, claro.
FA
Afinal o voto dos emigrantes galegos (a quinta província galega!) não alterou o resultado e confirmou-se o último mandato de Pontevedra para o PSOE. É pena. Apesar de continuar a ser o partido mais votado, o PP Galego passa à oposição. Oposição a um governo de coligação contra-natura entre os oportunistas do costume e os nacionalistas de sempre. A ver vamos...
FA
segunda-feira, junho 27, 2005
Esses testes instantâneos que circulam pela Internet só podem ser uma farsa. Eu, um libertarian cockney, não posso acreditar que vivo com uma gauchiste libérale parisienne.
FMS
sexta-feira, junho 24, 2005
PSD vai propor redução do tamanho do Estado
(a fotografia está na primeira página do Diário Digital)
JV
quinta-feira, junho 23, 2005
- Boa noite, era um frango assado para levar.
- Um frango assado? O senhor não tem aspecto de quem coma frango assado.
- Obrigado, mas hoje é o que vai ser.
- O senhor tem mais cara de quem come outras coisas mais sofisticadas, assim tipo sushi.
- Há pouco pensei que me estivesse a elogiar.
FMS
The Laeken Declaration which launched the Constitution was designed "to bring Europe closer to the people". Did it? The Lisbon agenda was launched in the year 2000 with the ambition of making Europe "the most competitive place to do business in the world by 2010". We are half way through that period. Has it succeeded?
I have sat through Council Conclusions after Council Conclusions describing how we are "reconnecting Europe to the people". Are we?
It is time to give ourselves a reality check. To receive the wake-up call. The people are blowing the trumpets round the city walls. Are we listening? Have we the political will to go out and meet them so that they regard our leadership as part of the solution not the problem?
FA
Via Grande Loja acabo de descobrir que Tony Blair declarou que "a Europa deve investir em empregos e não em vacas". Alguma direita não lhe bate palmas.
JV
Assim se descobre:
quarta-feira, junho 22, 2005
Se os bancos que temos não arriscam e os empresários que nos governam não inovam, não percebo do que é que estão à espera as gentes da esquerda para fazerem um banco que arrisque ou lançarem projectos empresariais inovadores. Como é que tanta sagacidade para a análise político-económica pode andar de braço dado com tanta falta de olho para o negócio?
FA
Diz o JPH que não foi intolerante “para com os que não "expiaram o pecado" de serem politicamente descendentes de quem não foi relevante nem no combate a Salazar nem, depois do 25 de Abril, às tentações totalitárias”. A questão, diz o genealogista disfarçado de jornalista, não é intolerância, “é mais falta de paciência”. Afinal parece que “todos temos a mesma legitimidade para dizermos o que nos apetece” (uff, ainda bem!) “mas nem todos temos a mesma autoridade. A questão é essa: autoridade”.
Cuidado JPH, olhe que a paciência é uma virtude e a autoridade um vício.
FA
terça-feira, junho 21, 2005
Via João Pereira Coutinho e MacGuffin, a força tranquila de Christopher Hitchens em entrevista no Uncommon Knowledge (recomenda-se a versão video).
Eis um pequeno excerto:
Peter Robinson: You write of North Korea, it is exactly as if it was modeled on 1984, Orwell's novel--the leader worship, the terror, the uniformity, the misery, the squalor, all true. Still?
Christopher Hitchens: Yes, it was--the state was founded actually I think the year that 1984 was published and it's as if they sort of took the book and thought I wonder if we could make this work?
Peter Robinson: Right.
Christopher Hitchens: One tries to avoid cliché. I remember I went to Prague during the old days, the bad old days of the communist regime to attend a dissident meeting. I thought whatever happens to me, I'm not going to mention the name Kafka in what I write. I'm going to be the first reporter who doesn't--who goes to Prague and doesn't bring up Kafka.
Peter Robinson: Does not say Kafka?
Christopher Hitchens: Anyway the policemen came in--the secret police broke into the meeting I was at and slammed me up against the wall and said you're under arrest. And I said what for? And they said we're not telling you what for. And I thought damn, now I have to resort to cliché. I have to mention Kafka.
Peter Robinson: You have to say Kafka.
Christopher Hitchens: Well if you go to North Korea, determined not to mention Orwell, Orwellianism or 1984, you will--I'm sorry--you'll be forced to. They make you do it.
FMS
An everyday fantasy of farming folk
By
Mark Steyn
(21/06/2005)
JV
Bruxelas, 30 graus
- Pois está.
- Parece que desligaram o ar condicionado.
- Pois foi.
- Desligaram mesmo?
- Sim.
- Porquê?! Está um calor brutal lá fora!
- Uns dizem que foi por causa do fracasso do Tratado, outros que a culpa é do falhanço das Perspectivas Financeiras e alguns que a Europa só funciona bem quando não é mesmo preciso....
JV
segunda-feira, junho 20, 2005
A propósito da corrida de F1 deste Domingo, onde o Tiago Monteiro conquistou o 3º lugar, com todo o mérito diga-se, muito se tem escrito e comentado. A maior parte das críticas, curiosamente, têm sido dirigidas à Jordan e à Ferrari e, claro, à FIA.
Em primeiro lugar dá que pensar que uma empresa com a experiência da Michelin tenha sido tão desastrada na preparação deste GP. É muito estranho. A verdade é que estão criadas a condições para as 7 equipas Michelin (mais a Minardi, que se comportou como um camaleão desavergonhado) fazerem o seu campeonato autónomo como já há muito se discutia. Isto é a teoria da conspiração.
Agora a parte séria. A argumentação da Michelin e das equipas por si equipadas é mais ou menos assim: Ah, enganámo-nos estrepitosamente na preparação dos pneus para este GP e os pilotos equipados com estes pneus enfrentarão riscos acrescidos de rebentamento dos mesmos. Queremos que não se aplique a regra que nos penaliza se trocarmos de pneus, que alterem o traçado do circuito para garantir a segurança dos pneus defeituosos que trouxémos ou que se faça a corrida mas a brincar. Não estamos dispostos a ir mais devagar ou a actuar de qualquer modo que prejudique a nossa performance ou a pontuação no campeonato. Desde já avisamos que estamos a ser muito razoáveis.
A escola francesa de argumentação está em grande!
FA
Ele era um celebrado animal político. No momento da sua morte, todos lembraram aquela campanha eleitoral vitoriosa em que, para agradar à esquerda, se inscreveu na Académica de Coimbra e, para agradar à direita, se fez sócio desse mito dos escalões secundários, o Clube de Futebol "Os Marialvas".
FMS
Eu bem avisei: A imprensa teria sempre a tentação de titular uma peça sobre a morte de Cunhal com a expressão "O Último Estalinista". O Expresso, na Única, fê-lo. Mas, repito, esse é um monumental erro jornalístico. Não foi, de facto, o último estalinista que morreu. Há muitos que ainda ficam.
FMS
Rui,
Ao que consta, em Viseu não ocorrem marchas nazis ou assaltos em arrastão, e até há manifestações contra a intolerância e a homofobia. Os passeios estão livres dos automóveis, as ruas de engarrafamentos e os prédios não ameaçam derrocada. Em Viseu, pode-se passar um Inverno civilizado, sem o calor permanente desta canícula perigosamente inclinada sobre a latrina mediterrânica. É possível frequentar parques sem se ser violado ou assaltado e acompanhar o crescimento de um filho até ele deixar de querer ser acompanhado. Em Viseu come-se bem e barato, os agentes imobiliários actuam com decência e a imprensa estrangeira também chega no dia em que sai. Apesar de também termos as rídículas marchas populares, preferimos os santos elitistas. Pensa no Salazar. Pensa no Manel Maria Carrilho. E agora repara no que se transformaram quando chegaram a Lisboa. Rui, parece-me que Lisboa precisa mais de pessoas de Viseu do que o contrário. Não acho é que reste muita gente com paciência para missões civilizadoras.
Abraço,
FMS
domingo, junho 19, 2005
A julgar pelo resultado do último Conselho Europeu, estamos perante uma encruzilhada. Um ponto de viragem no processo de construção europeia que, recordemos, é um processo útil, benéfico e essencial para o futuro das nações Europeias. Esta é a parte séria da questão.
A parte humorística é pensar que o modelo Europeu, a não ser que arregacemos as mangas e façamos pela vida, se encaminha para um sistema de funcionários públicos portugueses, políticos italianos, agricultores franceses, banqueiros alemães, pescadores espanhóis e, para mal da minha carteira, tudo pago por contribuintes britânicos!
Agora vou ver o Tiago Monteiro conquistar um lugar no pódio do GP dos Estados Unidos!
FA
sexta-feira, junho 17, 2005
Já se sabe. O pecado original das ideologias, ou utopias políticas, é serem sistemas racionais, fechados, internacionalistas, indiferentes ao lugar e ao tempo. Nas experiências mais sofisticadas, como por exemplo as que Álvaro Cunhal propagandeou, antes do programa político, existe um programa ideológico e, antes deste, um programa estético. A política não é actividade prudente, mas criativa, socialmente transformadora e manipulativa. Exercer o poder é o mesmo que escrever um poema ou pintar um quadro. Da mesma forma, toda a arte é instrumental, devendo servir os propósitos da transformação político-social, da Revolução. Daí os Manuéis Tiagos, os Soeiros Pereira Gomes e outros neo-realismos de qualidade duvidosa.
Neste sentido, há uma certa natureza "reaccionária" na obra de Oscar Wilde, na sua defesa da arte como algo basicamente inútil ("art for art's sake"), que nunca foi verdadeiramente reconhecida mas que, devidamente difundida (através da água, sei lá), seria um bálsamo eficaz para essa mania angustiante de fazer arte panfletária e política estética. Mas eu também não quero ofender os princípios mais profundos de ninguém, principalmente as convicções homofóbicas dos comunistas da velha guarda.
Esqueçamos então o pavão irlandês. Esta malta gosta mais de russos:
«Os romances constituídos principalmente por diálogo ou comentário social
(...) estão banidos terminantemente da minha mesinha-de-cabeceira. E a mistura
popular de pornografia e trapaça idealista dá-me absolutamente vómitos.»
«O semiculto ou o alto filisteu não se conseguem desembaraçar do sentimento
furtivo de que um livro, para ser grande, tem de tratar de grandes ideias. Oh,
conheço esse tipo, esse tipo de melancólico! É uma pessoa que gosta de uma boa
patranha condimentada com comentário social; que gosta de reconhecer os seus
próprios pensamentos e as suas próprias dores de parto nas do autor (...) Se é
americano, tem uma pinta de sangue marxista, e se é britânico, inibições de
classe agudas e ridículas.
Vladimir Nabokov, Opiniões Fortes, Assírio & Alvim, 2005
FMS
JPH é, simultaneamente:
a) jornalista do Público – imparcial e objectivo, como manda a etiqueta;
b) genealogista – especialista em traçar a linhagem política e delimitar a margem de manobra de quem quer que ouse exercer a sua liberdade de expressão;
c) historiador – minucioso e especialista no século XX português. Mais concretamente no pré e pós 25 de Abril. Mas, mesmo a sério, do que ele percebe é do papel (or lack thereof) de quaisquer figuras da direita na consolidação da democracia representativa e do estado de Direito em Portugal.
Afinal quem é que quer fazer quem passar por quê?
FA
Uma proposta legislativa apresentada no Congresso Americano, sugere que o novo A380 seja equipado com defesas anti-míssil. Na opinião do proponente, o congressista John Mica (R. – Fla.) quando um avião transporta o equivalente à população de uma pequena aldeia, o mínimo que se pode pedir é que tenha um sistema de defesa contra ataques terroristas.
Ó Mica, o que tu queres sei eu pá.
Para quem não se recorda, o falhanço comercial do Concorde pode, em parte, ser explicado pela proibição dos EUA de permitir que o avião supersónico sobrevoasse o seu território.
FA
Rui,
Não sejas injusto, pá. O mais ilustre dos viseenses foi contigo ao Antony & The Johnsons.
FMS
quinta-feira, junho 16, 2005
O fenómeno do “arrastão” (chegado a areias de Portugal vindo de paragens tropicais de Vera Cruz) levanta, como fenómeno criminal novo que é, questões (sociais e jurídicas) que talvez não fosse má ideia analisar.
A não ser que os senhores do BE e do PCP não queiram, por essa análise poder ser xenófoba, sectária e oportunista. Nesse caso, então o mais simples é não fazer nada e deixarmos de ir à praia – não tarda os nossos ex-turistas começarão a chegar a essa conclusão e procurarão outras praias com hábitos de pesca mais amigos do (bom) ambiente.
FA
O JPH, do Glória Fácil, acusa os descendentes (políticos) de umas quantas figuras de o tentarem fazer passar por parvo. Ao ler o que escreveu, diria que a tentativa é supérflua.
JV
quarta-feira, junho 15, 2005
Ao contrário do que dizem alguns bloggers e frequentadores de caixas de comentários, quando nestes dias se apontam os resultados trágicos das ideias, dos regimes e dos métodos de que Cunhal foi impulsionador e cúmplice, não se lhe está a faltar ao respeito. Desde logo porque não é a memória do falecido que se ataca, mas a tacanhez, a ignorância ou a pura estupidez de muitos dos que ficam e que hoje o flanquearam em marcha.
FMS
(A Grande Fome na Ucrânia - Imagem pedida de empréstimo à Mão Inisível)
Para mais informações, contactar o Sr. Robert Conquest.«The peasants remaining in the villages were now
subjected to demands for amounts of grain which they were unable to produce. In 1932 and 1933, the Ukraine, the North Caucasus, and the Lower Volga
suffered a terrible famine. There was enough grain, but it was taken
away to the last kilogram. As recent Soviet accounts put it, 'this
famine was organized by Stalin quite consciously and according to the
plan.'
(...)
The main weight of the assault was against the Ukraine,
and the (then) Ukrainian-speaking areas of the Kuban, in the North Caucasus. It
was combined with a devastating attack on the Ukrainian intelligentsia and the
Ukrainian Party itself. In fact, the campaign may be said to resemble the
'laying waste' of hostile subject territories practiced by Jenghiz Khan and
other figures of the past.
(...)
But is was not until 1988 that, on this as on other
aspects of Stalinism, full accounting of the impact, the method, and the motives
appeared in Soviet publications. The deaths in the terror-famine cannot
have been lower than 6 to 7 million. The death toll among the peasantry over the
whole period 1930 to 1933 is given in the recent Soviet literature as around 10
million---higher than the dead of all the belligerents put together in the First
World War. That is, it was all on a scale as large as that of the subsequent
"Great Terror."(...)
One high official told a Ukrainian who later
defected that the 1933 harvest 'was a test of our strength and their endurance.
It took a famine to show them who is master here. It has cost millions of lives,
but the collective farm system is here to stay. We have won the war, 'In fact,
we find that mass terror was now already in existence in the countryside, and
thousands of police and Party officials has received the most ruthless
operational experience."»
FMS
Quero pedir perdão ao JPH do Glória Fácil por não ter mexido uma palha para acabar com a ditadura. Bem sei que era difícil atendendo a que só nasci em Junho de 1975 mas ainda assim...
Também não combati (pelo menos que me lembre) o caminho totalitário tentado por Cunhal. Pronto, confesso. Aqui é imperdoável porque já tinha uns mesitos valentes ali por alturas do 25 de Novembro e devia ter-me chegado à frente mas, segundo consta, andava borradinho de medo (como é óbvio!).
Peço desculpa também por me ter alimentado javardamente do orçamento de Estado no tempo da outra Senhora (apesar de ainda estar à espera “do meu”), por me ter escondido atrás do Soares (um dos momentos mais felizes da minha vida) e, afinal, por ter andado todo este tempo a querer fazer o JPH e outros impolutos (e únicos, e únicos!!!) paladinos da liberdade e da democracia passarem por parvos. Isto das manias herdadas da ascendência é uma gaita para a gente se livrar. É genético é o que é.
FA
O clássico debate que a RTP Memória transmite neste momento é o ponto mais alto da carreira política de Mário Soares. Pela substância do discurso moderado e ocidental mas, essencialmente, pelo estilo. Por muitos escritos que deixe, por muitos discursos que os manuais celebrem, a minha posteridade lembrará sempre, acima de tudo, aquele olhar condescendente e divertido, aquela pose complacente, paternalista, quase aristocrática e absolutamente snob que Soares utilizava enquanto Cunhal se espraiava em dogmatismos há muito apodrecidos.
Claro que a gravata de malha de seda também ajudou. Não substimemos nunca o élan proporcionado pelo traje apropriado.
FMS
terça-feira, junho 14, 2005
«Jorge Sampaio manifestou-se ainda convicto de que "há continuadores no PCP" capazes de prosseguir o legado do ex-líder».
Disso não há dúvidas:
«O 50º aniversário da morte de Estaline (05.03.1953) foi comemorado sem indiferença e com respeito na antiga URSS, mas noutros países com o habitual «grande espectáculo» que os «media» ocidentais costumam dedicar a todos os acontecimentos em que Estaline se distingue. Uma vez mais, vieram à baila os muitos milhões que teria mandado executar e, enfim, toda uma série de horrores a que a História, a verdadeira, não consente aval. O nome do escritor Alexandr Solzhenitsyn oferece constante fonte de apoio a todos os especuladores na matéria. A sua afirmação de que os «excessos» de Estaline teriam conduzido milhões de pessoas à morte, serve-lhes às mil maravilhas. Mas parece que as coisas não foram bem assim...»
FMS
Da mesma forma que Álvaro Cunhal cedo percebeu que a queda do regime salazarista se daria através de um golpe militar e na sequência do desgaste provocado pela guerra colonial (e trabalhou nesse sentido), os comunistas que sobram procuram descobrir por onde cairá o regime capitalista (e trabalham nesse sentido). É que, ao contrário do que Marx preconizou e já lá vão mais de 150 anos, parece que sozinho a coisa não vai lá.
FA
Antes das mortes de Gonçalves, Cunhal e Eugénio, o fim-de-semana andava comovido com as declarações de Alberto João Jardim. É pena. Jardim é um dos poucos exemplos de civilidade de que Portugal se pode orgulhar, em tudo o que de individualismo e liberdade essa civilidade é irredutível.
E de literário também. Jardim é o nosso senhor feudal tropical, o nosso monarca exótico, a nossa personagem greeneana, de fato de linho e panamá, fumando charuto e bebendo mojitos.
E - porque não? - olhando-nos à distância da Madeira, essa Cuba pré-castrista, a voz da nossa consciência. Só nos últimos dias, com a chegada da actual torrente de inveja institucionalizada pelos media e pela esquerda radical ao Presidente da República e à sua pensão de reforma extra-estatal, perceberam algumas luminárias que a razão mora na Madeira. Existem jornalistas que são, de facto, "filhos da puta" (em todas as profissões os há). E ao chamá-los de "filhos da puta", ao contrário do que por aí de diz, Jardim estava a ser impolutamente democrático. Jardim não prende jornalistas, não os persegue, não os tortura, não lhes pontapeia os tomates, não lhes faz cócegas nos sovacos. Não pode e - acredito - não quer. Por isso, a única forma de defender em tempo útil a própria honra (valor que também tem lugar em democracia) é chamar os profissionais da inveja que por aí pululam de "filhos da puta". Sempre com aspas, que as respectivas mãezinhas não têm culpa alguma da vida de parasitas que o meninos quiseram para si.
Eu gosto de Jardim. Ele é o meu homem em Havana.
FMS
Cunhal não foi apenas um adversário em democracia. Foi também, e principalmente, um adversário da democracia, defensor de algumas das mais repugnantes formas de organização da vida em sociedade. Todo o democrata provido dessa qualidade intemporal que é a vergonha na cara, amante da liberdade de expressão, de criação e de associação, ignorará o luto nacional decretado pelo governo e deixará a dor e a sua demonstração para os muitos com razões privadas - de amor, amizade e camaradagem - para tal.
FMS
segunda-feira, junho 13, 2005
É natural e reconfortante para a nossa memória colectiva elogiar figuras marcantes da história na hora da sua morte esquecendo, discreta e convenientemente, os erros cometidos durante a sua vida.
Vem isto a propósito das mortes de Vasco Gonçalves e de Álvaro Cunhal e de todo um processo de “closure”, como lhe chamam os ingleses, que é natural que se lhes siga. Um compasso de espera. Um virar de página. A consciencialização última de que afinal a revolução não segue dentro de momentos.
Não concordando com quase nada (e o quase tem muita razão de ser) do que tais figuras representaram e defenderam, calamo-nos. Respeitosamente. Sabemos, no entanto, que a coerência política não justifica tudo. Não justifica aliás quase nada.
FA
sexta-feira, junho 10, 2005
O Acidental foi tomado de assalto. Invadido à má fila por um grupo de penetras sem sentido estético (basta ver o que fizeram ao template).
Os arquivos estão a salvo. O livro está publicado. A luta continua.
Imperialistas
quinta-feira, junho 09, 2005
JV
"[O] segredo do charme de Oscar Wilde é que ele era um homem bom escrevendo como se fosse um homem mau. A maior parte das pessoas são pessoas más escrevendo como se fossem pessoas boas."
His Lordship
FMS
quarta-feira, junho 08, 2005
Por solicitação, em tempo devido, de Miss Still.
1. Não podendo sair do Fahrenheit 451, que livro quererias ser?
Neste preciso momento, por razões estritamente profissionais, o tratado de direito fscal internacional de um tal de K. Vogel.
2. Já alguma vez ficaste apanhado por um personagem de ficção?
Claro. Sebastian Flyte.
3. Qual foi o último livro que compraste?
"Os Americanos", do Mencken; "Status Anxiety", de Allain de Botton.
4. Qual o último que leste?
"In Praise of Nepotism", de Adam Bellow (absolutamente fabuloso); "Socialism, Politicians and Historians", de A.J.P. Taylor; desisti a meio da Constituição Europeia (por força das circunstâncias).
5. Que livros estás a ler?
"England, England", de Julian Barnes; "Conversaciones Sobre la Derecha", de Tom Burns Marañón; "Letters to a Young Contrarian", de Christopher Hitchens; "The Man Who Was Vogue - The Life and Times of Condé Nast", de Caroline Seebhorn; e, claro, "O Acidental", da malta.
6. Que 5 livros levarias para uma ilha deserta?
Um qualquer manual de construção de canoas.
7. A que 3 pessoas vais passar este testemunho?
É tarde de mais para isso.
FMS
O RAF escreveu um bom post sobre o processo de construção europeia. Algo lírico em algumas partes mas essencialmente acertado no que concerne ao perigo que representam para a Europa “os Povos envelhecidos, que perderam a ambição de ir mais longe. Os Povos que vivem com ansiedade e medo do futuro. Que receiam a concorrência. Que não se sentem confortáveis na diferença étnica e cultural. Que não são capazes de assumir desafios. Que acreditam que, fechando os olhos, poderão sentir o conforto e o consolo no regaço do Estado, esse «Pai Tirano» que pensam que os tutela e protege.” Nem mais.
Dito isto cumpre discordar no essencial já que é um erro pensar que foram só esses “povos” a votar não à Constituição Europeia. O problema, na minha óptica, é que o próprio Tratado Constitucional é ele mesmo uma “Torre de Babel” – a construção desenfreada de um edifício (neste caso jurídico-político) que corre o risco de se desmoronar porque lhe falta a essência (divina?) do suporte cívico. Os Babilónios esqueceram-se de Deus. Os europeístas esqueceram-se dos Europeus.
FA
segunda-feira, junho 06, 2005
Custava-lhe cumprir com todos os rituais do Católico praticante. Decidiu ser ateu e acreditar que não acreditava em Deus.
FMS
[post costassantiano e eduardiano na forma, com substância inspirada no Eduardo (un autre, un autre)]
quinta-feira, junho 02, 2005
“Acho bom que o estado seja pequenininho, basicamente porque o estado é como uma reunião de condomínio particularmente chata que exige sempre a sua participação, e lá vai você descer até o salão de festas do prédio, de calça de ginástica e barba por fazer, e cara de drogado porque dormiu o dia inteiro, tendo que dizer apalermado boa-noite para as pessoas mais bestas do quarteirão. Sim, eis o estado, uma reunião de condomínio em que os mais chatos dos seus vizinhos se reúnem para discutir coisas como a exploração de manganês ou what-have-you. Então, que seja pequeno e que encha pouco.
Além disso, o estado tem a tendência a crescer; você dá um direito qualquer à besta cretina do seu síndico e no dia seguinte ele está gritando em alemão, dizendo que Hitler fez muita coisa certa e entrando na sua casa para confiscar a pornografia. O estado tem que saber o lugar dele, que é o de um síndico cretinão do qual todo mundo ri, e nada além disso. Deixar as coisas nas mãos grosseiras da propriedade privada é não ter que descer para muitas reuniões de condomínio: eles resolvem quase tudo, me deixando em paz para ver a segunda temporada da série Columbo comendo chocolate alpino. Amém, brother.”
Amen, Sir.
FA
quarta-feira, junho 01, 2005
Henry II: I want no women in my life.
Princess Alais: You're tired.
Henry II: I could have conquered Europe - all of it - but I had women in my life.
The Lion in Winter
DBH