É URGENTE IR VER
Como bom conservador, sou muito pouco democrático na concessão de atenções. Os amigos primeiro, sempre. De modo que, quando soube que ia dar entrada de
urgência no Maria Matos, tratei de ligar ao
Nuno Costa Santos a perguntar-lhe qual o seu texto. E, já agora, qual o do
Pedro Mexia.
O penúltimo e o último, respondeu-me, mas não devia preocupar-me porque o folheto distribuído à entrada tratava de me informar sobre o assunto. O que, de facto, era verdade. E o que, em rigor, era uma redundância. Quer o monólogo do Nuno, quer o diálogo do Pedro, são a expressão ostensiva dos seus autores.
O primeiro é a coisa mais deliciosamente reaccionária que ouvi nos últimos tempos. Não reaccionária no sentido que os espíritos menores dão à palavra, não no sentido político, mas no sentido temperamental, de quem anseia por uma vida absolutamente apolítica, dedicada aos pequenos prazeres que dão sentido à existência, sem ter que acompanhar a agenda tirana dos media, saber-lhe os nomes e os sítios, os vilões e os heróis, sem ter de ler o que por aí se diz daquele disco, daquele livro, sem ter que manter as conversas do costume nos cafés do costume. E voltar. Aos conselhos do pai, às histórias do avô, aos Açores (ele não diz, mas eu sei). Todo o monógo é, enfim, a crónica de um regresso desejado, que, no fundo, se sabe impossível.
O diálogo do Pedro transpira Morrissey, nas circunstâncias (há um
namorado em coma) e na forma como a tragédia e a comédia se equivalem em proporção. E, Pedro, diz lá: aquele
"Palavras tão pesadas lançadas como se fossem leves" na boca do Marco d'Almeida, na tua cabeça é
"Heavy words are so lightly thrown", não é?
FMS